Nomes engraçados, aluguel e vizinhos: o cotidiano das repúblicas de estudantes


Cidades

José Venâncio de Resende0

República Santa Casa -  Da esquerda para direita, Tio Chico, Majin-boo, Apelido, Lambari e Frango

Um anúncio no mural do campus Santo Antonio da UFSJ oferecia vagas para calouros na República Santa Casa, bairro Bonfim, logo atrás da Universidade. A mais antiga república de estudantes de São João del-Rei, 20 anos de existência, tem uma lotação de 10 vagas, mas estava com sete moradores.

Com a UFSJ, as repúblicas passaram a fazer parte do cenário de São João del-Rei. E com nomes criativos, e muitas vezes engraçados. Ao lado de repúblicas tradicionais como a Santa Casa e a Mausoléu (10 anos de existência), existem aquelas que surgem e desaparecem de tempos em tempos. Sem falar que muitas nem constam da agenda oficial do estudante da centraldoacademico.com.  

Até bem pouco tempo, existia perto do centro da cidade a república “O que nós ganha os Bartira”, que nem mesmo constava da agenda 2013 do estudante. De repente, parece que “faliu”. Ou mudou de endereço? Outra que não existe mais é a república “Favim de Mel”, no bairro Bonfim, está relacionada no catálogo do estudante – atualmente, mora apenas uma pessoa no apartamento.

Embora exista desde 2008, a república “Colina” – que funciona na Rua Antonio Josino Andrade Reis, às margens do Córrego Lenheiro - também não aparece na agenda do estudante.

O catálogo de repúblicas da agenda traz nomes curiosos como 100 Noção, As Normais, Afrodite, Babilônia, Bombar, Café com Leite, Cadeia, Caixaça, Capô de Fusca, Convento, Chocolate com Pimenta, Das Vizinhas, De Lá, Delta Nu, Farol Acesso, Fe-mininas, Kataputa, Kativeiro, K-zona, Malabares, Methiolate, Pé na Cova, Pinga ni Mim, Reis de Copos, ReputaSão, Tapa na Peteca, Xananã, Xibiú, Xilindró e Xuxu  com Cana.

A República Mausoléu foi fundada em 2003 por Pedro Baratti (estudante de psicologia) em uma casa antiga, com fama de mal-assombrada no fundo do cemitério. Passou por mais duas casas antes de ocupar o atual endereço no Tejuco, onde abriga 11 estudantes de economia e de engenharia mecânica e elétrica. “Mas já teve mais gente”, conta Paulo Vitor.

A República Santa Casa – fundada por Gladstony Oliveira Souza (Cabeça), Yusley Ferreira Netto Junior (Manso) e Paulo José Miguel (Paulão), todos estudantes de engenharia industrial elétrica - já passou por cinco casas antes de ocupar o local espaçoso onde se encontra. Hoje, reúne gente de diferentes cursos (administração, economia e engenharia elétrica e mecânica).

“A gente tem hierarquia, tem um presidente há cinco anos que é o Bruno Nogueira (TX) que se forma no final deste ano”, conta Marco Antonio Marques Porto (Lambari). “Aqui pode ser comparado a uma empresa, com um peso maior dos mais velhos. A gente leva o nome muito a sério para não acabar.”

 

Festas e vizinhos - A Mausoléu promove festas grandes, inclusive com o apoio de vários estabelecimentos comerciais, revela Paulo Vítor. “A gente faz campanhas... Quem vem, por exemplo, traz alimentos.” A república chega a doar 500 kg de alimentos para uma instituição de caridade.

A Santa Casa também promove festas. “Há 10 anos, fazemos festa junina”, diz Lambari. A arrecadação de mantimentos é trocada por algum objeto, como a caneca que traz impresso o nome da república e da festa. Os alimentos são doados para uma creche do Tijuco.

E ainda são organizadas as festas “Bombar” e “Ops”, no Athletic, em parceria com outras repúblicas, prossegue Lambari. A primeira, “Miss Bicho”, é feita para apresentar os calouros. Na segunda, “Festa Fantasia”, é obrigatório o uso de fantasias.

“O pessoal de São João del-Rei não gosta muito de república”, admite Paulo Vitor. Muitos vizinhos reclamam das festas, mas “a gente tem muitos amigos na cidade que frequentam a república”. Ele mesmo já foi vítima da reação de vizinho indignado. Numa festa de aniversário de um calouro, um vizinho bateu à porta com uma enxada na mão. “Se não colocasse a mão na frente, estaria no hospital até hoje”.

O pessoal da Santa Casa também tem problemas com a vizinhança, em geral por causa de som alto. “A gente extrapola um pouco”, admite Lambari. “Já veio polícia aqui para baixar o som, mas nada muito grave”.

A implicância da vizinhança é um dos motivos pelos quais muitas repúblicas duram pouco ou mudam de endereço, conta Paulo Vitor. Na mudança de casa, muitas vezes sai parte do pessoal, perde-se o vínculo.

 

Custo do aluguel - Outra causa do fechamento de muitas repúblicas é o custo do aluguel. “O aluguel aqui é abusivo”, lamenta Paulo Vitor, da Mausoléu. “O aluguel está muito caro, então com a formatura dos mais velhos não se consegue arrumar calouros”, acrescenta Lambari. Na Santa Casa, o aluguel mensal é de R$ 2.200,00, dividido entre os estudantes.

Os estudantes estão botando fé no projeto de parceria, em discussão entre a UFSJ e a Prefeitura para a construção de um condomínio de casas e apartamentos perto do CTAN (Campus Tancredo Almeida Neves), além de locais apropriados para a realização de festas. Resolveria o problema do aluguel e da vizinhança, resume Paulo Vitor. “A ideia é que o valor do aluguel pague a prestação da casa.” Para as casas, por exemplo, o valor mensal seria de R$ 2.000,00, dividido entre 10 pessoas.

Assim, muitas repúblicas simplesmente seriam transferidas para o novo condomínio. “Com o projeto, a gente só tem a ganhar”, conclui Lambari. Não haveria mais problemas de aluguel e de som alto com os vizinhos.

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