Grupo de resende-costenses adapta técnica do tapete arraiolo e confecciona produto com retalho

Em tempos de pandemia, a produção do tapete tem sido uma aliada para as artesãs


Vanuza Resende


Alguns encontros do grupo acontecem no Mirante das Lajes. Foto Fernando Chaves

“Bordados com lãs de cores variadas sobre tela de juta ou algodão, têm padrões clássicos e, ao mesmo tempo, inovadores. São peças incríveis, coloridas e primorosas, feitas totalmente à mão com muito cuidado. O segredo é o uso do ponto arraiolo, que foi criado pelas tecelãs há centenas de anos. A técnica existe há mais de 400 anos e vem sendo passada de geração em geração pelas habilidosas bordadeiras”, assim a gestão municipal da Vila Arraiolos, em Portugal, descreve a arte de fazer tapetes arraiolos. O JL poderia usar essa descrição para apresentar ao leitor o grupo que confecciona o tapete em Resende Costa, mas é preciso trocar um detalhe: “bordados com retalhos de cores variadas...”, uma adaptação com a matéria-prima mais abundante do artesanato da cidade: o retalho.

Em 2019, Rosely Antunes teve a ideia de confeccionar um novo tapete em Resende Costa e o material usado na produção seria o mesmo dos produtos carros-chefes do município: o retalho. “Esse tapete é muito parecido com arraiolo, mas é feito com retalho. Na verdade, ele é até melhor porque não precisa engomar e não dá bolinhas. A intenção é vender pelo preço do arraiolo. O retalho acaba sendo mais barato, mas a produção leva tempo e é um trabalho bem demorado”, explica Rosely, que é a professora de um grupo composto de mais seis mulheres. “Chamei algumas meninas e decidimos começar a produzir. O nosso grupo é pequeno, já estávamos começando a expandir, mas a pandemia atrapalhou um pouco. Algumas estavam iniciando e tiveram que parar porque no primeiro momento precisa-se de aulas presenciais”, destaca.

De acordo com Rosely, a intenção é transformar o produto em patrimônio de Resende Costa. “Eu já recusei a proposta do SEBRAE e de um grupo de São Paulo, que queriam estender a produção. A minha intenção é colocá-lo como patrimônio da cidade. Estamos em conversa com os gestores, com a ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa), para que possamos ter um selo de Resende Costa em nossos produtos. Quem sabe com a inauguração do CAT (Centro de Apoio ao Turista) não colocamos esses tapetes em exposição para que mais pessoas possam conhecer e fazer as encomendas? Para firmar que é um produto daqui. Uma alternativa para Resende Costa”, planeja.

 

Um aliado no combate ao estresse e à depressão

“Se não fosse o arraiolo, eu não sei o que eu iria estar fazendo. Por mim, fico desde a hora em que acordo até quando vou dormir, só fazendo o tapete”, essa empolgação é da aposentada Maria Elisabeth Resende, a Beth, uma das integrantes do grupo. Ela e a irmã Gorete Resende participam da confecção dos tapetes desde o início do projeto, em março de 2019. Além da produção artesanal, Beth destaca a união do grupo. “São pessoas muito bacanas. Desde o início, algumas saíram, outras entraram, mas é muito bom. A gente se reúne para as aulas e vamos conversando, brincando, nos divertindo enquanto fazemos o tapete. Somos um grupo muito unido. Quanto falta o retalho para uma, a outra passa... Nós ficamos muito amigas, é um vínculo de muita confiança e de muita amizade.”

Devido à necessidade do isolamento social, durante a pandemia da Covid-19, o grupo não se reúne presencialmente, os encontros acontecem por vídeo conferências. “Estou sentindo muita falta de me encontrar com elas pessoalmente, mas a gente se encontra através de vídeos, nos falamos todos os dias pelo WhatsApp. Eu falo que é uma terapia, me faz bem, faz muito bem. Já aprendi a produzir, mas continuo indo às aulas porque gosto”, conta Beth.

Rosely destaca que a produção dos tapetes está ajudando o grupo a manter a cabeça ocupada durante o período da quarentena. “Temos algumas integrantes no grupo que passam por depressão e problemas de ansiedade. A produção dos tapetes é uma ajuda. Quem está na quarentena agora está de castigo dentro de casa e as meninas estão produzindo que é uma beleza. E elas falam assim: ‘Se não fosse isso, eu não sei o que eu ia estar fazendo’”. Beth reafirma os benefícios mentais advindos da atividade artesanal que o grupo realiza. “Se não fossem esses tapetes, eu já tinha pirado. Tenho tendência à depressão, já fiz tratamento. E produzir esses tapetes é uma delícia, faz bem para a cabeça e para o ego quando a gente vê aquela coisa linda ali pronta.”

 

Tempo de produção e técnica

Para produzir o tapete arraiolo, são usados a juta e o retalho. “São produtos ecológicos. A juta é um material totalmente ecológico, só nasce no Ribeirinho do Amazonas; eu compro pela internet e repasso pelo preço de custo para as meninas. Estamos até estudando uma forma de comprar esse material um pouco mais barato. Porém, mesmo comprando juntas, queremos uma produção independente”, explica Rosely.

Beth destaca que, para confeccionar um tapete mais simples, a média de produção é de cerca de 15 dias. Já a produção dos tapetes trabalhados demora cerca de um mês e meio. “Eu faço a média de um tapete por mês, mas depende do tamanho e das características. Porque a gente compra o retalho, lava, corta... é uma produção demorada. Eu lavo e testo todo o retalho para ter certeza de que não vai manchar. Tudo demanda muito tempo”, explica a artesã. O metro quadrado é vendido por cerca de R$400,00, valor equivalente ao metro do arraiolo.

Rosely explica que as vendas são esporádicas, sob encomendas. “Vendo algumas peças, mas são encomendas específicas. Não gosto de vender, porque não quero que elas saiam daqui, mas recebo algumas encomendas com cor, tamanho e detalhes que o cliente pede”. Beth disse que está finalizando um tapete para quarto de criança. “É o produto mais bonito que estou fazendo. Brinquei com a Rosely, nossa professora, que agora eu quero me especializar em tapetes para crianças. Que coisa mais linda!”, conta.

No momento, o grupo não está acolhendo novos integrantes, uma vez que as aulas presenciais, como foi dito, estão suspensas. No entanto, os interessados em aprender a técnica podem entrar em contato com a Rosely através do telefone: (31) 9 9959-2185. Para cada aula é cobrado um valor simbólico de cinco reais.

Quem faz parte do grupo de artesãs resende-costenses que produzem o tapete arraiolo indica: “É uma terapia em grupo e eu só pago cinco reais! Só a convivência com as outras pessoas e as amizades que a gente fez já valem a pena. Parece que são pessoas que a gente conhece a vida inteira.  Vale muito a pena! E quem já faz trabalho manual vai ter muita facilidade”, conclui Beth Resende.

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