Homenagem a Tia Zainha

Professora das coisas do mundo e do coração


Homenagem Especial

Paula da Silva Dias0

fotoPaula e Zainha

Em outubro de 2004, recebi uma grata missão: escrever um texto no Jornal das Lajes sobre a tia Zainha. Ela seria homenageada naquela edição pela profissão que abraçou por toda a vida: professora das coisas do mundo e do coração.

Hoje eu percebo como fui privilegiada por ter tido a oportunidade de poder dizer a ela, mesmo num texto tão singelo e em forma de carta, o quanto ela era importante para a minha formação escolar e pessoal.

E uma das minhas lembranças mais felizes foi justamente causada pela publicação do mencionado texto: tia Zainha foi até a minha casa me dar um abraço e confessou que eu a fizera chorar. “Mas eram lágrimas de felicidade”, ela fez questão de enfatizar.

Que pena que nossas lágrimas hoje não são de felicidade! Elas trazem consigo uma saudade e um vazio imenso para toda uma geração que foi conduzida por suas mãos ao mundo do saber.

Para todos aqueles que a amavam e admiravam sua inesperada partida sempre terá sido prematura, mas tia Zainha estará sempre presente em doces memórias guardadas com muito carinho em seus corações.

E, fazendo parte deste grupo tão grande de admiradores, eu não poderia deixar de republicar as palavras que dirigi a ela há alguns anos atrás e que a emocionaram. Faço do meu texto a voz de muitos que nunca a esquecerão.

 

“Querida tia Zainha,

Ao olhar com bastante atenção para a foto que acompanha esta pequena cartinha, devo dizer que estou surpresa por ter sido um dia tão pequena e a senhora tão grande. E eu me refiro a tamanho, pois na bondade e simpatia a senhora continua sendo e será sempre grande.

Por isso, “grande” condutora das filas de meninos e meninas de shorts e saias vermelhas, todos os seus alunos e eu, hoje falando por eles, jamais poderíamos esquecê-la! E como apagar da memória aquela que nos apresentou um novo mundo, cheio de mesas baixinhas rodeadas por banquinhos pequeninos, onde para fechar a boquinha era só trancá-la com uma “chavinha” invisível e a nossa única preocupação era saber se poderíamos contornar o desenho “de canetinha”?!?

Se uma carreira é como uma casa, aquela, assim como esta, deve ter alicerces fortes para que sustentem as paredes que serão construídas. Como casa ainda por terminar, tenho absoluta certeza de que posso colocar quantos andares quiser ou o telhado mais pesado,  pois, minhas bases não poderiam ter sido formadas por melhores materiais. Cada pedrinha, cada grãozinho de areia foi “cimentado” com altas doses de carinho e dedicação. Afinal, não haveria construção alguma se alguém, com muito jeitinho, não conseguisse me convencer de que a escola era uma “boa idéia”...

E esse seu jeitinho doce fez muito mais. Ele me fez vestir uma fantasia de capim numa peça de teatro da formatura do “prezinho”. A história falava sobre o nascimento de Jesus e, juntamente com meus coleguinhas, eu fazia parte de um presépio atrás da cortina, que era aberta ao final.  Será que a senhora acreditaria se eu dissesse que ainda me lembro da fala de meu personagem?!? Pois, eu me lembro, sim. Antes de ir para o fundo do palco, um dos meninos que segurava a cortina tentava falar comigo e com a Kristianne, que também estava fantasiada de capim, e nós dizíamos a ele: “Não podemos falar, estamos com pressa. Temos que fazer uma caminha quente e fofa, numa gruta escura e fria.” Não era assim?!?

Há alguns meses recebi um telefonema da senhora dizendo que gostaria de me agradecer por ter me lembrado de seu nome em um de meus textos para o JORNAL DAS LAJES. A senhora e todas aquelas pessoas que mencionei foram responsáveis por tornar a minha infância uma fase tão especial. Portanto, desculpe-me, mas o agradecimento é todo meu. Meu e de todos que conheceram o mundo do saber guiados por suas mãos e nunca se esquecerão de que todas as caminhadas começam com um primeiro passo. Obrigada por estar ao nosso lado naquele momento, nos transmitindo toda a segurança de sua companhia!

Receba aqui o meu abraço carinhoso e meus sinceros parabéns por fazer o Dia dos Professores ser ainda mais merecedor de homenagens.

Paula”

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