Jornalista gastronômico Eduardo Tristão visita Resende Costa pelo projeto Rota do Queijo: uma ação da Trilha dos Inconfidentes


Vanuza Resende


fotoAmana Castelo Branco e Cláudio Ruas, o Casal Gastrô (foto blog Eduardo Girão)

A Instância de Governança Regional (IGR) Trilha dos Inconfidentes, localizada na região do Campo das Vertentes, é reconhecida historicamente como o berço do Queijo Minas Artesanal (QMA). Neste cenário, em 2017 a Rota do Queijo Terroir Vertentes foi efetivamente lançada. E Resende Costa é uma das cidades da rota.

A proposta é proporcionar ao turista o embarque em uma experiência memorável na descoberta dos sabores da região, conhecendo as raízes da famosa cozinha mineira, do Terroir Vertentes e dos municípios da Instância de Governança Regional Trilha dos Inconfidentes.  A rota do queijo possibilita ao turista a experiência vivencial junto aos produtores, para conhecer in loco a técnica produtiva, sentir o clima rural e interagir com o produto na fonte. Com isso, o projeto funciona também como precursor de ações profundas de fomento ao turismo rural. Na esteira do processo, a rota proporciona melhoria da autoestima do produtor rural, agrega alternativas de trabalho e renda, bem como amplia as possibilidades do turismo de experiência aos visitantes, contribuindo para a fixação do homem no campo.

De 24 a 29 de março, o jornalista Eduardo Tristão Girão visitou 19 propriedades rurais de nove municípios para vivenciar as experiências oferecidas pela rota. A ação foi promovida pelo Circuito Trilha dos Inconfidentes e o Programa Estadual Reviva, que busca incentivar a retomada do turismo no estado. O projeto conta com o apoio institucional da Secult – Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais – e do Governo do Estado de Minas Gerais.

 

Casal Gastrô na Rota do Queijo

No dia 28, uma das cidades visitadas foi Resende Costa. Eduardo Girão falou sobre a visita na propriedade do Casal Gastrô. “Fomos até Resende Costa, onde Amana Castelo Branco e Cláudio Ruas, à frente do Casal Gastrô, produzem de um tudo, tendo no queijo seu carro-chefe. Diferentemente de outros colegas da região, aposta no rebanho mestiço (em vez de jersey): não são animais de alta lactação, mas são criados a pasto na maior parte do tempo e estão bem adaptados ao terreno. Produzir em harmonia com o meio ambiente e com baixo custo pode soar como atitude nova, mas é o que o seu bisavô sempre fez, lembra ele. Além dos cinco queijos diários, produzem defumados, embutidos, iogurte, manteiga, molho de pimenta e até feijão”, detalha o jornalista.

Ao longo das visitas, foi gravada uma web série com seis capítulos que vai mostrar que o queijo minas artesanal pode oferecer ao turista a oportunidade dos sabores, isolados ou conjugados com outras iguarias.

 

Rota do queijo de 2017 até o momento

O projeto, inclusive, teve o reconhecimento pelo Ministério do Turismo. Em dezembro de 2018, no Rio de Janeiro, a Rota foi premiada em segunda colocação na categoria Turismo de Base Comunitária e Produção Associada ao Turismo do Brasil, no 1º Prêmio Nacional do Turismo. Foi também selecionada para o Projeto Experiências do Brasil Rural, iniciado em 2021, em uma realização do Ministério do Turismo, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da UFF – Universidade Federal Fluminense.

A IGR oportuniza, pela implementação da Rota, o aproveitamento dessa riqueza imensurável, trazendo ao turista a possibilidade de novas descobertas e vivências; aos produtores, a difusão de seus produtos e marcas, com ampliação das vendas e ganhos agregados; aos municípios envolvidos, crescimento de toda cadeia produtiva do turismo.

 

Eduardo Tristão Girão

Jornalista gastronômico com 18 anos de experiência na área e premiado com a Medalha do Dia do Estado de Minas Gerais e o troféu Eduardo Frieiro. Foi repórter do jornal Estado de Minas e já colaborou com o jornal O Estado de S. Paulo e as revistas Prazeres da Mesa, Gula, Encontro e Feira. Avaliou bares e restaurantes para o Guia Unibanco Minas Gerais (editora Bei) e participou de votações da lista anual The Worlds 50 Best, da revista inglesa Restaurant, que elege os 50 melhores restaurantes do mundo. Fez diversas viagens gastronômicas pelo Brasil e para países como Portugal, França, Espanha e Chile. Atua como palestrante, mediador e jurado em diversos eventos do setor gastronômico. Desde 2016, promove degustações de queijos artesanais mineiros e iniciou em 2017 trabalho como consultor de queijos especiais para o grupo Super Nosso.

 

O queijo mineiro

O território centro-sul mineiro, conhecido por Campo das Vertentes, teve seu povoamento remotamente ligado ao ciclo econômico do ouro, que trouxe à região os primeiros aventureiros movidos pelo sonho da riqueza. Dos bandeirantes paulistas aos emboabas, de grande diversidade de procedência, eles se estabeleceram em vários povoados e trouxeram consigo seus costumes, que em mescla cultural, ano após ano, se consolidaram para formar as tradições regionais, inclusive a culinária afamada.

A gradual queda no rendimento da extração aurífera obrigava a que os habitantes buscassem atividades econômicas alternativas, no comércio e nas fazendas, expandindo-se por toda a região em busca de novas áreas produtivas. Com o tempo e a chegada de migrantes, a cultura regional diversificou-se ainda mais, tornando-se afamada produtora queijeira. Queijos estes que no decorrer do século XIX eram escoados para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, em grande quantidade, graças ao fluxo de tropeiros, atestam os cronistas da época.

Fato é que o queijo se tornou importante fator econômico e se fixou na tradição alimentar do mineiro, de forma emblemática, acompanhando suas receitas de quitandas de forno ou o cafezinho à mesa, desde a apresentação frescal até a forma curada; ou ainda, equilibrando o sabor das sobremesas através do tradicional consumo casado com doces típicos (de laranja, de figo, de leite etc.). Para além, o queijo é matéria-prima fundamental para o pão de queijo, composto de polvilho azedo assado, quitanda das mais queridas e simbólicas para a mineiridade.

 

Trilha dos Inconfidentes

Fundado em 28 de agosto de 2000, o nome se deu em função da história da região ligada aos inconfidentes mineiros. As cidades que o circuito abrange fazem parte da história da independência do país. Ao todo, são 26 municípios na entidade. São eles: Alfredo Vasconcelos, Antônio Carlos, Barbacena, Barroso, Carandaí, Carrancas, Conceição da Barra de Minas, Coronel Xavier Chaves, Desterro do Melo, Dores de Campos, Entre Rios de Minas, Ibituruna, Itutinga, Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Piedade do Rio Grande, Prados, Resende Costa, Ritápolis, Santa Bárbara do Tugúrio, Santa Cruz de Minas, São João del-Rei, São Tiago, São Vicente de Minas e Tiradentes. As características da região proporcionam uma infinidade de atrativos como, por exemplo, passeios históricos, passando pelo ecoturismo, o turismo de aventura, turismo rural, tendo a cozinha mineira como principal elo entre os atrativos.

 

Reviva Turismo

O programa Reviva Turismo foi criado em maio de 2021 para impulsionar a retomada gradual e segura das atividades turísticas, com base em quatro eixos: biossegurança, estruturação, capacitação e marketing do destino Minas Gerais.

De acordo com o Governo Estadual, um dos principais objetivos do programa é resgatar o setor do turismo, um dos mais prejudicados pela crise em função da pandemia de Covid-19, e estimular toda sua cadeia produtiva, que envolve oficialmente 15 segmentos econômicos, segundo critérios do Ministério do Turismo. A meta é que o Turismo gere 100 mil empregos até o final deste ano, colocando Minas entre os três principais destinos do país.

A Trilha dos Inconfidentes foi contemplada pelo Reviva Turismo em dois projetos: “Tô na Trilha, Tô em Minas” e “Tô na Trilha, Negócios”, projetos que irão promover e dar mais visibilidade às cidades do circuito, tendo como eixos de trabalho a biossegurança dos roteiros existentes, fortalecimento da estruturação turística das cidades, capacitação do pessoal que trabalha com turismo e marketing do destino Trilha dos Inconfidentes. Percorrendo as múltiplas potencialidades turísticas de Minas Gerais – paisagens naturais e urbanas exuberantes; a singular cozinha mineira; concentração de patrimônios históricos, culturais e da humanidade e toda a mineiridade representada pelo povo acolhedor de nossas cidades.

A estruturação do programa acontece em consonância com as tendências mundiais para o Turismo no atual cenário, que envolvem a busca por atividades ao ar livre e o turismo de natureza, de aventura, rural, cultural e de experiências.

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