Nostalgia e reprises: como o torcedor tem matado a saudade do futebol durante a pandemia?

Em pesquisa pelas redes sociais do JL, maioria dos torcedores é contra a volta do futebol neste momento


Vanuza Resende


Não tem jeito. Quem é fã de futebol vai sempre encontrar uma forma para falar sobre o esporte. Na fila do supermercado, os conhecidos cumpriam o distanciamento recomendado de aproximadamente dois metros e, mesmo com a voz abafada pela máscara, era possível ouvir a conversa de quem está com saudade dos jogos de futebol, paralisados devido à pandemia da Covid-19. – “Eu nem sei se volta esse ano, mas o melhor disso tudo é que o Flamengo não está ganhando”, poderia ficar imaginado qual seria o time do coração, mas o chaveiro do carro entregou: tratava-se de um vascaíno falando com um atleticano que fazia questão de mostrar o clube do coração vestindo a camisa já desbotando o número 1. O torcedor do Galo não ficou para trás: - “Vai voltar, sô. ‘Tava’ ouvindo na Itatiaia que voltam em julho, sem ninguém para ver, mas vão voltar a jogar. Não tem como ficar sem futebol não. Mas se não voltasse, o bom é que o Cruzeiro vai ficar dois anos seguidos na Série B”. Os dois riram e a conversa continuou com o vascaíno passando alguns produtos no caixa e reclamando dos preços altos. Um preço tão alto quanto os torcedores não terem oportunidade de comemorar e de zoar o rival. Ficou claro na conversa: as torcidas não são apenas a favor. Na maioria das vezes, torcer contra tem até um gostinho melhor.

 

Reprises de partidas históricas se tornaram um refúgio

O JL conversou com torcedores fanáticos pelos seus clubes para saber como eles estão driblando a saudade de ver o time entrar em campo. Todos citaram as reprises de partidas históricas como opção para suprir a abstinência de 90 minutos de bola rolando em tempo real.

Para a estudante Ianka Emanuelle, que veste a camisa do Cruzeiro, o ano de 2020 seria marcado mais uma vez pelas partidas de futebol. “Estou sentindo uma falta exorbitante do futebol. Falta das sensações que o esporte proporciona, de sentir um pequeno infarto, seja de alegria ou até mesmo tristeza. Futebol é emoção. Mesmo na Série B e em uma situação crítica, eu como cruzeirense de uma família de Sangue Azul, não deixaria de acompanhar.” Sem bola rolando, Ianka logo menciona as reprises de jogos marcantes. “Mesmo sem jogo, não perco uma reprise no Sportv e na Globo. Jogos da Seleção Brasileira e do Cruzeiro, e sabe o 6×1? Vi de novo, mesmo tendo decorado cada passe. Até dá para aquecer o coração com reprises, viu? ”, brinca a estudante.

O comerciante Alex Rodrigo, apaixonado pelo Galo, destaca a oportunidade de o Clube Atlético Mineiro ser o único time de Minas a jogar a Série A em 2020. “Esse ano, para nós atleticanos, era para ser um ano legal, pois, com o rebaixamento do Cruzeiro para a Série B no ano passado, seria motivo de brincadeiras entre amigos. Porém, não imaginávamos que o ano seria marcado por algo muito mais sério. Para mim, que sou apaixonado por futebol, essa pandemia tem afetado direta e indiretamente o cotidiano. Como de costume, há anos já esperamos o domingo à tarde, ou a quarta-feira à noite, para assistir aos jogos do nosso time. É diferente, você não fica mais tão ansioso para o jogo”, relata o torcedor.

Rodrigo comemorou pelas redes sociais a oportunidade de poder assistir a um jogo em tempo real em 2020: um trecho de uma partida de futebol de um campeonato europeu postado nos stories do Instagram. “Durante essa quarentena, tento me manter informado com algumas notícias não só do Galo, mas de outros clubes também, para ser uma forma de não me distanciar do que gosto. Venho assistindo às reprises de jogos marcantes através de vídeos na internet. Sou um grande fã do futebol europeu e, recentemente, algumas ligas voltaram a campo. Então tenho assistido a essas partidas sempre que possível e vendo como está sendo esse novo modelo de futebol sem torcida, sem abraços nas comemorações”, destaca Rodrigo.

Já para a servidora da Justiça Eleitoral, Paula Dias, que faz parte da maior torcida em números do Brasil, a flamenguista, 2020 tinha tudo para ser uma continuação de 2019. “O ano de 2019 foi mágico para o Flamengo: conquistas de títulos importantes e um time que encantava os torcedores em campo. As expectativas para 2020 eram imensas. O ano já começou com a conquista da Taça Guanabara, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana. De repente veio a pandemia... e tudo parou!”, comenta.

Reviver uma glória, ainda que recente, foi a maneira que a torcedora encontrou para comemorar as vitórias do seu clube do coração. “Neste tempo, acompanhei as notícias diariamente e fiquei muito feliz com a renovação do técnico Jorge Jesus, que foi fundamental para o sucesso do time. E vibrei como se não soubesse o resultado do jogo, quando assisti à reprise da final da Libertadores 2019”, relembra Paula.

 

Saudade de ir ao estádio

Pelo Instagram, @jornaldaslajes, em uma enquete rápida que ficou 24 horas no ar, o JL perguntou aos leitores se eles estavam sentindo falta de assistir aos jogos durante a pandemia. O Lucas Ribeiro foi um dos 31 torcedores que responderam sim à pergunta. Lucas é resende-costense, mas trabalha em Belo Horizonte desde 2014. Para ele, uma das grandes oportunidades de morar na capital é poder ir sempre ao estádio a fim de ver o Atlético jogar. “Tem jogo do Galão, a gente tá lá. Esse ano eu havia prometido ao meu primo de sete anos, que já nasceu atleticano, que o traria para assistir Galo e Coelho na final do Mineiro, porque não tenho dúvidas de que será assim, haha. Mas agora tenho dúvidas se vai ter como assistir ao Galo ser campeão, assistir pessoalmente.” Lucas ainda fala sobre a falta que faz acompanhar os jogos. “BH em dia de jogo é outro mundo. É foguete, alegria, ônibus lotados, churrascos acontecendo, uma emoção danada. E isso dá muita saudade porque, quando é janeiro e não tem jogos, você sabe que logo vai voltar. Mas e agora?”, questiona o torcedor.

Em Resende Costa, muitos torcedores encaravam um bate e volta para a capital só para acompanhar os jogos de Atlético e Cruzeiro. A Torcida Sangue Azul fez inúmeras caravanas nos últimos anos. Era comum acompanhar os jogos do Cruzeiro pela TV e ver a faixa da torcida resende-costense estampada no Mineirão. Paulo César, o PC, presidente da Sangue Azul e organizador das caravanas, comenta sobre a falta dos jogos. “O futebol é a paixão nacional, a alegria do povo. E de repente parou tudo! Ficamos sem nossa maior alegria do final de semana, o futebol! A rotina de ir aos jogos, em especial os torcedores do interior de pegar estrada, mesmo que seja super-cansativo, tem feito falta. A magia do futebol nos alegra e nos faz esquecer os problemas diários. Esperamos que essa pandemia passe logo e voltemos à rotina”, declara.

 

Seria o momento da volta dos jogos?

O JL também perguntou aos leitores sobre a volta do futebol em pleno momento de agravamento da pandemia no Brasil. Mais de 90% se mostraram contra o retorno dos jogos. Oitenta e sete pessoas responderam à enquete: 80 votaram não para a pergunta: “Você é a favor da volta dos jogos neste momento?”

Ianka também disse ser contrária à volta imediata dos campeonatos nos estados do Brasil. “Não é o momento de ir aos estádios. A melhor forma de apoiar o retorno à vida ‘normal’ e do coração acelerado pelo esporte é tendo empatia e ficando em casa”, destaca a estudante. Mesma opinião de Alex Rodrigo: “Sou contrário a essa decisão, pois, mesmo como torcedor apaixonado pelo futebol, acho que ainda tem muita coisa a melhorar antes. Por mais que os estádios estejam fechados ao público, ainda assim acho uma medida arriscada, pois existem muitas outras necessidades com mais prioridades”, conclui. Paula se mostra favorável ao retorno dos jogos, desde que se cumpram os protocolos de segurança. “Desde que adotados todos os protocolos de segurança, sou a favor do retorno do futebol, mesmo que seja bastante triste ver os estádios vazios. Acompanhar os campeonatos e torcer pelo time do coração faz parte da nossa cultura e traz alegria e diversão para os dias difíceis que o brasileiro conhece tão bem. E como estamos precisando de algo que nos distraia e nos motive nos dias atuais!”, argumenta.

Até o fechamento dessa reportagem, em 30 de junho, o Campeonato Mineiro ainda não tinha data para voltar a acontecer. A previsão inicial é de que seria retomado no dia 26 de julho, mas o governo de Minas Gerais não autorizou. Já o Campeonato Brasileiro, que deveria ter começado em maio, segue sem data definida para o seu início. 

 

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Rodrigo: “Torço para que o ano possa melhorar para todos. E, no momento certo da volta ao futebol, podermos retornar à rotina normal de assistir aos grandes jogos.”

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Ianka: “O meu amor pelo esporte é avassalador. Torço para que os jogos voltem logo.”

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Paula: “Faço parte de um grupo de amigos que disputa o Cartola FC e todos os anos esperamos ansiosos pelo Campeonato Brasileiro.”

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