Novos rumos na política de Resende Costa

Toninho Ribeiro defende a aproximação e parcerias como opções para o conturbado momento político em que vive o Brasil, refletindo nos municípios


Entrevistas

André Eustáquio0

fotoToninho Ribeiro

O vice-prefeito de Resende Costa Antônio Silva Ribeiro, o Toninho Ribeiro (PMDB), frustrou as expectativas de muitos observadores da política de Resende Costa que esperavam que ele permanecesse na chapa com o prefeito Aurélio Suenes (PSD), reeleito nas eleições de outubro último. Nesta entrevista, Toninho fala sobre sua trajetória política e revela porque decidiu não ser candidato em 2016. Aos 56 anos, ele não pensa em abandonar a política e deixa um mistério em relação às próximas eleições municipais: “Quanto às eleições de 2020, esperemos”.

Como foi sua trajetória profissional até decidir a se dedicar à política? Fiz de tudo um pouco até chegar a secretário de Administração do José Rosário (ex-prefeito de Resende Costa, 1997-2000), em 1998. Comecei a trabalhar cedo: desde os 10 anos de idade, vendia alguns produtos, como verduras, frutas e picolé nas ruas de Resende Costa para ajudar meus pais em casa. Ainda na adolescência, fui ajudante de marceneiro. Em 1977, mudei-me para Belo Horizonte, onde trabalhei como porteiro de prédio, office boy e ascensorista. Em seguida, tornei-me bancário do antigo Banco Mineiro, depois Unibanco. Lá fiquei por 19 anos e retornei a Resende Costa em 1996. Aqui, abri um bar e prestei serviço de transporte escolar para a Prefeitura em 1997. Fui perueiro e taxista, profissão que ainda exerço.

O que o motivou a entrar para a militância política em Resende Costa? Em 1998, fui convidado pelo então prefeito, José Rosário Silva, a assumir a Secretaria Municipal de Administração. Com o aprendizado que adquiri como bancário, vi que poderia contribuir com o serviço público e aceitei o desafio. Não foi fácil, devido à situação financeira que se encontrava a Prefeitura naquele momento, porém, conseguimos concluir bem o mandato.

E como iniciou sua trajetória no PMDB? Fui, então, convidado a me filiar no PDT. Eu já estava me envolvendo com a política e com os interesses da população e, por isso, resolvi me filiar. Nas eleições de 2000, fui candidato a vereador e recebi uma votação expressiva – fui eleito com a segunda maior votação. Nas eleições de 2004, meu trabalho foi reconhecido e fui reeleito vereador. Nesse período, por dois mandatos, fui eleito Presidente da Câmara. Em meados de 2006, percebi que não teria o espaço que gostaria no PDT e, insatisfeito com algumas decisões do partido, mudei-me para o PMDB a convite do ex-vereador Camilo Pinto. Em conversas com o partido, percebemos que Resende Costa merecia outras opções de candidatos a prefeito e resolvemos lançar nossa candidatura nas eleições de 2008. Como candidato a prefeito, obtive votação expressiva, mas não suficiente para me eleger - acredito que isso ocorreu porque tivemos quatro candidatos. Em 2012, decidi por unir-me ao Aurélio. Já havia convivido com ele na Câmara Municipal e sabia dos planos e da competência do atual prefeito. Foi a melhor decisão a ser tomada naquele momento.

Por que o senhor não tentou novamente uma candidatura a prefeito? Fiquei satisfeito com a votação que recebi (em 2008) e percebi que o povo resende-costense queria mesmo novas opções. A polarização PSDB-PT já estava desgastada. Analisando os fatos após esta eleição, vi que foi um erro termos dividido e, para não acontecer de novo, era necessário uma união na eleição seguinte. Tanto eu quanto o Aurélio éramos opções para ser o candidato a prefeito. Após muitas conversas, resolvi sair como candidato a vice-prefeito. Não me arrependo desta decisão. Foi o melhor para Resende Costa, e a confiança que depositei em Aurélio foi retribuída. Acreditava na sua capacidade, mas confesso que me surpreendi com o seu modo de gerir o município.

A decisão de aliar-se ao atual prefeito Aurélio teve um propósito além da estratégia de não dividir o eleitorado? A vontade de dar a Resende Costa uma nova opção. Sabia que se eu saísse candidato a prefeito novamente, os votos se dividiriam e o município continuaria da mesma forma, com aquela antiga política. Eu já conhecia o Aurélio, pois fomos vereadores juntos no mandato de 2004 a 2008. Durante o período, pude conhecer melhor o Aurélio e seus ideais políticos. Apesar de jovem, ele também tinha adquirido experiência política, visto que foi candidato a vice-prefeito nas eleições de 2008. Além disso, havia a questão profissional. Aurélio é formado em administração e sabia que era um diferencial importante. Quando tive mais acesso a suas ideias e projetos durante nossas conversas para as eleições de 2012, vi que seria uma decisão acertada nos unirmos. Fizemos uma campanha muito boa, bem estruturada e vencemos as eleições. O povo optou pela novidade, pois já estávamos cansados das mesmas opções e discursos.

Nas eleições deste ano, a expectativa era de que o senhor novamente compusesse a chapa com o prefeito Aurélio. O que o levou a abdicar da candidatura a vice-prefeito? Foi o que muitas pessoas me perguntaram nas ruas. Acredito que o bom político é aquele que pensa no melhor para sua comunidade e não em seu próprio bem. Vivemos um período conturbado na política brasileira, refletindo da pior forma nas pequenas cidades. Com poucos recursos e muita demanda, precisamos contar com a ajuda de deputados. Por isso eu abri mão da minha candidatura. Para que conseguíssemos mais apoio para o município e para que o Aurélio desse continuidade ao trabalho, resolvi apoiar Aurélio e Zinho. Vivemos um momento difícil de instabilidade política e econômica e, para atravessar essa fase, é importante reunir forças na administração. Com a chegada do Zinho e do PSDB, Resende Costa terá mais apoio e mais possibilidades de continuar se desenvolvendo.

Qual a avaliação que o senhor faz do primeiro mandato do prefeito Aurélio Suenes? Com todos os problemas que nós enfrentamos na Prefeitura devido à crise político-financeira do país, avalio de maneira muito positiva a nossa administração. O Aurélio tem as habilidades necessárias a um administrador e, como gestor responsável, não fez loucuras para alcançar o que precisava ser feito. Fez cortes necessários e concentrou os investimentos em áreas prioritárias. Avançamos muito na Educação, Saúde e Infraestrutura. São três campos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer município. Aurélio, porém, não deixou de olhar para outras questões, como o esporte, o artesanato e as melhorias na zona rural. Outra importante conquista foi a criação da Secretaria Municipal de Assistência Social.

Quais serão os desafios que ele encontrará no segundo mandato? Os desafios continuam sendo de ordem financeira. Devido à turbulência que nosso país enfrenta, será preciso cortar gastos sem deixar de crescer nas áreas que mais precisam. Por isso, é importante termos um político competente e inteligente como o Aurélio à frente do município.

O que o prefeito Aurélio não fez no primeiro mandato e é urgente que ele o faça? Eu diria que é a nova avenida. Aurélio iniciou a abertura dessa nova via, que irá desafogar o trânsito na avenida Alfredo Penido, mas, por dificuldades financeiras, não foi possível terminá-la. Agora, com recursos indicados pelo deputado federal Diego Andrade, acredito que Aurélio conseguirá entregar essa obra para a população. Temos o artesanato como grande atrativo e atividade econômica do município e demos um passo importante quanto à divulgação e preservação desse bem, mas falta adequar a estrutura. Com essa nova avenida, será solucionado um problema antigo, que é o trânsito na avenida de entrada da cidade.

Estamos diante de uma grave crise política no Brasil. O partido do senhor, o PMDB, está no poder com o presidente Michel Temer, e ao mesmo tempo no “olho do furacão” da crise política. Como é ser político neste momento? É muito difícil. O momento é de grande instabilidade. A política brasileira perdeu sua credibilidade, infelizmente, graças a tantos escândalos que temos acompanhado nos últimos anos. Não tiro a razão da população. Queremos pessoas que representem nossos interesses, mas o que ganhamos são políticos interessados no próprio umbigo. Falo isso a nível nacional, porque, felizmente, em Resende Costa e muitas cidades da região, temos políticos honestos, mas que, devido a esses políticos lá de cima, não conseguem o necessário para dar ao seu povo o que ele merece. Mas ainda há muitos políticos de bem e devemos lutar para que haja uma reforma na política brasileira. Assim, podemos alcançar os resultados que esperamos.

O senhor apoia o presidente Michel Temer? Sinceramente, acredito que o impeachment não era a solução para vencer esse momento conturbado. Pelo contrário, o movimento acabou agravando a situação e a tensão na política brasileira. Não fui a favor do impeachment. Porém, após o acontecimento, como político e pensando no melhor para o Brasil, não posso ser contra o presidente Temer. Agora que ele está no comando do país, deve ter a confiança do povo para que tentemos melhorias. Sei que ele está colocando em pauta propostas polêmicas, como a PEC 55. Não sou a favor de congelar gastos com serviços essenciais, como saúde e educação, mas sei que é necessário cortar em algum lugar para que as coisas se normalizem. O mais certo é começar pelos altos salários de alguns políticos.

A partir de janeiro de 2017, qual será o futuro político do Toninho Ribeiro? Nosso companheiro Gilberto Pinto costumava dizer que na política só existe a porta de entrada. E eu concordo com ele. Mas isso não quer dizer que tenho que ser candidato para ser político. Continuo interessado e à disposição de Resende Costa. Continuarei na Prefeitura no mandato de Aurélio e Zinho. Assumo, em 2017, a Secretaria de Meio Ambiente e Agropecuária. Quanto às eleições de 2020, esperemos. Certo é que, candidato ou não, eu estarei participando.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário