Uma ponte imaginária para crianças sobre as águas do Oceano Atlântico construída durante a pandemia do novo coronavírus. É o projeto de contação de histórias online, criado na Áustria (Europa) por Julliane Rüdisser, fundadora e coordenadora da Mala de Herança de Tirol. Para isso, ela lança mão de autores como Ana Maria Machado, Eva Furnari, Daniel Munduruku, Edson Krenak, André Neves, Selma Maria, Ruth Rocha, Geraldo Peçanha de Almeida e Anderson Novelo, entre outros.
Inicialmente, o projeto “muito pessoal” de Julliane destinava-se a contar histórias online para as sobrinhas que vivem no Brasil e em Portugal. “Então, tudo começou com a ideia de aliviar minha irmã e cunhada durante este período complicado. Eu comecei a contar histórias para as minhas sobrinhas no zoom 1-2 vezes por semana. Para as mamães e os papais poderem tomar um café com tranquilidade, ou um banho, ou adiantar alguma tarefa ou até mesmo dormir uma soneca.”
Julliane partiu da constatação de que “ficar em situação de distanciamento social com crianças é muito estressante porque os pais se vêem desempenhando múltiplas tarefas: a de ser pai, professor, amiguinho, avó, enfermeiro, psicólogo, cozinheiro, faxineiro e muitas vezes fazendo tudo isso paralelo ao home office”. Por isso, pareceu “uma boa idéia essa de contar histórias para as crianças e presentear os pais com um tempinho de pausa”.
Com o passar do tempo, Julliane estendeu a oferta a amigos e conhecidos que estavam na mesma situação. “As meninas também foram se entusiasmando e chamando outros amiguinhos. O nosso mini projeto está a crescer e é uma oportunidade para quem procura uma atividade de conteúdo qualitativo para as crianças durante este período desafiador.
“Baile de máscaras”
A contação de histórias é organizada através de grupo no WhatsApp, explica Julliane. “Não tenho dias nem horários fixos, é de acordo com a minha disponibilidade de tempo. Lá no grupo mando o convite alguns dias antes já com o link e no dia da contação é só entrar e curtir.”
Cada encontro dura em média de 45 minutos a 1 hora. “Escolho histórias divertidas para produzir risadas, o que certamente alivia a tensão que as crianças talvez, inconscientemente, sintam neste momento anômalo”, diz Julliane. “Mas escolho também histórias mais sérias, que retratam emoções e que verbalizam situações que elas vivenciam ou vivenciaram.”
No último encontro, uma criança externalisou que não aguentava mais ouvir falar em coronavírus, que ela queria que tudo isso acabasse, relata Julliane. “Escolhi então uma história que alimentou a imaginação das crianças: na história, uma bruxa resolveu sair de férias. Conversamos depois sobre fazer férias quando tudo isso acabar; também sobre o que fazer com nossas máscaras quando ´a vida voltar ao normal´; decidimos que iremos fazer um baile de máscaras.”
Julliane ressalta o poder transformador da literatura na vida das pessoas, em especial das crianças. “Me deixa muito feliz vivenciar isso. É justamente este o poder da literatura, o de nos transportar da nossa realidade para um universo de infinitas possibilidades. Eu creio muito no poder transformador da literatura, e poder passar isso adiante é um privilégio e uma missão de vida.”
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