Histórica Capela dos Campos Gerais é alvo de arrombamento

Ladrões levaram a imagem da padroeira, entre outros objetos sacros


Polícia

André Eustáquio0

Capela dos Campos Gerais foi alvo de arrombamento. Foto André Eustáquio.

No dia 21 de janeiro último, o senhor Joaquim Procópio da Costa, zelador da capela dos Campos Gerais a mais de 11 anos, recebeu a notícia de que a capela tinha sinais de arrombamento. A notícia foi dada pelo motorista da Prefeitura Municipal de Resende Costa, Jonas. Assim que soube da notícia, Joaquim se dirigiu ao local, acompanhado de seu filho José Geraldo da Costa.

Quando chegaram ao local, constataram que a porta lateral da capela de Nossa Senhora do Carmo tinha sido arrombada. De acordo com o boletim de ocorrência lavrado pela Polícia Militar, há suspeita de que o autor do arrombamento tenha utilizado um pé de cabra. Imediatamente após entrarem na capela, Joaquim Procópio e José Geraldo deram falta da imagem da padroeira dos Campos Gerais, Nossa Senhora do Carmo, de um cálice e duas jarras de metal e uma coluna de madeira que sustentava a pia batismal. De acordo com José Geraldo, esta coluna era antiga e foi arrancada do chão. Ela ficava na entrada da capela.

A imagem de Nossa Senhora do Carmo mede aproximadamente 60 centímetros e é confeccionada em gesso. Não se trata da imagem original da padroeira dos Campos Gerais. Esta, do século XVIII, é esculpida em madeira e encontra-se no Museu de Arte Sacra da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, juntamente com outras peças sacras que pertenceram à primitiva capela dos Campos Gerais. As peças que hoje estão no museu ficavam na capela até o início dos anos 1990, quando foi criado o Museu de Arte Sacra, pelo então pároco padre João Rodrigues de Paula. A imagem original de Nossa Senhora do Carmo é tombada pelo município.

 

Campos Gerais. A localidade está distante aproximadamente cinco quilômetros de Resende Costa. Apesar de não ser um povoado, como tantos no município, a região dos Campos Gerais constitui um local de grande importância histórica para Resende Costa. Lá residiram os inconfidentes José de Resende Costa (pai e filho) na fazenda que pertenceu ao capitão José de Resende Costa (pai), da qual restam hoje somente as ruínas. As ruínas da fazenda foram tombadas, no segundo semestre de 2015, pelo Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura.

A capela situa-se há poucos metros das ruínas da antiga fazenda. De acordo com José Maria da Conceição Chaves, o Juca Chaves, em sua obra Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual cidade de Resende Costa, a atual capela foi erguida num terreno doado pelo capitão José Pedro de Mendonça, um dos últimos proprietários da Fazenda dos Campos Gerais. Ainda de acordo com Juca Chaves, a capela foi construída durante o paroquiato do padre José Maria Fernandez, pelo senhor Pedro Teodoro de Resende. “Conserva a capela, ciosamente, em louvável repositório das preciosidades históricas, as velhas imagens da ermida (da antiga fazenda), a qual sustém o forro (que não mais existe) que lhe fora moldado com os cuidados requeridos pela preservação dos objetos de cunho tradicional. O forro, de tinta indelével, ostenta, no centro, uma figura de motivo ignorado, rebuscada, talvez, das páginas da Antiga Lei e, dentre as imagens recolhidas ao templo, nota-se uma imagem de Santa Ana, em pequeno tamanho, a qual sugere o pensamento de tê-la possuído, ao seu culto a veneranda consorte do capitão Resende Costa pela razão das devoções próprias aos santos onomásticos”, escreveu Juca Chaves.

A bênção da capela, originada, portanto, da ermida da fazenda do capitão José de Resende Costa, ocorreu no dia 21de abril de 1923. “Ao ato, exibiu-se, em bom formato, um retrato do antigo vigário Joaquim Carlos, o qual fez reviver na lembrança de seus conterrâneos e parentes a ele presentes, com lágrimas de emoção e saudades, a figura do santo sacerdote que na fazenda consumiu toda a sua existência, que fora longa em anos e merecimentos”, registra Juca Chaves em seu livro, publicado em 2014 pela Coleção Lageana/amiRCo.

 

Segurança. Possivelmente, os autores do arrombamento foram até o local sabendo que se trata de uma capela histórica, onde poderiam encontrar peças sacras de importante valor histórico e artístico. Felizmente, as peças originais não se encontram na capela. Porém, o fato desperta a atenção para a capela estar vulnerável a qualquer tipo de agressão, uma vez que não existem moradores próximos. “É complicado porque não mora ninguém lá perto, então é muito difícil a manutenção”, lamenta José Geraldo.

De acordo com José Geraldo, o senhor Joaquim Procópio da Costa, zelador da capela, pertence à oitava geração de José de Resende Costa: “Meu pai é zelador da capela a mais de 11 anos, onde há missa somente uma vez por ano. Ele depende de nós filhos para levá-lo até lá, pois anda muito doente e está muito chateado com esse arrombamento”.

 

Paróquia. De acordo com informações obtidas na secretária da paróquia, existe uma agenda fixa para celebrações na zona rural. Na capela dos Campos Gerais é celebrada somente uma missa por ano, no primeiro domingo de julho, mês em que se comemora Nossa Senhora do Carmo, padroeira dos Campos Gerais. “A paróquia não se mobilizou ante o fato porque as peças de valor artístico e histórico encontram-se recolhidas no museu paroquial. O que foi levado foram peças atuais, de gesso. Sobre a pia batismal, de madeira, não consta nenhuma referência histórica”, esclarece o pároco de Resende Costa, padre Fábio Rômulo Reis.

 

Polícia. A Polícia Militar registrou ocorrência do arrombamento seguido de furto e a encaminhou à Polícia Civil, que já instaurou inquérito policial para investigar e apurar o fato. Os investigadores trabalham com a hipótese de o roubo à capela dos Campos Gerais ter ligação com uma quadrilha que atuava na região de Conselheiro Lafaiete. Três integrantes desta quadrilha, naturais de Dores de Campos, na região do Campo das Vertentes, foram presos em Catas Altas da Noruega, região de Conselheiro Lafaiete, no dia 24 de janeiro último.

 

De acordo com a Polícia Civil, foram encontradas com os suspeitos peças sacras de comunidades rurais pertencentes a Catas Altas e aos municípios de Congonhas e Desterro de Entre Rios. Os investigadores da Polícia Civil de Resende Costa solicitaram, junto à delegacia de Conselheiro Lafaiete, fotografias das peças apreendidas a fim de constatar se os objetos furtados da capela dos Campos Gerais estarem entre elas.

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