Fazenda das Éguas: símbolo da luta pela preservação do patrimônio histórico


Editorial

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O Jornal das Lajes, desde a primeira edição, publicada em abril de 2003, elegeu como uma de suas prioridades editoriais a defesa e a divulgação da cultura em suas diversas manifestações. Essa escolha se materializou em inúmeras reportagens veiculadas nas mais de 200 edições do periódico, ao longo de 17 anos. Esta edição (nº 209) confirma isso. A reportagem de capa destaca a conclusão da primeira etapa da reforma da histórica Fazenda das Éguas, localizada a 22 quilômetros da sede do município de Resende Costa.

Não é a primeira vez que a Fazenda das Éguas aparece como destaque de capa em edição do JL. A luta pela sua restauração nasceu juntamente com o jornal. Quando preparávamos a nossa segunda edição, um assunto veio à tona durante a reunião de pauta realizada no CPP (Centro de Pastoral Paroquial), presidida pelo nosso então diretor e fundador, Denilson M. Daher. O professor e historiador Adriano Aparecido Magalhães nos alertara para um fato de importante relevância para a preservação da história de Resende Costa: a última fazenda remanescente do século 18 no município corria risco iminente de desaparecer, repetindo o que ocorrera décadas atrás com a Fazenda da Lage e a Fazenda dos Campos Gerais, ambas construídas nos idos de 1700.

Da conversa com o professor Adriano Magalhães surgiu uma pauta que ganhou destaque de capa na edição nº 2 do JL, cujo título foi: “Fazenda das Éguas: uma preciosidade histórica de nosso município ameaçada de desaparecer”. O próprio professor Adriano tratou de organizar a nossa visita à fazenda e aceitou escrever um brilhante artigo que ocupou uma página inteira do jornal, revelando a Resende Costa a rica história de uma fazenda erguida em 1747 na região do povoado do Ribeirão de Santo Antônio. Ao mesmo tempo, o artigo denunciava o estado precário em que se encontrava o imóvel. Nascia ali uma causa que o JL assumiu também como sua e que se tornou símbolo da luta pela preservação do patrimônio histórico e cultural no município.

O artigo publicado no JL, em 2003, colaborou para conscientizar a administração municipal acerca da necessidade de promover ações de proteção do patrimônio. A primeira delas foi a reestruturação do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura. Por iniciativa do ex-prefeito Gilberto Pinto, de saudosa memória, o Órgão passou a ser deliberativo, deixando de ser meramente consultivo.

Tratou-se de um primeiro e importante passo para a realização de diversas ações que, nos anos seguintes, balizariam a elaboração de políticas públicas de proteção patrimonial no município. O conselho, já reestruturado, articulou e promoveu eventos profícuos de educação patrimonial destinados aos alunos da rede municipal, além de realizar o tombamento de bens materiais e imateriais, entre eles a própria Fazenda das Éguas, a igreja matriz de Nossa Senhora da Penha de França, o Teatro Municipal e a imagem de Nossa Senhora do Carmo, pertencente à capela dos Campos Gerais, que atualmente se encontra no museu de arte sacra da paróquia. Também por iniciativa do conselho, o artesanato em retalhos, confeccionado em Resende Costa, foi registrado como bem cultural imaterial.

No entanto, o ganho maior de todas essas ações foi, sem dúvida, ter conscientizado a comunidade para a obrigação vital de preservar o seu patrimônio histórico e arquitetônico, já bastante dilapidado devido a sucessivas atitudes irresponsáveis e destruidoras no passado.

Nessa luta, o JL atuou, e vem atuando, como um dos agentes principais. Através de inúmeros editoriais, artigos de opinião e reportagens, cobramos do poder público que olhasse com carinho pela Fazenda das Éguas e, consequentemente, salvasse um rico e importante capítulo da história de Resende Costa. Tantos, concomitantemente, se juntaram a essa causa, em especial o Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura, que, embora renove seus membros a cada dois anos, sempre manteve a reforma da fazenda como prioridade na pauta.

Encerramos este texto transcrevendo um trecho do editorial da edição nº 2 do JL, escrito em maio de 2003: “Nossos agradecimentos a todos que se disponibilizaram para conosco. De modo particular, aos proprietários da Fazenda das Éguas que tão bem acolheram nossa reportagem, despedindo-se de nós com aquele gostoso cafezinho mineiro com biscoito frito servido na bicentenária cozinha; ao professor Adriano Magalhães, que coordenou a visita, e ao professor João Magalhães, que nos levou de carro.”

Dezessete anos se passaram e voltamos à Fazenda das Éguas, desta vez acompanhados por membros do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura, para ver os resultados da primeira etapa das obras. Novamente nos despedimos do casal Romeu Maia e Maria Margarida Maia com a sensação gostosa de dever cumprido e saboreando um delicioso e feito na hora cafezinho mineiro servido na bicentenária cozinha do casarão histórico que, felizmente, não mais corre risco de desaparecer.

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