O talento sertanejo de Weber Vieira

"Canto por prazer. Não tenho ambição de fazer sucesso. Se daqui a um mês não tiver mais nenhum show, passo a mão no violão e toco sozinho."


Perfil

André Eustáquio0

Weber Vieira. Foto arquivo pessoal.

Desde criança a música esteve presente na vida do resende-costense Weber Daury Vieira Ferreira. Filho de Francino Ferreira da Cruz e Gizélia Vieira, Weber herdou do berço a inspiração para a música. “Meu pai sempre gostou de música. Ele canta, toca violão e acordeom. Sempre gostei de música, desde a época do Escondidinho (antigo restaurante, hoje pousada da Gizélia), tanto que tenho na memória as músicas que eu ouvia quando tinha oito anos”, lembra Weber. Hoje, com 38 anos, casado há 16 com Silvana Auxiliadora Chaves e pai de Isabela Chaves Vieira, de 11 anos, Weber resolveu, como ele mesmo diz, “levar a música a sério”, tornando-se um talentoso intérprete do estilo de que mais gosta: o sertanejo.

Na infância em Resende Costa, Weber sempre se destacou nas coroações de Nossa Senhora, no mês de maio. Sua voz bonita, potente, afinada e aguda garantia-lhe os principais solos das coroações. “Eu me lembro das coroações feitas pela Maria da Penha, Lilia Lara e Coraci Vale. Devem ter gravações dessas coroações, né?” Mesmo precocemente esbanjando talento, ser cantor não foi o sonho de infância do menino Weber. “Nunca pensei, enquanto criança, em ser cantor”.

Tudo começou tempos depois diante da vitrine de uma loja de instrumentos musicais em São João del-Rei. “Passei de fora de uma loja em São João, há quatro anos, e falei com a Silvana: vou comprar um violão pra mim. Ela achou a coisa mais louca. O violão custava 600 reais. Aí ela falou: ‘Mas 600 reais?’ Ah, se eu não tocar, eu vendo ele depois. Então, comprei o violão”. O problema não foi comprar o violão, mas o que fazer com ele. “Quando cheguei em casa, pensei: e agora, como vou tocar esse trem? Eu não sabia nada, nunca tinha colocado a mão num violão. Aí minha menina me falou: ‘olha na internet, pai’. Fui lá e digitei ‘como tocar violão’. Uma dificuldade danada. Os dedos duros, normal para quem está começando”.

Olhos atentos diante da tela do computador, dedicação e disciplina. Com pouco mais de dois meses, Weber já começou a tocar violão. “Peguei aquelas músicas que eu mais gostava, passava das mais difíceis para as mais fáceis. Pegava uma hora todos os dias. Às vezes no café da manhã ficava em frente ao computador. Mas, como eu já tinha facilidade para cantar, com um ou dois meses, pegando as músicas mais fáceis, eu já cantava duas ou três músicas. Aí foi deslanchando, fui ganhando musicalidade e ouvido. A musicalidade me ajudou, pois eu já tinha noção de tom agudo, tom mais alto etc., aí voltei para a aula de violão tentando assimilar isso. E assim foi fluindo”. Weber já havia tentado aprender a tocar violão um pouco antes, mas não perseverou: “Não continuei porque não tive paciência. O professor (Ricardo), muito bom, queria me ensinar partitura, mas aí eu não tive paciência. Então fui para a internet. Teve que ser na raça mesmo (risos)”, conta o violonista autodidata, que continua estudando sozinho. “Tenho que aprender muito de violão ainda”, afirma.

 

Um barzinho, um violão...

Quem não gosta de uma mesa de bar, de uma roda de viola embalando a conversa entre amigos e, claro, daquela porção de carne - tira-gosto de uma cerveja estupidamente gelada e da tradicional cachaça mineira? Todo bom boêmio não dispensa esse cardápio fascinante e viciante. Foi justamente nesse saboroso contexto boêmio que Weber Vieira iniciou sua carreira, cantando com os “Solteirões” - trio formado com Leandro (Guet) e Fábio Belo. Os Solteirões começaram a fazer sucesso em algumas festas de amigos, mas, conforme Weber, não havia “compromisso sério”. Os contatos para contratar o trio eram feitos através do Whatsapp, “mas a gente chegou a ser remunerado por algumas apresentações”, conta Weber.

O palco dos Solteirões era preferencialmente um buteco: “Onde tinha um buteco, música e cachaça a gente parava e cantava. Foi aí que pegamos o apelido de ‘solteirões’ (risos)”, revela Weber, que decidiu, em outubro de 2015, dar um salto em sua carreira: “O pessoal começou a me chamar para tocar, através de mensagens no Whatsapp: ‘vem tocar aqui...’ Aí me chamaram para tocar numa festa do Clube dos Cavaleiros, no pesqueiro do Ismael (do Chico Carioca). Nesta época, sempre que ia cantar, eu bebia. Foi quando resolvi  levar a coisa a sério, ou seja, passei a não cantar com cachaça. Se alguém está te contratando, você não pode ir bêbado. Você tem que ir para fazer o melhor”.

 

Estilo

Weber gosta de ouvir, cantar e tocar música sertaneja. Seu repertório é vasto e transita do sertanejo raiz ao recém-criado ‘sertanejo universitário’. “Sempre gostei do sertanejo raiz e do clássico. Nunca gostei do chamado sertanejo universitário. Apesar de que têm músicas do sertanejo universitário que são boas, outras são descartáveis, né? Mas acaba que tenho que cantar, pois sou intérprete, as pessoas pedem e não estou tocando só pra mim. Se fosse tocar só pra mim, iria tocar Milionário e Zé Rico, Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, Renato Teixeira, entre outros”, diz Weber.

O gosto musical o ajuda a compor as apresentações, ocorridas geralmente em bares e festas particulares. Apesar da atual predominância do sertanejo universitário, Weber tem sentido da plateia o gosto pelas músicas tradicionais do repertório sertanejo: “O sertanejo antigo domina até o público mais jovem. Quando a gente toca músicas do sertanejo clássico, como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, é o momento em que o pessoal mais gosta. Você agrada a todos. Você não vê ninguém torcendo o nariz quando você toca Leandro e Leonardo. Pode ser uma menina de 14, 15 anos, ou até uma pessoa de 40, 50 anos. Têm pessoas que às vezes nem conhecem o cantor, mas já ouviu e gostou da música. As pessoas conhecem a música que marca mais”.

Weber comenta a atual fase da música sertaneja e diz ser difícil definir um estilo. “Hoje ninguém sabe, até quem gosta não sabe classificar. Mesmo esses cantores novos, todos eles gostam das músicas mais antigas, mas a mídia os levou a compor músicas a cada semana”. Mesmo não sendo o sertanejo universitário seu estilo favorito, Weber reconhece o talento da nova geração de intérpretes da música sertaneja: “Ninguém faz sucesso sem qualidade, todos têm suas qualidades”.

 

O show

Desde outubro do ano passado, os finais de semana de Weber Vieira começaram a ser preenchidos por apresentações em bares e festas. Antes, a rotina dele era trabalhar com sua mãe na Pousada Escondidinho e no artesanato. Agora, Weber já tem que dedicar parte do seu tempo para preparar os shows. Ele revela que não tem uma programação bem definida, mas já possui em seu repertório cerca de 80 músicas. “Nunca toquei 40 músicas desse repertório. Coloquei 80 que eu sei tocar e cantar, mas quando chega lá na frente, me pedem música que eu sei, mas que não estão no repertório, e também músicas que eu não sei. Aí eu falo: vou tocar, mas vocês me ajudem”.

Weber tem se apresentado praticamente em todos os finais de semana. Nos barzinhos ele canta em média três horas. “É um tempo razoável para não castigar a voz”, diz. Mas em uma apresentação no “Barril Bar”, em Resende Costa, ele cantou durante 5 horas. Essa maratona não assusta o cantor, que vibra com a música e, sobretudo, com a animação da plateia: “Sinto a música. É muito gratificante quando você vê as pessoas pedindo música, o chão cheio de papéis de pedidos. É gostoso”. Weber já até possui um “fã clube”: “Tem pessoas que me acompanham e dizem: ‘me fala onde você vai cantar, que eu vou’”.

No fim de 2015, Weber realizou apresentações em algumas cidades da região, como Lagoa Dourada, Ritápolis e Coronel Xavier Chaves. Ele já tem contatos em São João del-Rei, onde deseja se apresentar e mostrar seu trabalho.

 

Futuro

A ambição de se tornar cantor famoso não está no horizonte do resende-costense Weber Vieira. Ao ser indagado sobre o futuro, ele não hesita em afirmar: “Não fico imaginando muito como vai ser. Se amanhã eu tiver agendados dez shows por mês, vou com prazer. Canto por prazer. Não tenho ambição de fazer sucesso. Quero viver cada dia. Se daqui um mês não tiver mais nenhum show, passo a mão no violão e toco sozinho”.

Apesar de não pensar num futuro profissional relacionado à música, Weber admite que nos últimos meses tenha se dedicado quase que exclusivamente aos shows: “Não tenho ambição, mas pra te falar a verdade, nestes últimos três meses, vivi da música. Não sentei no tear, às vezes deixei de lado a pousada... a minha renda passou a vir da musica”. A apresentação de Weber Vieira está em torno de R$ 300,00. Há finais de semana em que ele se apresenta na sexta, sábado e domingo, chegando a cantar em dois lugares diferentes num mesmo dia.

 

Paralelo à carreira solo, Weber tem se dedicado, ao lado de Marcelo, Reinaldo, Gledson e Cezinha, aos ensaios de uma banda. Segundo ele, trata-se de um projeto ainda nascente. A banda não possui um nome e não há previsão para estreia. No entanto, para os amantes da genuína música sertaneja, Weber antecipa que o repertório da banda será exclusivamente dedicado ao sertanejo raiz e clássico.

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