Os primeiros carros elétricos chegam a Resende, região do rio Douro

Com os preços dos combustíveis em alta, os carros elétricos tornaram-se mais atrativos, mas ainda não são acessíveis para a maioria da população.


Economia

José Venâncio de Resende0

Nuno a carregar seu carro no posto de Resende (foto: Marcos Rodrigues / Ideal).

Desde agosto, funciona em Resende, norte de Portugal, um posto da Rede Mobi.E (entidade gestora da Rede de Mobilidade Elétrica) para o carregamento de carros elétricos. O protocolo firmado entre o Município e a Mobi.E não implica custo e tem um prazo de concessão de dez anos, ao fim do qual a autarquia poderá requerer a propriedade do equipamento.

O posto, localizado na Avenida Rebelo Moniz, em frente ao Paços do Concelho, está equipado com dois pontos (tomadas) de 22 Kw, permitindo o carregamento semirrápido, em simultâneo, de dois veículos, segundo Jorge Lobão, da Câmara Municipal (equivalente a Prefeitura no Brasil). Este é o primeiro posto de carregamento em local público no Município e a intenção é instalar nova unidade junto às piscinas cobertas, acrescentou.

Os utilizadores de veículos elétricos têm de contratar com o Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) o fornecimento de um cartão que permite acionar qualquer posto de carregamento ligado à rede MOBI.E. 

Poucos veículos

Antes da instalação do posto de carregamento, já havia carro elétrico a circular em Resende. É o caso do Hyundai Kauai que o engenheiro civil Paulo Rocha possui desde 2019. O utilitário tem como características principais a economia, o baixo impacto ambiental e o conforto.

Numa época em que aumentam os protestos pelos aumentos nos preços dos combustíveis, este utilitário chega a gastar dez vezes menos, revela Rocha. O veículo possui uma autonomia de cerca de 400 km, por exemplo, entre Resende e Lisboa. Numa velocidade moderada, é possível chegar a capital portuguesa sem necessidade de efetuar novo carregamento, acrescenta. 

A marca dá garantia de oito anos para a bateria, diz Rocha, que carrega seu carro em casa. Com uma boa gestão do carregamento, uma bateria pode durar mais de 15 anos, segundo a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE). O recomendável é manter a carga da bateria entre 80 e 10%, ou seja, não carregar na totalidade nem deixar o nível de carga inferior a 10%.

O utilitário de Paulo Rocha é um dos cerca de seis veículos, entre elétricos e híbridos, identificados pela nossa reportagem em Resende.

Outro carro elétrico é de propriedade do músico e técnico de informática, Nuno Machado. Trata-se de um utilitário elétrico Renault Twingo, modelo 2020, que atende às necessidades de Nuno, como comodidade para uma pessoa e a conveniência do trajeto (entre Resende e Porto e na região metropolitana).

Nuno percorre cerca de 180 km de estrada, com uma boa gestão da viagem, e 230 km na zona urbana do Porto onde trabalha. Para isso, ele carrega 1,5 euro em casa (com autonomia para 180 km). Também utiliza cartões de operadoras (Galp, EDP Comercial etc.) nos postos de carregamento, escolhendo sempre aquele mais vantajoso em termos de taxas de utilização.
Já o engenheiro civil Carlos Aarão optou, desde abril de 2020, por um Fiat Panda Hybrid Sport, com bateria autocarregável. O veículo é utilizado pela família na cidade e em viagens ao Porto.

No híbrido, a energia do motor elétrico serve de apoio ao motor a gasolina em situações de maior esforço (numa subida, por exemplo) e em caso de redução da velocidade abaixo de 30 km. As vantagens do carro são o menor consumo, a pouca manutenção e a não necessidade de carregamento, resume Aarão.  

Renting

A alternativa à aquisição de um veículo elétrico é o renting ou o aluguel de longa duração. É o caso de Miguel Pinto, que atua no setor de seguros. Trata-se de uma solução que permite beneficiar-se da utilização do carro escolhido mediante o pagamento de uma renda mensal fixa. Os custos à sua utilização estão todos incluídos no serviço, seja para uso particular ou profissional. A renda mensal é calculada em função da marca e modelo escolhidos, do prazo do contrato e da estimativa de quilômetros a serem percorridos, assim como dos serviços abrangidos.

Utilitários elétricos ainda não estão ao alcance da maioria da população. “Infelizmente, Resende não tem poder de compra dados os preços muito elevados dos veículos elétricos”, lamenta Anabela Oliveira, vice-presidente da Associação Empresarial de Resende (AER). Mas este não é um problema só do município, adverte, pois “a grande maioria dos portugueses não tem capacidade financeira para adquirir veículos 100% elétricos”.

Os preços desses veículos são muito elevados e faltam apoios do estado na sua aquisição, acrescenta Anabela. Por isso, diz, “Deviam ser criadas discriminações positivas às empresas e aos particulares na aquisição destes veículos, especialmente no interior onde quase não há transportes públicos e os que existem não servem quem tem diariamente de usar um transporte para ir trabalhar”.

Nesse sentido, há especialistas que defendem que é mais viável subsidiar carros elétricos do que simplesmente optar pelo caminho mais fácil de aumentar imposto sobre combustíveis, embora este último seja óbvio (e economicamente eficiente) para induzir a transição climática, apesar de impopular. 

Desvantagens

Para além do preço, há outras desvantagens e incertezas, como mostra aos seus leitores o Jornal do Centro. Hoje em dia, com a eletricidade a ficar muito cara, por exemplo, é preciso gerir bem o carregamento de carro elétrico em posto público, para melhor comparar com o carro a gasolina, diz Joaquim Delgado, docente do curso de gestão industrial do Instituto Politécnico de Viseu (IPV). 

Rede nacional

A Rede Mobi.E, ou Rede de Mobilidade Elétrica, é uma rede de postos de carregamento de veículos elétricos de acesso universal, interoperável e centrada no utilizador. Atualmente, a rede conta com mais de 2.000 postos de carregamento em todo o país; mais de 450 são de carregamento rápido ou ultrarrápido, isto é, a sua potência é superior a 22 kW.

A Rede Mobi.E permite que se carregue um veículo em qualquer de seus postos de carregamento no Continente, nos Açores e na Madeira, independentemente do respectivo Operador de Ponto de Carregamento (OPC) ou Detentor de Ponto de Carregamento (DPC); isto desde que possua um contrato ativo com qualquer CEME. A gestão e a monitorização da rede, especialmente em termos de fluxos energéticos, financeiros e de informação, são de responsabilidade da MOBI.E, S.A., empresa pública que surgiu em 2015. 

 

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