Sem procissões e sermões nas praças, fiéis acompanham em casa as celebrações da Semana Santa de Resende Costa

As belas e venerandas imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores foram vistas pelos fiéis somente através das telas de celulares


André Eustáquio


fotoCelebração da santa missa na Terça-Feira Santa (Foto: Leticia Resende)

A expectativa dos fiéis para a Semana Santa inicia-se na celebração da Quarta-feira de Cinzas, marco do início do período da quaresma. Sacrifício, recolhimento, silêncio, oração e penitência. É comum ouvir das pessoas, especialmente nas cidades do interior, que “o ar muda durante a quaresma”, ou seja, já se sente a espiritualidade que emana da Semana Santa.

Em Resende Costa, durante as primeiras semanas da quaresma acontecem as vias-sacras e as procissões da penitência em preparação para a grande semana. Tudo corria normalmente no início de março até que surgiram os primeiros decretos fechando o comércio, suspendendo aulas e qualquer evento com público e aglomeração de pessoas. A notícia não era boa para quem estava esperando ansiosamente pela Semana Santa. A pandemia do novo coronavírus chegara também às igrejas. Dioceses tiveram que suspender, por tempo indeterminado, missa com presença dos fiéis nas igrejas, bem como qualquer celebração que gera aglomeração de pessoas. Os decretos municipais e diocesanos deixavam claro que as celebrações externas da Semana Santa de 2020 estavam canceladas.

 

Semana Santa atípica

A Diocese de São João del-Rei determinou, através de decreto assinado por dom José Eudes Campos do Nascimento, que as paróquias realizassem, de forma atípica, os atos internos da Semana Santa. De acordo com as orientações do bispo diocesano, as celebrações deveriam acontecer sem a presença dos fiéis, seguindo rito simplificado e, quando possível, transmitida pelas rádios e redes sociais a fim de que as pessoas pudessem acompanhar os atos litúrgicos estando em casa e cumprindo medidas de isolamento ou de distanciamento social.

Em Resende Costa, todos os ritos e celebrações da Semana Santa, desde o Setenário das Dores, ocorrido de 28 de março a 4 de abril, seguiram as orientações da Diocese de São João. “Seguimos as orientações litúrgicas de nosso bispo diocesano, dom José Eudes Campos do Nascimento, que foram disponibilizadas no site da nossa Diocese de São João del-Rei. Foi uma Semana Santa diferente de todas as outras, mas não menos importante. Muito pelo contrário, vivemos a Semana Santa em nossas casas com a certeza de que o sepulcro está vazio porque Jesus vive conosco. Tenha certeza de que, apesar de não estar na igreja com Jesus, Ele está em sua casa com você e com sua família! ”, diz padre Plínio Almeida, administrador paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França.

Participar da Semana Santa somente através dos meios de comunicação e redes sociais não foi tão fácil, sobretudo para quem espera o ano inteiro poder acompanhar as belas imagens de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores pelas ruas do centro de Resende Costa. Neste ano, porém, a cidade ficou vazia, não saiu nenhuma procissão das igrejas do Rosário e matriz, as praças Mendes de Resende e Cônego Cardoso não viram os fiéis se reunirem piedosamente para ouvir os tocantes sermões do Encontro e do Descendimento da Cruz. Não se ouviu o som triste e opaco das matracas tremer nas mãos dos farricocos e suas roupas pretas; não se ouviu o barulho condenador das lanças dos legionários romanos que guardam o esquife do Senhor Morto; não se contemplou nas portas dos antigos passinhos a lágrima que cai solitária dos olhos tristes da Senhora das Dores quando chora, lacrimosa, a paixão e a morte do seu divino Filho.

Foi uma Semana Santa atípica e triste para muitas pessoas, apesar do convite da Igreja para se vivenciar intensamente esse período, ainda que distante dos templos. “Após uma quaresma atípica e um tanto conturbada, iniciamos a profunda caminhada espiritual da Semana Santa. É um tempo forte de profunda experiência espiritual e deve ser como um tempo de retiro espiritual. Sem dúvida, neste ano, a nossa Semana Santa foi especial, pois este tempo difícil que estamos vivendo nos uniu ainda mais ao sofrimento de Jesus e à sua solidão na dor e, com Ele, ressurgiremos vencedores do mal e da morte. Claro que a minha vontade era de ver a igreja repleta de fiéis, ainda mais ouvindo o apelo de muitos paroquianos que desejavam participar das celebrações. Mas agora é hora de utilizarmos a fé que desenvolvemos durante todos esses anos de participação na comunidade e conseguirmos, mesmo em meio a uma situação atípica, viver tudo que a nossa Igreja nos oferece”, ressalta padre Plínio. O arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, disse durante a homilia da Missa do Domingo de Ramos: “a sua casa agora é a grande igreja. ”

 

Páscoa: momento de renovação da fé e da esperança

Após vivenciarmos a paixão e morte de Jesus, o ponto alto da Semana Santa nos converge para a ressurreição do Cristo, sua vitória triunfal sobre a morte. A Igreja se desfaz do luto impresso na cor e nos paramentos roxos para se vestir do branco, a cor da esperança, da vitória e da alegria.

Neste contexto global de profunda tristeza, de grande medo e de incertezas que assolam toda a humanidade, que a Páscoa renove a paz, a esperança e a alegria no mundo e nos corações de todas as pessoas. “Desejo a cada paroquiano resende-costense uma feliz Páscoa. Desejo que nesse tempo você celebre com grande alegria a ressurreição de nosso Senhor. Mande mensagens para os seus familiares desejando coisas boas e uma boa Páscoa! Faça chamadas de vídeo para matar a saudade dos familiares. Reze, comungue espiritualmente e ame Jesus. Que Deus abençoe a todos! ”, conclui padre Plínio.

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