Custos menores e baterias mais potentes impulsionam energia solar

Veja o desempenho do setor na microrregião dos Campos das Vertentes, com sede em São João del-Rei


Economia

José Venâncio de Resende0

fotoMarcelo Paiva, da EFL, instalando paineis de energia solar fotovoltaica.

Texto atualizado em 12/03/2021.

A queda nos custos dos equipamentos e os avanços tecnológicos das baterias que armazenam energia devem ditar os rumos das energias renováveis (como solar e eólica) nos próximos anos. E o Estado de Minas Gerais está bem situado neste setor para ampliar o seu mercado.

Em 40 anos, o preço da célula fotovoltaica, que compõe as placas que convertem energia solar em energia elétrica, despencou, de acordo com o analista econômico Celso Ming (O Estado de S. Paulo, 06/02/2021). “Foi o fator que ajudou a reduzir os custos dos investimentos e despertou grande interesse dos consumidores pela utilização desse tipo de energia.”

Em 2020, a capacidade de geração de energia solar (limpa e renovável) aumentou 64% em comparação com 2019, chegando a 7,6 gigawatts de potência operacional, diz a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Esse aumento foi mais expressivo no segmento da geração distribuída, que atende o consumidor residencial majoritariamente (73% dos sistemas instalados) e onde operam grande parte dos negócios de pequeno e médio portes (O Estado de S. Paulo, 27/02/2021).

A esta altura, o Brasil já ultrapassou 500 mil unidades consumidoras de sistemas instalados em telhados, fachadas de edifícios ou pequenos terrenos. Mais de 70% estão instalados em residências, diz Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). Para atender estas milhares de unidades,  foram instalados cerca de 400 mil sistemas solares, investimento estimado em R$ 23,1 bilhões (O Estado de S. Paulo, 12/02/2021).

Minas Gerais é o Estado com maior concentração de potência instalada em geração distribuída (sistemas instalados). O tempo de retorno do investimento varia entre três e quatro anos nos sistemas residenciais, comparado com cidades verticalizadas (caso de São Paulo) onde o prazo é maior (quatro a cinco anos), diz Fernando Costa, presidente do Grupo G5 Solar, entidade criada para fomentar este mercado.

Baterias

Um dos fatores limitantes do crescimento do setor está sendo superado. O avanço tecnológico está permitindo que as baterias armazenem quantidades cada vez maiores de energia, contribuindo para que os sistemas de rede de larga escala registrem um crescimento recorde (BBC News, 23/02/2021).

Baterias de grande porte vão surgindo, para armazenar o excesso de energia produzido pelos painéis solares e parques eólicos - abastecendo de volta a rede quando eles não estão gerando energia – como ocorre na Califórnia (EUA). “A Califórnia é atualmente líder global no esforço para compensar a intermitência da energia renovável em redes elétricas com baterias de armazenamento em larga escala, mas o resto do mundo está seguindo seu exemplo.” 

A boa notícia é que os custos das baterias de armazenamento em larga escala estão caindo; nos EUA, por exemplo, despencaram quase 70% entre 2015 e 2018. Resta saber em que velocidade isto continuará a acontecer. O armazenamento de energia é, na verdade, a real ponte para um futuro com energia limpa, diz Bernadette Del Chiaro, diretora-executiva da California Solar and Storage Association. 

Carros elétricos 

Um segmento que está em evolução galopante é o de carros elétricos porque os fabricantes estão buscando alternativas menos poluentes, como veículos 100% elétricos, híbridos plug-in e microhíbridos, segundo o site viaverde.pt. A preocupação com a autonomia, que leva a grandes hesitações de quem quer comprar um carro elétrico, parece que está ficando no passado. 

Mais do que evolução, parece que há uma revolução no setor de carros elétricos, tanto na oferta de veículos compactos e familiares quanto na sua autonomia. Há exemplos de carros 100% elétricos como o BMW i3, com 130 a 180 km de autonomia, e o Nissan Leaf, com mais de 300 km. Alguns modelos da Tesla já apresentam autonomia superior a 1000 km num único carregamento. “Com a autonomia atual dos novos modelos elétricos a rondar já os 300 km com um único carregamento, esta limitação é praticamente a mesma do que num veículo convencional, em que também tem que parar para abastecer”, acrescenta o site Via Verde

O Brasil poderá ter carros elétricos nacionais por meio da montadora Bravo Motor Company, quase cinco décadas depois do projeto do Itaipu E150, do engenheiro João Augusto Amaral Gurgel - o pequenino hatch de carroceria trapezoidal que carregava consigo 13 baterias que produziam só 4,2 cv de potência (Jornal do Carro de O Estado de S. Paulo, 09/03/2021). A empresa argentina vai investir cerca de R$ 25 bilhões, a partir de junho desde ano, na construção de uma fábrica de veículos elétricos na região metropolitana de Belo Horizonte. O termo de intenção já foi assinado com o governo de Minas Gerais. O montante, cerca de 80% dos recursos por investidores estrangeiros, será aplicado até 2029, prevendo outra fábrica para produzir baterias.

Região das Vertentes

A chegada do carro elétrico deve contribuir muito para aquecer este setor; este será um impulso fundamental, prevê José Alberto Pinto Freitas, um dos proprietários da EFL Energia Força e Luz, empresa com sede em Resende Costa e integradora da Loja Elétrica de Belo Horizonte. 

A EFL Energia Força e Luz, que atua neste segmento do mercado desde 2011, já instalou 74 sistemas de energia solar em 18 municípios da região dos Campos das Vertentes. Desse total, 36% foram instalados na zona rural leiteira; 28% na área urbana residencial; 24% em postos de gasolinas, pequenas indústrias, fábrica de queijos e laticinios em geral e padarias; e 12% em sistemas de irrigação, bombeamentos de água e sistemas Off Grid (autônomos ou não conectados à rede elétrica). Segundo José Alberto, o crescimento do setor na região deu-se a partir de 2014/2015, e essa tendência continuou forte em 2020. 

De fato, nem mesmo a pandemia impediu esta expansão, confirma a engenheira de energia Priscilla Azevedo, da JRL Solarmig, empresa especializada em energia solar fotovoltaica. O número de sistemas de geração fotovoltaica instalados saltou de 50 (em 2018) para 350 atualmente. Isto significa o atendimento de mais de 400 unidades consumidoras, incluindo residências, estabelecimentos comerciais, industriais, rurais e agronegócio. “É a empresa da região com o maior número de geradores verificados e melhor avaliada pelo Portal Solar, possuindo equipe técnica especializada para atendimento para todos os setores”, assegura.

Os aumentos da tarifa de energia e o potencial solar elevado, assim como as facilidades de financiamento e pagamento, fazem com que os números aumentem a cada ano, constata Priscilla. “A empresa está se estruturando e se planejando para um crescimento ainda maior em 2021, com a contratação de novos colaboradores e capacitação da equipe.” 

Quem também espera um ano de 2021 promissor é a Impacto Engenharia, de acordo com Paulo Henrique DAssunção, responsável técnico por Projetos Fotovoltaicos. O ritmo dos trabalhos está ótimo, “e consideramos que, apesar da pandemia estar em pior situação, hoje não há tanto receio em investimento como no ano passado”.

No final de 2019, o potencial energético instalado pela empresa ao longo dos anos representou 34% do total de geração. A expectativa era de um 2020 melhor, mas a pandemia do novo coronavírus fez com que o desempenho fosse pior do que o do ano anterior, “e que ainda assim representa o segundo melhor ano de potência instalada, com 27% do total da geração”.

O potencial de geração de energia passou de 16,74 kWp (2015) para 360,15 kWp (em 2019), com queda para 288,56 kWp (em 2020). O total instalado, de 1,054 MWp (até março de 2021), permite uma geração média mensal de 134.069 kWh injetados na rede de distribuição elétrica, “o que representa uma estimativa de abastecimento de 536 residências de três quartos ou famílias de até cinco pessoas”, diz Paulo Henrique. Em 2021, já foram instalados sete novos empreendimentos e aguarda-se mais seis até o final de abril; “a estimativa é que este ano supere 2019 como o de maior potência de geração instalada”.

O ano em que começou a pandemia mundial foi “de muito aprendizado e de bom trabalho”, revelou o engenheiro eletricista Bruno Xavier, diretor da Impacto Engenharia. O pior desempenho em 2020 deveu-se a dois fatores: a pandemia, que deixou os investidores mais cautelosos, e dois grandes empreendimentos, que contribuíram para o resultado “excelente” de 2019, concluiu Paulo Henrique. 

 

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