Mauro Duarte vive um desafio diário: administrar a dupla função de gerente da Viação Presidente e de vereador e presidente da Câmara Municipal. Funcionário há 20 anos da Viação Presidente, ele trabalhou metade do tempo em Belo Horizonte, passando por diversos setores administrativos até ser convidado para gerenciar a primeira empresa urbana adquirida em São João del-Rei. Nestes 10 anos em São João, formou-se em Direito pelo IPTAN e, em 2008, foi eleito vereador pelo PSDB, tendo assumido a presidência da Câmara Municipal em 2011. Nesta entrevista, fala da compra da ENSP, de sua militância política e do transporte urbano são-joanense.

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Por que a Viação Presidente decidiu comprar a ENSP?
Nesses 10 anos em São João del-Rei, a Viação Presidente já adquiriu a Transamanda, que fazia dois distritos no município – o Rio das Mortes e São Sebastião da Vitória – e o município de Conceição da Barra de Minas, há 50 km daqui. E agora surgiu a oportunidade de adquirir a ENSP, que fazia Coronel Xavier Chaves e Resende Costa. Já temos em São João uma estrutura física e administrativa - uma garagem grande, funcionários etc. E o nosso intuito é crescer neste ramo. Então, quando surgiu essa oportunidade, a Viação Presidente vislumbrou aí agregar valor à empresa.

Em São João, a Viação Presidente atua nas áreas urbanas e rural?
A Viação Presidente faz todo o transporte urbano de São João del-Rei e atende aos distritos do Rio das Mortes, São Sebastião da Vitória, Januário, Canela e Goiabeiras. Também fazemos a ligação entre São João del-Rei e as cidades de Tiradentes (via BR 265), Conceição da Barra de Minas, César de Pina e agora Resende Costa e Coronel Xavier Chaves.

Algum plano para ampliar essa área de atuação?
Eu acredito que sim. A Viação Presidente é uma empresa que mexe exclusivamente com transporte de passageiros. E eu creio que, se aparecer novas licitações ou novas possibilidades de compra de concessões, a Viação Presidente estará aí no mercado para competir.

Existe alguma possibilidade de algum trajeto alternativo, como São João del-Rei – Resende Costa – Lagoa Dourada ou São Tiago via Resende Costa?
No momento, não. Isso já é um processo mais demorado, que envolve licitação do próprio órgão concedente que é o DER (Departamento de Estradas de Rodagem).

Fale um pouco da história da Viação Presidente...
A Viação Presidente era uma empresa exclusivamente rodoviária que só fazia tranporte intermunicipal de passageiros. Então, eram ônibus de viagem que faziam o transporte de Belo Horizonte, onde é a matriz da empresa, para o Vale do Aço, pegando Ipatinga, Acesita, Coronel Fabriciano, Caratinga, Tarumirim, Iapu, Iapim, enfim, várias linhas naquela região. E também fazia o sudoeste de Minas – Passos – e uma parte do interior de São Paulo – Franca, Araraquara, Ribeirão Preto, várias cidades naquela região. Ela vendeu as linhas do sudoeste mineiro e do interior de São Paulo e resolveu entrar no mercado urbano. Tanto que São João del-Rei foi a primeira urbana. Em 2005, adquiriu a empresa urbana de Congonhas e, em 2008, adquiriu uma empresa urbana de Conselheiro Lafaiete.

Fala-se muito da concorrência desleal do transporte clandestino, explique como é isso...
Na verdade, o transporte clandestino é feito por algumas pessoas que utilizam de veículos, como vans e mesmo carros particulares, para deslocar as pessoas no mesmo trajeto do ônibus. Por exemplo, Resende Costa a São João del-Rei. Isso é extremamente prejudicial ao sistema e muitas vezes traz riscos para o próprio passageiro, porque a empresa está ali, tem o seguro de vida, tem o seguro de despesas médicas, paga o motorista, tem todos os encargos tributários etc.. E fica realmente complicado competir com uma pessoa, que pega um veículo normal e angaria o mesmo valor da passagem, coloca uma pessoa no carro e se desloca para o seu destino. A princípio, a pessoa pensa: vou chegar mais rápido, vai me deixar na porta da minha casa etc. Mas no caso de um acidente – isso passa direto na televisão - é muito arriscado principalmente para o passageiro. Na grande maioria das vezes, o dono desse veículo não tem condições de arcar com absolutamente nada. Ele não tem um seguro de vida, não tem um suporte financeiro, suporte de atendimento de socorro para essas vítimas etc. Se o carro quebrar na estrada, a pessoa vai ficar lá, vai ter de esperar o ônibus ou alguma pessoa pra ir buscar. Sem falar no risco que a pessoa corre das fiscalizações que são feitas pela Polícia Rodoviária e pelo DER. E, com a diminuição de pessoas que andam no transporte regular, a empresa acaba diminuindo os horários que existem porque vai haver falta de passageiros. Então, quanto mais as pessoas utilizam o transporte regular, é maior a probabilidade de melhoria do sistema, melhoria de frota, melhoria de horário.

E tem ainda a questão da qualidade desse transporte...
Com certeza. Muitas vezes, são carros sem manutenção, tem motorista que já foi preso que nem carteira tinha. Então, é uma questão realmente perigosa para o usuário.