EXCLUSIVO: Dois brasileiros, no centro dos negócios imobiliários no Caminho de Santiago


Especiais

José Venâncio de Resende0

Fernando e Acacio, sócios, na famosa ponte romana de San Jean.

Nos últimos anos, tem aumentado a procura por negócios, principalmente imobiliários, no Caminho de Santiago, nas suas diferentes versões (Francês, Português, De la Plata, do Norte etc.). Em geral, são pessoas interessadas em conciliar o trabalho com o estilo de vida e a convivência com diversas culturas no Caminho, explica o empresário brasileiro Fernando Braga, sócio da Universe Santiago que é especializada na venda de imóveis específicos para o Caminho de Santiago.

A procura abrange albergues, hoteis, casas rurais (espécie de hotel com quartos privados para peregrinos), restaurantes, bares e, em menor escala, terrenos, além de outros tipos de negócios que começam a se despontar. “Em 2014, o Acácio me procurou e falou de um desses locais; então, eu fui visitor para entender o porque de o imóvel estar à venda”, conta Fernando.

2014 foi o ano em que surgiu a imobiliária, fruto de sociedade entre Fernando – que é corretor profissional (Creci Paraná) há oito anos – e Acacio Augusto Castro da Paz, do Refúgio Acacio & Orietta em Viloria de Rioja (norte de Espanha). “Eu descobri que o motivo da venda não era dinheiro, mas sim o cansaço e a idade avançada”, prossegue Fernando. “São pessoas idosas há muitos anos trabalhando nesses locais.”

A consequência imediata é que estas pessoas, cansadas, não mais conseguem mais prestar os serviços da forma que gostariam de o fazer. Mas Fernando ressalta a dificuldade de negociar com essas pessoas porque em geral isto envolve sentimentos, elas vivem nesses locais há muitos anos.

Outra característica deste negócio é o perfil dos compradores, enfatiza Fernando. “Tomamos a decisão de não simplesmente vender os locais, mas trazer as pessoas que queiram realizar o sonho de ter este estilo de vida. Viver no Caminho de Santiago é um estilo de vida porque você trabalha forte durante sete meses e em cinco meses você prepara a temporada seguinte e pode usufruir esse tempo livre para fazer o que gosta (viajar, por exemplo).”

“Albergue das Artes”

A primeira venda foi especial, daquelas que você nunca esquece, conta Fernando. Ele foi procurado por um casal de venezuelanos, que queria viver no Caminho. “A Piera veio sozinha (o marido Arturo ficou na Venezuela), estava com muito medo porque não sabia o que iria encontrar. Nós nos encontramos na estação de trem de León (na comunidade autônoma de Castilla y León na Espanha) e fomos para o Hospital de Órbigo (30 km de León) visitar o Albergue San Miguel que ela queria comprar.”

Foram três difíceis semanas de negociação até que Piera se tornasse proprietária do albergue, recorda Fernando. “Hoje, o albergue é conhecido em todo o Caminho Francês como o Albergue das Artes, onde o peregrino chega e pode pintar o seu próprio quadro. Existem pinturas fantásticas lá expostas, feitas pelos próprios peregrinos.”

A partir daí, surgiram outros negócios envolvendo brasileiros, latino-americanos, portugueses e de outras origens. Fernando lembra, por exemplo, da Casa Rural San Nicolas, que estava fechada. “Há três anos, um casal de São Paulo - Mara e Xavier – reabriu essa casa que fica em Molina Seca, a 5 km de Ponferrada no Caminho Francês.”

Outro casal brasileiro – Bráulio e Chena – adquiriu, recentemente, o Albergue do Brasil, localizado em Vega de Valcarce, ao pé do Cebreiro (lugar emblemático do Caminho Francês, na Galiza, a mais de 1293 m de altitude).

Este ano, Fernando vendeu um terreno (10 mil m2) em El Acebo (próximo à Cruz de Ferro), no Caminho Francês, para um casal colombiano que deseja montar um albergue de peregrinos e reservar um espaço para criar animais (ovelhas, cavalos etc.).

Mas já houve caso de negócio fracassado no Caminho devido ao perfil do comprador, revela Fernando. Ele foi procurado por uma grande instituição religiosa não católica do Brasil há pouco mais de um ano, interessada em se instalar no Caminho de Santiago. A ideia era comprar 10 albergues para montar uma rede, mas o negócio não foi efetivado.

Diversificação

A diversidade da demanda está levando a Universe Santiago a se tornar uma central de negócios, sem perder o foco no Caminho, segundo Fernando Braga. “As pessoas estão nos procurando para implantar seu negócio no Caminho por causa do nosso conhecimento específico.”

Um exemplo desta diversificação foi o ingresso da empresa no negócio de transporte de mochilas. “A MRW, uma das maiores empresas de transporte da Espanha, nos procurou para atendimento específico no Caminho de Santiago.”

Fernando também foi procurado por uma grande empresa do Brasil para implantar o negócio do sorvete Açaí no Caminho. A empresa, que detém a marca do sorvete na Europa e nos Estados Unidos, deseja instalar 70 pontos de venda.

Recentemente, apareceu uma pessoa do Rio de Janeiro, interessada em adquirir um negócio de “petshop” em cidades maiores do Caminho de Santiago.

Também o Caminho Português está entrando no radar na medida em que ocupa maior espaço na mídia, diz Fernando. “E nós já temos produtos à venda, como um albergue de peregrinos no Porto; um hotel em Ponte de Lima; e uma casa rural (transpasso ou aluguel de negócio).”

Um indicador do crescente interesse por este tipo de negócio é a procura pelo site http://www.universesantiago.com.br/ que, em setembro, recebeu cerca de 15 mil visitas.

LINK RELACIONADO: 

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/acacio-e-o-empreendedorismo-brasileiro-no-caminho-frances-de-santiago-/2269

 

 

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário