Eucaristia celebrada em tempos de pandemia

“A liturgia da Igreja é sempre a mesma, independentemente das circunstâncias”


André Eustáquio


Padre Lucas Alerson, vigário paroquial da Paróquia do Sr. Bom Jesus de Matosinhos e assessor diocesano para liturgia (Foto Fabíola Ribeiro - Pascom)

Desde meados do mês de março, as celebrações das missas nas paróquias da Diocese de São João del-Rei vêm acontecendo sem a presença dos fiéis nas igrejas. O início do isolamento social coincidiu, inclusive, com as tradicionais celebrações da Semana Santa nos municípios da região do Campo das Vertentes.

O JL conversou com o padre Lucas Alerson de Sousa, natural de Resende Costa, e vigário paroquial na Paróquia do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei, sobre as missas transmitidas através dos meios de comunicação. Em novembro de 2019, padre Lucas foi nomeado por dom José Eudes Campos do Nascimento, bispo de São João del-Rei, assessor diocesano para a liturgia.

 

Como é celebrar a eucaristia sem a presença dos fiéis na igreja? É uma experiência inédita para todas as pessoas. Notamos as mudanças na nossa vida cotidiana e essas mesmas mudanças atingem também a nós no ambiente celebrativo. Sabemos que as mudanças nas celebrações não interferem em nada na dignidade do mistério celebrado, mas a ausência dos fiéis nos espaços físicos de nossas igrejas é notada intensamente. Porém, nós cremos, pela nossa identidade de um só povo sacerdotal, que todos os que estão em comunhão conosco através dos meios de comunicação estão presentes e inseridos nos mistérios que celebramos.

 

Como “adequar a liturgia da Igreja para celebrar on-line os sacramentos, entre eles a missa, neste momento de isolamento social? A liturgia da Igreja é sempre a mesma, independentemente das circunstâncias que possam alterar o seu caráter ordinário. Em si ela não muda nada. A dinâmica do rito é a mesma quando se celebra de forma pública ou privativa, como é o caso, agora, em tempos de pandemia. As adaptações e adequações possíveis para esse momento funcionam em uma instância pastoral. Participam presencialmente apenas as pessoas que possuem necessária função junto às celebrações. Na maioria de nossas comunidades, os ministérios que lidam diretamente com a liturgia têm revezado seus ministros para que possam representar presencialmente o restante da assembleia dos fiéis de cada comunidade. Aliás, as escalas são feitas levando em consideração as orientações das autoridades de saúde no que diz respeito às pessoas que estão na área de risco da doença. Isso é válido apenas para a celebração da santa missa. A celebração dos outros sacramentos está suspensa momentaneamente.

 

Os fiéis estão correspondendo positivamente a essa nova e diferente realidade imposta pelo isolamento social? Como tem sido a experiência no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos? Nossa experiência com a comunicação na Paróquia Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos já vem de muitos anos. Temos uma equipe de aproximadamente vinte pessoas que se articulam nas diferentes funções dessa pastoral. Já tínhamos uma presença considerável junto aos meios de comunicação na cidade de São João del-Rei, mas neste tempo aprimoramos ainda mais o nosso trabalho transmitindo, quase que diariamente, as missas e outros momentos de oração para a comunidade paroquial. Por meio de comentários e postagens no perfil oficial de nossa paróquia em redes sociais, percebemos que o retorno em audiência e participação aumentou consideravelmente por conta das atuais condições de isolamento social.

 

A pandemia poderá trazer mudanças na forma com que a Igreja dialoga com os fiéis através da liturgia? Reafirmo que a liturgia em si sofrerá poucas ou quase nenhuma alteração naquilo que nós entendemos como rito celebrativo da Eucaristia. O mistério, o conteúdo, a linguagem e a mensagem transmitida pela celebração permanecerão os mesmos. O que notamos, analisando também a situação de várias outras paróquias e comunidades da nossa Diocese, é que muitos padres e leigos engajados com a comunicação estão se desdobrando para atingirem, por meio de outras formas, as pessoas de suas comunidades paroquiais. Isso é um avanço para a Igreja diante de uma realidade tão desafiadora, mas que ao mesmo tempo é tão promissora. Enquanto Igreja, nós precisávamos de uma presença mais atuante nesse ambiente tão amplo e plural que é a internet.

 

Como o senhor avalia a importância da PASCOM nas dioceses e paróquias, especialmente nesse período de pandemia? A Pastoral da Comunicação surgiu com o avanço das tecnologias midiáticas como resultado da iniciativa da Igreja Católica de se fazer presente e de ser ouvida também nos diversos meios de comunicação. Tal atividade, que se desenvolveu consideravelmente nos últimos anos, atualiza para os nossos tempos a vocação originária da Igreja de ser a comunicadora da verdade do Evangelho de Jesus Cristo. A pandemia e suas consequências no isolamento social têm impulsionado muitas comunidades e paróquias, que não possuíam canais e abertura para essa realidade midiática, a criarem perfis e canais para transmitirem as suas celebrações. Outras, mesmo já com presença nas redes, tinham um trabalho muito discreto e, a partir de então, também se sentiram impulsionadas a desenvolverem um conteúdo católico que pode ir muito além das transmissões das celebrações. Vale uma menção à atuação dessas pessoas que estão diretamente envolvidas nesse trabalho missionário da Igreja em tempos de pandemia. Todas elas têm desempenhado um bonito trabalho junto às plataformas de comunicação e também junto ao nosso povo de forma geral.

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