Equipe “Trem Ki Voa” da UFSJ brilha no Aerodesign de 2012


Ciência e Tecnologia

Renato Ruas Pinto*0

Avião da equipe Trem Ki Voa mostrando que voa mesmo. (foto - Pedro Esteban)

São José dos Campos, SP, torna-se anualmente a semente do futuro da aeronáutica brasileira. Em novembro, foi palco da competição Aerodesign, organizada pela seção brasileira da Society of Automotive Engineers (SAE). A cidade já é conhecida como a capital aeronáutica do Brasil, por ser sede da Embraer e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) da Aeronáutica, que é, aliás, o responsável pelo nascimento daquela empresa, que hoje leva o nome do Brasil mundo afora com seus aviões civis e militares.

O objetivo da competição, aberta para estudantes universitários, é projetar e fazer voar uma aeronave radiocontrolada com a maior carga possível e atendendo a diversas restrições – dimensões da aeronave e motorização padrão, entre outras – que exigem das equipes um trabalho de engenharia aeronáutica de ponta. Assim, vai-se difundindo essa ciência em faculdades de todo o Brasil e Américas (nesse ano participaram equipes do México, Venezuela e Canadá). A competição é dividida em três categorias: a Regular, considerada a principal e mais disputada; a Micro, que valoriza aeronaves pequenas e a Advanced, que permite aeronaves maiores e com vários motores.

Além do desempenho em voo, também é avaliada a qualidade do projeto de engenharia em dois momentos: no relatório técnico, que precisa demonstrar a qualidade da pesquisa e aplicação das principais disciplinas aeronáuticas – aerodinâmica, estabilidade e controle, desempenho e análise estrutural – e na precisão da estimativa de carga para a temperatura e densidade do ar no momento do voo. Não basta carregar peso: é importante prever o quanto a aeronave é capaz de levantar.

Outras bonificações premiam os melhores projetos, tal como a eficiência estrutural (relação entre o peso da carga levantada e o peso vazio da aeronave). Assim, os estudantes são motivados a buscar soluções criativas para projetar aeronaves de alto desempenho. A campeã da categoria Regular, a Uai-Sô-Fly da UFMG, conseguiu levantar uma carga de 14 kg com uma aeronave cujo peso vazio era somente de 2,3 kg, ou seja, mais de seis vezes o próprio peso. Para se ter uma ideia do que isso representa, o consagrado cargueiro militar C-130 Hércules consegue levar apenas 60% do seu peso vazio.

A competição existe desde 1986 nos Estados Unidos e foi introduzida no Brasil em 1999 por voluntários da Embraer ligados à SAE BRASIL. Digno de nota é o trabalho dos voluntários responsáveis pela organização e condução da prova. Eles são em sua maioria engenheiros da Embraer – entre eles vários que competiram quando estudantes - e se empenham desde antes da prova na preparação do regulamento e na avaliação dos relatórios técnicos. No primeiro dia de competição acontecem as apresentações orais e os juízes avaliam o conhecimento e capacidade de comunicação das equipes. Nos três dias que se seguem acontecem as provas de voo, quando as aeronaves são levadas ao limite. Nessa fase os voluntários garantem a segurança dos voos através de inspeções das aeronaves e fiscalização do cumprimento das regras.

E não é pouco trabalho: nesse ano a competição teve 98 equipes inscritas (contra 10 em 1999), que disputam quatro vagas na competição internacional, nos Estados Unidos. Qualificam-se os dois primeiros da classe Regular, além dos vencedores da Micro e Advanced. Diga-se de passagem, as equipes brasileiras colecionam várias vitórias e pódios na etapa internacional, mostrando que a nossa aeronáutica deve continuar seguindo um belo caminho.

Uma curiosidade final: nesse ano pode-se dizer que a competição teve um forte sotaque mineiro. Entre as cinco primeiras equipes da classe Regular havia quatro mineiras: duas da UFMG, uma do CEFET-MG e uma da Federal de Itajubá. Honrando o nosso Campo das Vertentes, a equipe “Trem Ki Voa” da UFSJ, fez bonito com seus projetos e ficou em 2º lugar na classe Micro e 8º na Regular (entre 73 equipes inscritas).Nesta categoria, sua aeronave que pesava 2,8 kg carregou um peso de 10,3 kg.

Veteranos na competição (estreou em 2001 com a equipe “Coiote”), os engenheirandos da UFSJ colecionam bons resultados como o 6º lugar em 2010 e a menção honrosa de maior carga levantada naquele ano.
 
Para quem gosta de aeronáutica, não deixe de visitar o site da competição:
http://www.saebrasil.org.br/eventos/programas_estudantis/aero2012/Default.aspx
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*Engenheiro aeronáutico (Embraer) e voluntário na comissão de avaliação da competição Aerodesign.

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