Parcerias, organização e investimento: eis a fórmula para se dar bem na atividade leiteira


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André Eustáquio/Emanuelle Ribeiro0

José Helvécio (esq) e sua família, no Sítio Barbatimão 2. Foto Emanuelle Ribeiro.

“A atividade leiteira é complexa e têm muitas despesas”, diz José Humberto Resende, que enumera desafios que chegam a desanimar algumas pessoas no início da atividade. De acordo com o produtor, a escassez de mão de obra qualificada é um dos entraves enfrentados pelos fazendeiros produtores de leite. “Quando você não tem um bom empregado, fica tudo mais difícil. É por isso que hoje a atividade familiar tem predominado”, destaca o produtor.

Para ajudar o produtor a enfrentar os desafios e se adequar às exigências do mercado, as associações e cooperativas têm oferecido projetos de parcerias, que já estão sendo aprovados pelos produtores, como o Programa Balde Cheio, desenvolvido no município pelo Sicoob Credivertentes. O Balde Cheio foi criado pela Embrapa Pecuária Sudeste para difundir inovações que proporcionem aumento da rentabilidade a produtores de leite de todos os portes. Foi implementado em Minas Gerais pelo Sistema FAEMG, que tem se empenhado em levar o programa a todas as regiões do estado. A dinâmica do programa consiste na capacitação de técnicos contratados por entidades parceiras para assistirem aos produtores.

Trata-se de um programa de gestão que auxilia o proprietário a administrar a fazenda, conforme explicou Rogério Ladeira Franco, Gerente de Negócios do Sicoob Credivertentes. “Uma vez no mês, o produtor recebe a visita do técnico [em Resende Costa e região é o médico veterinário Vitor César Moura Júnior]. O produtor anota todo o movimento na propriedade e o técnico avalia esse material anotado, para depois traçar um planejamento que atinja as metas desejadas pelo produtor”.

O Sicoob custeia 50% dos gastos com a visita técnica nas propriedades, além de oferecer outras atividades, como dia de campo e visitas a municípios, onde o Programa Balde Cheio é desenvolvido. O programa está presente em seis cidades da região das Vertentes - Madre de Deus de Minas, Nazareno, Itutinga, Mercês/Capelinha, Resende Costa e Coronel Xavier Chaves –, atendendo a 25 produtores associados. Em Resende Costa são nove produtores participantes. José Humberto destaca a eficácia do programa: “O Programa Balde Cheio é o que melhor atende ao pequeno produtor, pois trouxe técnicas eficazes”.

 

Gestão de custos. Atualmente, o produtor que não administra a sua propriedade como uma empresa tende a não conseguir se sustentar na atividade. É o que defendem os produtores que estão no ramo há mais tempo e que procuraram crescer através de parcerias, planejamento, investimento e organização. “Você não administra sem números. O programa Balde Cheio ajuda o produtor a administrar não mais um terreninho, mas uma empresa. O programa é uma consultoria de gestão”, frisa Rogério Ladeira.

A Emater-MG é também parceira importante do homem do campo e tem desenvolvido projetos de apoio ao produtor de leite: “A Emater apoia levando aos produtores tecnologia, como o manejo de pastagens, principalmente. Assessora na compra conjunta de insumos, cursos e acesso ao crédito. Na medida do possível, a Emater tenta facilitar a vida dos produtores e seus familiares, que são o público alvo da empresa”, diz Túlio Maia.

 

Crise econômica. A crise econômica que atinge o Brasil tem deixado seus efeitos também no campo. A inflação alta tem gerado aumento do preço de insumos, afetando o valor final do produto, no caso o leite. “A crise afeta com certeza o produtor de leite. Devido à inflação alta, ele compra mais caro ração e insumos e quando vai vender o seu produto, o preço final não acompanhou a alta dos custos”, diz Rogério Ladeira, do Sicoob.

O Extensionista da Emater, Túlio Maia, também chama atenção para os efeitos da crise econômica na atividade leiteira: “Interfere e muito. Imagina você tendo que comprar insumos, como ração, produtos veterinários etc., e os mesmos estando 10% mais caros todo mês, e o leite com o mesmo preço ou menos? Essa conta não vai fechar”.

 

Apesar da crise econômica e dos inúmeros desafios enfrentados diuturnamente, os produtores afirmam que vale a pena investir e trabalhar. As exigências são muitas, especialmente no que se refere à qualidade do leite. “Fazemos análise constante do leite”, diz Benoni. José Humberto diz que o importante é ter paciência, trabalhar e cuidar bem da propriedade: “A atividade leiteira não é um comércio, você não enriquece do dia para a noite. Inclusive, muita gente desanima devido à baixa rentabilidade. Mas vale a pena, com certeza”.

 

 

 

O pequeno produtor também precisa se organizar, se quiser permanecer no ramo

Duzentos e quarenta litros de leite por dia é o que produz atualmente José Helvécio Ferreira, 39 anos, no Sítio Barbatimão 2. “A meta é chegar aos 300 litros”, disse o pequeno produtor, que está no ramo há 10 anos e trabalha com um plantel de 24 vacas de leite. Na propriedade de 26 hectares, localizada na região do Curralinho dos Maias, divisa de Resende Costa com Lagoa Dourada, ele vive com a esposa Andréia, os filhos Paula Cristine Ferrreira e Matheus Maia Ferreira, e os pais Anemércio Ferreira Machado e Maria Alice. Quase todos ajudam na lida. O filho Matheus tem apenas três meses, mas já é criado junto à realidade da produção de leite. A atleticana Paula Cristine, 12 anos, chega da Escola Paula Assis, no povoado do Ribeirão, por volta das 17h45min, calça as botas de borracha e vai logo para o curral ajudar o pai na ordenha da tarde. Ela diz que não pretende ir embora da fazenda, quando concluírem os estudos. “Gosto de tirar leite”, diz Paula.

A família, como na maioria das propriedades de leite do município, é o alicerce para o sucesso do negócio de José Helvécio: “Meu pai me deu todo o apoio para começar e até hoje está comigo”. O produtor também trabalha com o piquete rotacionado: “A Emater me ajudou demais dando orientação. Estava perdendo dinheiro e tive o suporte para investir certo. Prática é importante, mas precisamos de teoria também”, destacou.

Na propriedade de José Helvécio, as máquinas também fazem parte da rotina. Há alguns anos, ele se uniu a dois produtores vizinhos, Valdevino Benedito de Paula e Rogério de Sousa Campos, na compra de um trator e implementos. Investimento que diminuiu os gastos para ambos os produtores. Na própria fazenda, Helvécio realiza inseminação artificial no gado e a ordenha é quase toda mecanizada. Quando precisa de algum serviço extra, José Helvécio recorre à Arcosta, da qual é associado, e tudo sai mais em conta, segundo ele.

O leite, que é enviado para o Laticínio Porto Del Rey em São João del-Rei, é tirado duas vezes por dia: às 6 e às 17 horas. A rotina é pesada: “Tem que ter força de vontade, porque são muitas dificuldades. Tem que gostar mesmo. O trabalho é todo dia e às vezes temos que deixar muita coisa de lado”, contou o produtor, que é fanático por futebol. Conforme revelou sua mãe Maria Alice de Lima Ferreira, “ele chegou a fazer teste para ser jogador profissional”.

Andréia de Fátima Maia Ferreira, esposa de José Helvécio, apoia o marido e também trabalha, sendo a responsável pela contabilidade: “Quando fico em Resende Costa eu sinto falta daqui. Estou acostumada com a rotina. Gosto de ir para o curral, de ajudar”.

Não podemos nos esquecer de um detalhe peculiar no curral de José Helvécio: a primeira coisa que ele faz ao começar a preparar a ordenha é ligar o rádio e sintonizar músicas sertanejas. “As vacas só começam a dar leite quando o José Helvécio liga o rádio e toca música sertaneja”, revelou Andréia.

A visita ao Sítio Barbatimão 2 não poderia ter terminado de outro jeito: com um copo de leite recém-tirado pela repórter Emanuelle Ribeiro. Leite fresquinho e experiência inesquecível.

 

 

Fonte: Sistema FAEMG

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