Circula no facebook carta de José Antônio de Ávila - membro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e da Academia de Letras de São João del-Rei – enviada à presidente nacional do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Kátia Santos Bogea. Ele solicita informações sobre procedimentos relativos à recuperação da portada da igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de final do século XVIII – “criminosamente demolida no início da década de 1970” – que se encontra na Fazenda São Martinho da Esperança, em Campinas (SP).
Ao decidir por enviar a correspondência a Brasília, sede do IPHAN, José Antônio fala de descaso, de demora, de “imobilidade funcional e operacional daqueles que teriam o dever agir efetivamente neste caso” e de “incertezas a respeito do demoradíssimo processo de retorno da portada da primitiva Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (em São João del-Rei - MG)”.
José Antônio, que também foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico (IHG) do município, iniciou, em 2003, a “provocação” do processo (número 2009.38.15.000812-0) que visava recuperar o que considera um “bem patrimonial de imenso valor para a mineira cidade de São João del-Rei”.
Na carta à presidente do IPHAN, ele reclama dos “entraves que emperram o retorno da referida peça para o local de onde ela nunca deveria de ter sido retirada. Pelo que avalio, já era tempo de a portada estar reintegrada ao patrimônio desta urbe e devidamente reinstalada no local de onde foi subtraída, no Bairro Matosinhos”.
“No entanto – prossegue - as informações que tenho são as que creditam à ausência de procedimentos técnicos-operacionais do IPHAN, os quais não sendo realizados retardam a volta da referida portada; sei que já foram feitos contatos com o Escritório Técnico do IPHAN desta cidade e com a 13ª. SR do IPHAN (Belo Horizonte-MG), ambos sem os resultados esperados.”
Breve histórico*
O portal entalhado em pedra-sabão – “parte do patrimônio histórico arrancado de Minas Gerais” - foi montado em frente à pequena capela ao lado da sede da fazenda do advogado e banqueiro Mário Pimenta Camargo, falecido em 1996.
A peça foi alvo de ação do Ministério Público mineiro, que reivindica sua devolução, e “está longe de ser a única antiguidade transplantada para a luxuosa propriedade do interior paulista”, diz José Antônio. “Embora cheio de teias de aranha, com resquícios de uma caixa de marimbondo na porção esquerda e uma lasca quebrada na porção direita, o portal de aproximadamente seis metros de altura por três de largura está em bom estado.”
Em 07 de outubro de 2003, a presidência do IHG solicitou formalmente a interveniência do Ministério Público no sentido de ajudar a recuperar para a comunidade são-joanense a portada original do templo. “Aquela era uma peça valiosa, de amplo significado histórico, religioso e cultural para a memória da cidade e do Bairro de Matosinhos, patrimônio que fora nebulosamente negociado pelo afoito padre demolidor da referida Igreja, no ano de 1970”, relata José Antônio.
Segundo José Antônio, o “repatriamento” daquela portada de Campinas para São João del-Rei está sendo esperado para qualquer momento. “O fato que mais nos interessa é que em breve haveremos de recuperar a portada! Mas esta situação, ainda que auspiciosa, nos apresenta um outro embaraço: aonde ela será reinstalada?”
No entendimento de José Antônio, “a portada, por justiça e por sapiência, deveria e mereceria ser recolocada como um símbolo no local exato onde existiu a igreja que foi demolida; se isto não for possível, deveria ficar o mais próximo possível do lugar de onde ela nunca deveria de ter saído, na praça recém-reformada”.
* Algumas ponderações sobre o processo de recuperação da portada da primitiva Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos - http://patriamineira.com.br/ver_pdf.php?id_noticia=1200&id=3