Luciano, o padeiro brasileiro que se tornou dono de um café em Lisboa

Ele toca o café "Cantinho dos Prazeres" com a esposa Nágila


Imigrantes & Empreendedores

José Venâncio de Resende0

Luciano e Nágila, num negócio familiar

Luciano Silva, 37 anos, natural de Anápolis (GO), era padeiro no Brasil antes de mudar-se para Portugal, mas nunca exerceu a profissão em terras lusitanas.

No Brasil, ele e seus dois colegas de padaria chegavam a entregar, numa noite, seis mil pães à base aérea de Anápolis. Sem falar de outros clientes como mercearias e escolas. “Só para a Aeronáutica, eram 12 fornadas de 540 pães cada por noite.”

Em 17 de maio de 1999, Luciano deixou o emprego e viajou para Lisboa, onde no entanto ficou apenas três dias. O retorno ao Brasil, contudo, teria vida curta e, 45 dias depois, já estava de volta a Portugal, desta vez para ficar.

Em Lisboa, foi trabalhar num restaurante típico português, no bairro de Benfica, como “empregado de mesa” (garçom, no Brasil). Em abril de 2004, foi ao Brasil, em férias, mas ficou apenas 17 dias quando o previsto seriam 45 dias.

Luciano trabalhou para o mesmo patrão até 2009 quando então conseguiu emprego noturno (entre 20 horas e 4 da manhã), como atendente de balcão, num barzinho no famoso Bairro Alto da Lisboa antiga. A clientela era formada na maior parte (70%) por turistas.

Em 2012, transferiu-se para um restaurante português nas Docas de Alcântara, cujos clientes eram 95% de turistas, passageiros dos barcos de Cruzeiro que atracavam no porto. Ali, Luciano trabalhou como empregado de mesa por cerca de um ano.

Em agosto de 2013, Luciano e a esposa Nágila compraram o café “Cantinho dos Prazeres” – espécie de lanchonete no Brasil -, no centro comercial da Praça dos Touros no bairro Campo Pequeno. Um negócio familiar num local estratégico, de fácil acesso à estação do metrô.

Mas ele foi trabalhar como empregado de mesa na Cervejaria Solmar – cervejaria, pastelaria e restaurante no Rossio, Baixa Lisboa – enquanto Nágila tocava o café com duas empregadas. Luciano precisava ter certeza de que o negócio próprio seria rentável o suficiente para sustentar a família.

Na cervejaria, cumpria jornada entre 7 da manhã e 15 horas, sobrando tempo para ajudar no café. “Eu fazia as compras, cuidava do depósito e ainda cobria o descanso da minha mulher.”

Em agosto de 2015, Luciano deixou o emprego fixo e passou a se dedicar integralmente ao café. “Concluí que valia a pena dedicar apenas ao café, mesmo sabendo que seria um risco.”

O casal passa – junto ou alternadamente - de 15 a 18 horas diárias no café, de segunda a segunda, onde serve cafezinhos, refeições (almoços e jantares), lanches (sandes, hamburguer etc.), salgados e bolos, além do famoso pão de queijo mineiro. Os clientes são 50% funcionários do centro comercial; 25%, “passantes” (eventuais) e o restante, pessoas de fora que são frequentadoras assíduas.

“A principal diferença quando você trabalha para si próprio é que perde todas as regalias de empregado, como férias, folgas, subsídios de natal e de férias”, diz Luciano. “Você tem que ter um olho no burro e outro no cigano”, em outras palavras, “24 horas por dia de atenção total”.

Luciano é casado há 12 anos – a esposa Nágila é goiana de Piracanjuba – e tem um filho português de nome João Pedro, com sete anos e cursando a primeira série. 

 

         

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário