O desenvolvimento e suas contradições


Editorial

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A edição 195 do Jornal das Lajes apresenta ao leitor três temas de importante relevância para Resende Costa: o abandono em que se encontra a Capoeira Nossa Senhora da Penha - uma mata nativa exuberante que abriga o Horto Florestal e divide os bairros Santo Antônio, Nova Resende e o Centro da cidade; o centenário da Escola Estadual Assis Resende e a depredação de um imóvel particular situado no Beco das Lajes de Cima, um dos mais belos e visitados pontos turísticos da cidade.

É inquestionável o avanço social e econômico que o município de Resende Costa alcançou desde a sua emancipação política em 2 de junho de 1912. No entanto, é necessário também considerar as perdas. Neste período, a cidade viu desaparecer grande parte do seu patrimônio histórico e arquitetônico; espaços públicos, como as Lajes de Cima, vêm sendo depredados e mal cuidados e o meio ambiente seriamente agredido, como mostram algumas reportagens de destaque desta edição.

Diante disso, o leitor pode se perguntar: podemos mesmo falar em desenvolvimento quando ainda presenciamos agressões ao meio ambiente e atos de vandalismo em um dos principais cartões-postais da cidade?

No início do século 20, o distrito da Lage (atual Resende Costa), pertencente a Tiradentes, ganhava tamanha projeção econômica frente ao município ao qual pertencia, inclusive mantendo representante na Câmara local, que sua autonomia econômica, política e administrativa fora se tornando inevitável. O que de fato aconteceu em 1912.

Vindo a emancipação, os primeiros administradores públicos do município, liderados pelo Coronel Francisco Mendes de Resende, trataram de planejar a estruturação da cidade. Foram eleitas prioridades. As antigas atas da primeira administração – atualmente arquivadas com enorme zelo na Câmara Municipal – registram a preocupação dos gestores públicos com a organização das ruas da cidade, com as estradas de acesso e, principalmente, com a educação da população.

Em 21 de julho de 1919, sete anos após a emancipação, Resende Costa inaugurava o belíssimo prédio do Grupo Escolar Assis Resende. Foram muitos esforços, sobretudo financeiros, empregados neste empreendimento, que, mais uma vez, contou com a dedicação e o olhar de futuro do Coronel Mendes de Resende. Era necessário, acima de qualquer prioridade, cuidar da educação da população.

Cem anos se passaram. O Grupo Escolar Assis Resende tornou-se Escola Estadual Assis Resende e ainda se mantém no mesmo edifício, desafiando a escassez de espaço e forçando seus diretores e funcionários a usarem a criatividade para adequar uma edificação do início do século 20 à demanda atual. Apesar dos problemas, a escola centenária vem se destacando pela qualidade do ensino oferecido, pela capacitação dos seus professores e pela quantidade de alunos que conseguem acesso aos melhores centros universitários. A educação planejada há cem anos pelos primeiros administradores do município hoje colhe frutos. Quantos brilhantes profissionais de diversas áreas sentaram-se nas carteiras do Assis Resende!

Porém, quando vemos uma mata nativa, batizada com o nome da padroeira de Resende Costa, localizada próximo à Câmara, à Escola e à Prefeitura, encontrar-se seriamente ameaçada, questionamos: onde falhou a educação da população que ainda desmata, joga esgoto e lixo no meio ambiente e polui nascentes?

A destruição da Capoeira Nossa Senhora da Penha, a depredação de espaços públicos e de imóveis particulares revelam as contradições do desenvolvimento de uma cidade e são também exemplos de que há falhas graves na educação (escola, família, sociedade) e na gestão pública.

Às vezes é preciso olhar para o passado e mirar-se no exemplo e nas obras daqueles que construíram o que hoje somos.

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