Ligação aérea BH-SJDR está de volta, aviões pequenos e passagens mais caras

Apesar de considerada positiva, a medida merece reparos por parte de lideranças empresariais


Cidades

José Venâncio de Resende0

Aeroporto de São João del-Rei volta a operar voos diários para Belo Horizonte.

São João del-Rei e mais 11 cidades mineiras passam a ter ligação regular por via aérea com Belo Horizonte, a partir desta segunda quinzena de agosto. Os voos entre a capital mineira e a sede da microrregião do Campo das Vertentes serão diários e os preços vão variar entre R$200 e 220 para uma viagem com duração de 28 minutos, de acordo com o site http://www.voeminasgerais.com.br/.

O governo de Minas vai assumir o custo operacional para viabilizar o projeto. A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) e a Secretaria de Transportes e Obras Públicas (Setop) são as responsáveis pela sua implementação. Serão empregados aviões monomotores de baixo custo operacional (Cessna Grand Caravan 208 B) para ofertar o serviço de transporte de passageiros e de carga.

Os voos serão operados pela Two Táxi Aéreo Ltda., vencedora da licitação. Cada aeronave tem capacidade para até nove pessoas, conforme regulamentação da Agência Nacional de Aviação (ANAC). As passagens serão vendidas via internet e por aplicativos para tablets e smartphones.

O presidente da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, disse ao jornal Estado de Minas (20/07) que a intenção não é competir com a aviação comercial tradicional, “mas criar um modelo sólido e viável para complementá-la, usando empresas privadas e a infraestrutura aeroportuária já instalada”. O secretário de Transportes e Obras Públicas, Murilo Valadares, afirmou que o investimento, associado a ações nos aeroportos regionais, permite reestruturar a rede de aviação regional. “A alavancagem de investimentos em infraestrutura é fundamental para que Minas Gerais volte a crescer, fixando empresas e mão de obra qualificada.”

“Vejo pontos negativos e alguns positivos”, diz João Afonso Farias, ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei) e atual membro do conselho fiscal da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG). “Mas, num todo, o mais importante é termos de volta, ainda que muito limitada, a inserção do Campo das Vertentes no espaço aéreo de forma comercial.” Ele lembra que, no setor dos transportes, existe um outro espaço, “pois quando se lida com voos comerciais o universo de oportunidades muda, devido à rapidez, e a lida com as grandes distâncias fica facilitada”.

João Afonso recorda o tempo em que esteve à frente da ACI del-Rei e da Secretaria de Obras do Município, esta última na época o órgão fiscalizador do aeroporto. ”Presenciei diversas situações em que os voos viabilizaram algumas atividades como, por exemplo, médicos que faziam plantões noutras cidades, despachos urgentes de medicamentos, grupos de turistas com passagens aéreas inclusas nas diárias de hoteis de Tiradentes que a esses faziam cortesia e diversas outras.”

O acesso de turistas, assim como de moradores locais que frequentemente se deslocam para Belo Horizonte, vai ser facilitado pela retomada de voos entre a capital e São João del-Rei, diz ALine Garcia, presidente da Associação Empresarial de Tiradentes (ASSET). “Tiradentes é um destino turístico indutor, conforme divulgação do Ministério do Turismo e SEBRAE, estando geograficamente localizada em uma situação privilegiada entre Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.”

João Afonso considera, ainda, que o momento do retorno dos voos é extremamente importante. “O investimento milionário que se fez no Centro de Convenções só o torna útil se houver a 
possibilidade de voos comerciais correntes. É inimaginável fazer-se um Centro de Convenções com capacidade para mais de 2000 pessoas sem a possibilidade de translado aéreo até ele. Certamente o nome Centro de Convenções teria que ser mudado.”

Porém João Afonso lamenta a forma modesta com que os voos foram retomados. “Aeronaves com apenas nove passageiros, somente algumas cidades de Minas e preço elevado das passagens não atenderão aos anseios de muitos que, principalmente no turismo, tinham outras expectativas. Acho que com nove passageiros não atende, por exemplo, dois amigos com as respectivas famílias que tenham a intenção de aqui vir passear.”

Aline prefere acreditar que muito breve será realizada uma reavaliação do tamanho da aeronave utilizada. “Isso deverá restringir um pouco a quantidade de passageiros em um primeiro momento. Mas acreditamos que é importante dar o primeiro passo e ir realizando os ajustes necessários para atender ao público que irá utilizar o serviço.”

A presidente da ASSET também crê que a extensão deste programa para outros estados será reavaliada. “É importante, para a nossa Tiradentes, que haja uma busca na expansão da política de conexões, atendendo o mais rapidamente possível Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente. O aeroporto de São João del-Rei já operou com voos para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Preferimos acreditar que esta é uma medida efetiva para viabilizar um fluxo de turistas e moradores das (e para as) principais cidades de interesse da região. Nossa cidade precisa disso.”

Heliete Castro, sócia-gerente da Tiradentes Viagens e Turismo Ltda., também considera cara a tarifa de R$ 200,00. Para ela, a retomada de linhas aéreas regulares a cidades como São João del-Rei pode representar benefícios e agilidade para os moradores de toda a região. “Porém, na atual situação em que se encontra o país, não acho que terá demanda, pelas informações que tenho.” Até o fechamento desta edição, a Tiradentes não havia recebido qualquer comunicado sobre os voos a serem operados em São João del-Rei. “O que eu sei é o que li nas reportagens pela internet.”

João Afonso diz esperar que os voos não sejam interrompidos novamente e que as linhas cresçam de forma bem planejada. “A experiência anterior nos mostrou uma demanda crescente positiva e que a estrutura criada, tanto na reforma do aeroporto quanto nos investimentos públicos e privados para o sucesso desse, aguardam seis longos anos a amortização de mais essa tentativa de progresso para nossa região.”

O Projeto de Integração Regional de Minas Gerais Modal Aéreo (Pirma), do governo do Estado, na sua primeira fase, vai oferecer 60 voos semanais a partir do aeroporto da Pampulha, na capital. Juiz de Fora terá 11 partidas e 11 chegadas por semana; Divinópolis, São João del-Rei e Curvelo também terão voos diários; e, com menos voos semanais, aparecem Diamantina (três) e Ponte Nova, Ubá e Muriaé (dois). Os preços das passagens variam entre R$160 e R$550, dependendo da distância e duração dos voos.

 

Breve histórico

O aeroporto Prefeito Octavio de Almeida Neves, no Campo das Vertentes, foi inaugurado em maio de 2006 depois de reformado e ampliado, passando a funcionar 24 horas. As obras de ampliação consumiram investimentos de R$32 milhões, entre recursos do governo de Minas Gerais e da Aeronáutica (Programa Federal de Auxílio a Aeroportos). A pista de pouso e decolagem  foi ampliada e o aeroporto ganhou pista de taxiamento e maior pátio de estacionamento de aeronaves, além  de estacionamento de veículos e novo terminal de passageiros.

No ano seguinte, iniciaram-se em 5 de abril as atividades comerciais do aeroporto, com os voos operados pela Total Linhas Aéreas. Nesse meio tempo, a TRIP Linhas Aéreas incorporou a Total, passando a atuar em São João del-Rei, além de outras nove cidades.

Em editorial (junho de 2008), este jornal defendeu a criação de voo entre São Paulo e São João del-Rei, passando por Belo Horizonte – afinal, SP é um “esportador” natural de turistas pelo seu poderio econômico. Na ocasião, comemorava-se o resultado do primeiro ano de voos comerciais de Rio de Janeiro e Belo Horizonte para São João del-Rei, que atingiram seis mil embarques e desembarques no aeroporto.

Em defesa da nova rota como alternativa para estimular o turismo regional, o JL citou entrevistas do então presidente da Associação de Hoteleiros de Tiradentes, Marcus Vinicius Resende Barbosa, do então presidente da Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei, Artur Coelho dos Santos Monteiro, e de empresários dos setores de móveis de madeira de demolição e de artesanato em ferro, de Santa Cruz de Minas.

Em 2011, a empresa Socicam, tradicional no ramo, assumiu a administração e a operação do aeroporto. Com a nova gestão, foram realizados investimentos como aquisição de veículo de combate a incêndio, obras de adequação e aquisição de raio-x de bagagem de mão e detector de metais, para atender às exigências técnicas da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).

No mesmo ano, a TRIP reduziu os horários dos voos da cidade para Belo Horizonte e Rio de Janeiro, alegando “ajustes estratégicos” em toda a malha da empresa “para elevar a qualidade dos serviços prestados”.

Em janeiro de 2013, em entrevista ao jornal Gazeta, o gerente geral da divisão de aeroportos Socicam, Claudio Jose Gomes, disse que o terminal já estava apto a ampliar o número de voos semanais, apesar da previsão de início de operação no segundo semestre de 2013. “Cumprimos dentro dos prazos todas as determinações da ANAC.”

Gomes acrescentou que aguardava uma posição da TRIP. Nesta ocasião, o aeroporto da cidade recebia apenas um voo semanal com destino a Juiz de Fora, no domingo com saída às 16h15, de acordo com a assessoria da empresa em Campinas (SP). E não havia previsão de aumento de frequência dos voos em São João del-Rei.

Um ano depois, o aeroporto são-joanense estava sem voos comerciais. Lideranças da região, comandadas pelas associações empresariais de São João del-Rei e Tiradentes, criaram um movimento para cobrar dos parlamentares mineiros medidas para que outra companhia assumisse os voos, de acordo com o site São Joao del-Rei Transparente (25/04/2014). A companhia Azul havia suspendido as operações na região - voos aos sábados para Campinas via Varginha - alegando baixa rentabilidade.

Em outubro de 2015, o jornal Gazeta divulgou que a companhia área Flyways tinha intenção de operar em São João del-Rei até o primeiro semestre do ano seguinte, de acordo com a diretora comercial da empresa, Eliane Galarce Silva. A intenção seria iniciar os serviços com voos no aeroporto da Pampulha, na capital mineira, e no do Galeão, no Rio de Janeiro. “Já finalizamos o processo de certificação da empresa e aguardamos o certificado de operadora aérea que pretendemos receber até novembro.” A ANAC chegou a confirmar que a Flyways estava em processo de liberação de certificado.

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