Filho da pedra revela a literatura escondida nas montanhas de Minas


Notícia

Elaine Martins0

Promovido pela Amirco, o lançamento de Filhos da Pedra reuniu mais de 80 pessoas na noite histórica da Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto.

As montanhas escondem o que é de Minas. A afirmativa do verso do poeta Carlos Drummond de Andrade poderia ser válida para a literatura de outro poeta mineiro, Evaldo Balbino, nascido nas grotas do antigo Arraial da Lage, terra dos inconfidentes Resende Costa, na serra das Vertentes. Só não o é porque, apenas neste ano, o autor do livro de poemas Moinho (Scriptum, 2006), laureado pelo Suplemento Literário de Minas Gerais, deu a luz a dois novos livros, Móbiles de areia (Amirco, 2012) e Filhos da pedra (Nelpa, 2012).

Cumprindo o ritual simbólico de lançar suas obras na sua terra natal, Balbino estreou na prosa com Móbiles de areiaem Resende Costa, em junho e, em Belo Horizonte, em agosto. O livro de crônicas foi matéria de entrevistas concedidas pelo autor a emissoras de rádio (Inconfidência AM, Inconfidentes FM, Unesp), jornais (Agora, Estado de Minas, Hoje em Dia, Gazeta de São João del-Rei, Folha das Vertentes e Jornal das Lajes) e agências de notícias.

O poeta, que vive na capital mineira desde 1995, rompeu as montanhas e lançou Filhos da pedra primeiro na 22.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o maior evento do gênero na América Latina, também em agosto. Galardoado pelo Prêmio Eugênio Coimbra, o livro foi lançado na Biblioteca Municipal de Resende Costa, na noite de 7 de setembro, em um concorrido evento promovido pela Amirco e conduzido pela professora Regina Coelho.

Tendo como fundo o acervo original da biblioteca doado por Antônio Gonçalves Pinto em 1918, o bate-papo literário entre Regina e Evaldo contagiou o público. Maria Moreira homenageou o ex-aluno com a leitura dramatizada da irreverente “Canção do Exílio”, de autoria do poeta. Luzia Resende escolheu outra poesia do livro, “O seduzido”, e Fernando Cunha leu “Ofertório ao filho da pedra”, de sua lavra e inspirado na obra de Balbino. Em Belo Horizonte, a noite de autógrafos ocorreu dia 18, na Livaria Status.

Com as obras recém-lançadas, aliteratura de Evaldo Balbino, antes escondida, vai sendo descoberta, introduzida no montanhoso mapa do mercado literário e ganhando lugar nas estantes de leitores sensíveis. Em Filhos da pedra, por exemplo, esse leitor se depara, já na capa, com a comunhão do passado (herança colonial) com a modernidade (olhar presente), além da pedra, matéria linguística e imageticamente explorada ao longo da obra – mas isto seria assunto para outro texto.

Com mais de 14 prêmios, Evaldo aparece em antologias de poetas conteporâneos e no Catálogo de autores y libros de América Latina (Cerlalc; Unesco, 2008), editado na Espanha. Ele já tem prontos dois livros de poesias e um de contos, traça mais quatro de poemas, termina o que virá a ser o seu primeiro romance e ainda trabalha no segundo, Beraliza à beira da estrada, cujo enredo envolve um assassinato ocorrido além das grotas do Ribeirão de Santo Antônio, no Estivado, tendo como pano de fundo o getulismo. Esse livro possivelmente integrará a nossa Coleção Lageana, de que já faz parte Móbiles de areia. O escritor também negocia em Belo Horizonte a edição dos títulos infantis Cordel do gato sem botas e Carrossel de palavras.

O veio poético desse filho da cidade das lajes parece mostrar o quanto de segredos e preciosidades literárias das montanhas de Minas merece ser garimpado, valorizado, apreciado e compartilhado. Assim, outro verso de Drummond, “Ninguém sabe Minas”, poderá ser reescrito – com a devida licença poética, claro.

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