Em meio ao aumento de casos de Covid-19, aglomerações em locais públicos são registradas em Resende Costa

Poder público fechou praças e avenidas, nos finais de semana, para tentar conter comportamento deplorável de parte da população


Vanuza Resende


Rua Gonçalves Pinto, centro de Resende Costa, fechada com gradil em noite de sábado (foto redes sociais)

O Brasil enfrenta uma segunda onda de infecções pela Covid-19, com os piores dados registrados na pandemia desde o seu início. O último mês de março já havia sido considerado o pior mês da pandemia e foi ultrapassado pelo mês de abril, com recordes de mortes registrados no país. Situação que se espalhou de Norte a Sul e se agravou pela falta de leitos de UTI. A situação levou o estado de Minas Gerais a criar uma fase ainda mais restritiva: a Onda Roxa do Programa Minas Consciente.

A macrorregião Centro-Sul, da qual Resende Costa faz parte, ficou cerca de 50 dias na Onda Roxa, seguindo medidas mais rígidas. No entanto, no dia 24 de abril, foi concedida a permissão para o avanço à Onda Vermelha. O prefeito municipal Zinho Gouvea, em entrevista à Rádio Inconfidentes no dia 05 de maio, falou sobre a decisão do estado. “Quando nós aderimos à Onda Roxa, estávamos em uma situação confortável, com poucos casos na cidade, mas fomos obrigados a seguir as regras do estado (Programa Minas Consciente). No entanto, quando fomos autorizados a avançar novamente para a Onda Vermelha, o município estava em uma situação ainda mais complicada, talvez o momento mais difícil enfrentado pela cidade. Acreditamos que, durante o período que passamos na Onda Roxa, a população tinha entendido a gravidade da doença, mas não. E nos dois finais de semana seguintes, mesmo com toda a fiscalização, não foi possível controlar aglomerações.”

O prefeito pediu a colaboração da população para uma retomada segura e eficiente da economia. “Essa Onda Vermelha é uma forma de dar uma aliviada na economia da cidade, que eu sei que está prejudicada. Mas, com a realização de aglomerações, isso prejudica toda a cidade”.  O vice-prefeito Lucas Paulo também comentou sobre a classificação do município para a Onda Roxa. “Fomos direto da Onda Amarela para a Roxa. Até nos assustamos com a decisão, que foi para todo o estado. Porém, mesmo com a Onda Roxa, com tudo fechado, com toque de recolher, os casos foram aumentando significativamente. Um dia antes da Onda Roxa, estávamos com 198 casos confirmados e 197 casos já haviam sido concluídos, ou seja, só um caso ativo. Quando saímos da Onda Roxa, com o comércio fechado, Resende Costa passou a ter 250 casos confirmados, com 213 casos concluídos e ainda um óbito registrado. E, mesmo assim, fomos autorizados a ir para a Onda Vermelha, no momento em que precisávamos estar na Roxa. Nós ficamos perdidos com esses protocolos estaduais.”

Lucas chamou atenção para o fato de que o estado autoriza apenas mais restrições para o município. Ou seja, caso optasse, o município poderia ficar na Onda Roxa, mesmo com autorização de acesso à Onda Vermelha. No entanto, de acordo com o vice-prefeito, isso será um prejuízo para os comerciantes, que não podem carregar nos ombros a responsabilidade do aumento de casos. “A gente volta para a Onda Roxa por conta própria, mas estaríamos sacrificando o comércio, que a meu ver não é o culpado por esses altos números. O comércio foi fechado, no entanto aumentam as festas em sítios, fazendas, as viagens. E isso é mais perigoso do que o comércio aberto.”

 

Aglomerações em espaços públicos

Nos fins de semana dos dias 24 e 25 de abril e dos dias 1º e 2 de maio, foram registrados várias pontos de aglomeração na cidade. Circularam pelas redes sociais vários vídeos e imagens da Rua Gonçalves Pinto, a tradicional Avenida, com um intenso movimento, além de grande movimentação no Mirante das Lajes. O prefeito comentou sobre a situação. “Recebemos as fotos e os registros dos finais de semana. Ficamos perplexos com o comportamento da população nos finais de semana. De imediato, entramos em contato com a equipe de apoio para saber sobre a situação e fomos surpreendidos com as informações de que não foi possível atuar mediante tanta aglomeração.”

O vice-prefeito classificou as aglomerações como atos irresponsáveis. “Eu conversei com o fiscal de posturas e ele me disse: ‘Orientávamos um grupo de cinco pessoas, chegava um de 10. Algumas pessoas riam da nossa cara’. Eu sei que a população está ansiosa, mas fazer aglomerações como as que foram feitas é muita irresponsabilidade. Peço aos responsáveis que orientem os seus filhos. Se segurar um filho é difícil, imagine 200 filhos”, diz Lucas Paulo.

Após os episódios registrados nos fins de semana, o poder público se reuniu com a Polícia Militar a fim de tomar algumas atitudes. “Dentre as medidas tomadas, todos os donos de bares e estabelecimentos com funcionamento para o público, independentemente do horário de funcionamento, vão precisar informar quantas mesas o estabelecimento possui e a sua capacidade de receber todas as pessoas sentadas. Em caso de descumprimento das normas, os locais serão interditados. Além do uso obrigatório de máscaras ao circular no ambiente”, esclareceu o prefeito Zinho Gouvea. Outra ação tomada pela administração municipal foi fechar locais públicos que vêm recebendo aglomerações, como as Lajes de Cima e a rua Gonçalves Pinto, com grades de contenção, os gradis. Também foi intensificado o efetivo da Polícia Militar e equipes de apoio.

 

Conscientização e hábitos de higiene

Neste momento, ressaltar a eficácia das medidas de prevenção ao vírus ganha relevância. Um estudo produzido por pesquisadores da UFRGS, UFPel, UFSCPA e Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre concluiu que o uso de máscaras reduz em 87% a chance de infecção por SARS-CoV-2. O estudo também mostra que as pessoas que aderem de forma moderada a intensa ao distanciamento social têm entre 59% e 75% menos chances de contrair o vírus. Higienizar compras, tirar os calçados antes de entrar em casa, separar as roupas para lazer e para o trabalho e tantos outros hábitos desenvolvidos durante a quarentena também têm eficácia. Está cientificamente comprovado que o vírus fica na superfície de objetos e por isso é importante termos esses cuidados a mais.

“A gente queria que todos usassem a máscara por conta própria, sem precisar exigir. A população precisa entender que até a vacinação ser concluída em grande parte da sociedade, vamos precisar adiar as visitas, além de compreendermos a (gravidade da) situação e fazermos a nossa parte. Porque o poder público não consegue sozinho”, comentou o prefeito de Resende Costa.

Além da eficácia das medidas de higiene, o vice-prefeito Lucas Paulo destacou a importância das pessoas que são diagnosticadas com a doença cumprirem a quarentena. “Estamos com mais casos ativos do que durante todo o período de quarentena. Tem pessoas que estão em situação mais confortável em isolamento domiciliar, outras em leitos clínicos em Resende Costa e casos em leitos de UTI em São João del-Rei e Conselheiro Lafaiete. E com mais casos ativos, as chances de transmissão também são maiores. Por isso os cuidados devem ser redobrados. Outra situação é a de que temos registros de pessoas que não respeitam o período necessário de isolamento. E isso é muito preocupante, pois os casos são reflexos de atitudes da população. Nós vamos tomar atitudes em relação isso.”

Até o fechamento dessa reportagem, no dia 10 de maio, Resende Costa registrava 322 casos de Covid-19, sendo que 7 pacientes evoluíram a óbito por complicações da doença e 276 pessoas já haviam se recuperado e foram liberadas para retornarem à rotina.

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