João Tomás: 43 anos de banda Santa Cecília


Perfil

Emanuelle Ribeiro1

fotoJoão Tomás no aniversário de Resende Costa em 2012

A trajetória de João Tomás Silvério, 54, na banda de música Santa Cecília de Resende Costa, começou cedo, ainda na infância. Passados 43 anos, o maestro se viu no momento de deixar a regência da banda no último dia 30 de abril: “Hoje eu me sinto muito cansado, mentalmente e fisicamente. Tem o tempo de começar, mas precisamos ver o tempo de parar, reconhecer os limites, diagnosticar o problema e afastar. Eu tenho muito pesar em deixar a banda, mas não pretendo me afastar de vez. Não consigo deixar a música. Hoje eu falo que sou casado com a Romilda e com a música”, afirma João sobre seu afastamento.

O envolvimento com a música começou ainda nos tempos de criança, quando estudava no então Grupo Escolar Assis Resende: “Mais ou menos em 1967 tínhamos um auditório no Grupo. Nessa época, a Maria Aleluia começou a oferecer aulas na escola, formando um corinho e uma bandinha e eu fazia parte do corinho. Com a Aleluia aprendi as primeiras notas musicais. Na sexta, após o intervalo, voltávamos para a sala e estava tudo pronto para nos apresentarmos para a turma”, relembra João dos primeiros anos de música.

Pouco tempo depois, João passou a integrar a banda Santa Cecília: “Aprendi a música de repente, de ouvido, com o auxílio do Sr. Geraldo Chaves. Comecei com o bombardino. Aprendi trombone, baixo e sempre que faltava algum músico eu aprendia o instrumento para completar a banda. Quando entrei no Coral Mater Dei me vi obrigado a começar a ler um pouco as notas”, conta.

A transição de músico para maestro da banda aconteceu de forma rápida, devido aos problemas de saúde de Geraldo Chaves. Em pouco tempo, João estava regendo e treinando novos músicos: “O Sr. Geraldo passou diversos períodos internados e sempre me deixava cuidando da banda. Teve uma época em que ele deixou a banda com 14 músicos e quando voltou, na véspera da Festa de São Sebastião, se deparou com um bando de novos alunos. Ele levantou a mão, regeu e a criançada tocou. Ele ficou admirado, surpreso. 1982 foi seu último período de aulas. Logo depois eu assumi”, afirma João Tomás, emocionado.

João, então, ficou com a difícil tarefa de ensinar a música e fala das dificuldades: “A dificuldade em ensinar é encontrar alguém que tem talento e disposição em aprender. A música é um dom. Há muitos anos eu formo músicos em Resende Costa. Sempre apareciam na sala cerca de 60 alunos e quando iniciávamos os exercícios com instrumento restavam seis. A música exige sensibilidade, concentração. Existem dois tipos de afinação: de garganta e de ouvido. Acredito no dom, mas com a vontade de aprender e o esforço, uma pessoa consegue”.

Sobre os momentos marcantes à frente da banda Santa Cecília, o ex-maestro enumerou alguns: “Por volta de 1973 a banda fez dois passeios, um em Rio Novo e outro no Parque da Colina, em Belo Horizonte. Saiu o Sr. Geraldo animado com aquela criançada, a gente nunca tinha saído de casa (risos). Outro momento bacana foi uma apresentação que fizemos no Colégio Salesiano, no Rio de Janeiro. Já o melhor momento como regente foi durante os encontros de bandas. Nosso primeiro encontro foi em São João del-Rei, não faz muito tempo. A banda não tinha uniforme e uma pessoa disse na ocasião que a única coisa que faltava era isso, porque o resto a gente tinha tudo. Fui eu quem organizei o primeiro encontro em Resende Costa também. Participamos de uns 30 encontros”, diz orgulhoso.

O músico viveu momentos difíceis também frente à banda: “Houve uma época em que eu enchia o carro de instrumentos e levava para as cidades vizinhas para arrumar. Colava com durepóxi, arame”. Hoje as coisas melhoraram: “De um certo tempo para cá a banda recebeu muito apoio, ganhou uniforme, instrumentos, equipamentos, incentivo do poder municipal. Hoje as coisas são bem mais fáceis”, completa.

João Tomás conclui falando sobre suas expectativas: “Espero que dê tudo certo, que a pessoa indicada leve bem a banda. O próximo que entrar tem que ter muito jogo de cintura, carisma, saber cativar novos membros e segurar os músicos antigos. É preciso ser humilde, estar aberto a ideias. E claro que podem contar comigo. Foi um tempo muito bom e espero que seja melhor de agora em diante”.

A imagem do maestro frente à banda sempre foi de uma pessoa carismática, que valoriza a amizade que tem com seus músicos. Eustáquio Peluzi participou do último período de aulas de Geraldo Chaves e desde então convive com João Tomás na banda Santa Cecília. O músico deixou o seu depoimento para o maestro: “Ele é uma pessoa muito carismática e possui uma maneira especial de lidar com o músico, nos considerando, antes de tudo, como grandes amigos. A manutenção de uma banda de música não é tarefa fácil. O maestro tem que atuar na formação e preparação do músico, além de outras incumbências relacionadas ao funcionamento da banda. É um trabalho árduo e demorado. O João sempre conseguiu fazer isso de forma serena e equilibrada, tendo na união e na amizade os principais fatores para manter a banda de música viva e atuante. Todos que têm a oportunidade de conhecer e conviver com o João despertam por ele um profundo respeito e admiração. Com seu jeito simples e sempre de bem com a vida ele cativa a todos. Eu o considero uma pessoa excepcional e só tenho a agradecer-lhe pelo seu amor e pela sua dedicação em favor da nossa banda de música Santa Cecília”.

Comentários

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    Sou clarinetista da Banda Santa Cecília há 26 anos. Tenho um enorme prazer de ter convivido, por um bom tempo com está pessoa maravilhosa, que eu adoro, o João. Ele é como um pai pra mim, sempre atencioso e cuidadoso. Só tenho a agradecer por tudo que ele nos ensinou. E pelo grande ser humano que ele é. João, que Deus lhe proteja e abençõe sempre.


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