Preocupação com a saúde e com o cotidiano das pessoas em tempos de pandemia

O clínico geral Paulo Cezar Fortuna Dias defende o isolamento social, no entanto, mostra-se preocupado com a radicalização da medida restritiva que, segundo ele, pode causar transtornos permanentes às pessoas


Entrevistas

André Eustáquio0

Dr. Paulo em seu consultório na Praça Rosa Penido, centro de Resende Costa: defesa do uso de máscaras e do respeito pela população às medidas protetivas (Foto: André Eustáquio)

No próximo dia 17 de outubro, o clínico geral Paulo Cezar Fortuna Dias completará 43 anos de trabalho em Resende Costa. Natural de Alto Rio Doce, na Zona da Mata Mineira, doutor Paulo chegou a Resende Costa em 1977 como jovem médico formado em uma das poucas faculdades de medicina, até então, em Minas Gerais: a UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Nas últimas décadas, doutor Paulo participou do desenvolvimento de Resende Costa, especialmente na área da saúde, trabalhando na antiga Santa Casa, hoje Hospital Nossa Senhora do Rosário, administrado pelas irmãs Filhas de São Camilo (camilianas). “Em outubro vai fazer 43 anos que estou aqui. No início, foi tudo muito difícil. Eu ia para casa no final de semana e não sabia se ia voltar. Mas fui gostando da cidade. Interessante lembrar que uma coisa me ajudou a ficar aqui e não foi a medicina: foi o futebol. Sempre fui apaixonado por acompanhar e praticar o futebol. E naqueles tempos, o saudoso Jesus barbeiro, vendo que eu estava meio ansioso, me disse: ‘pega a bola e o apito, vá para o campo e você vai ver que num instante vai encher de gente lá pra jogar com você’. E ele estava certo. Fiz isso, as pessoas chegavam, a gente treinava várias vezes na semana e jogava aos domingos. E aí eu fui ficando”, conta doutor Paulo, flamenguista apaixonado e grande entusiasta do esporte em Resende Costa.

Com 43 anos de experiência na medicina e grande parte desse tempo dedicado à população de Resende Costa, doutor Paulo fala nesta entrevista exclusiva ao Jornal das Lajes sobre a pandemia do novo coronavírus. Ele relata qual foi sua primeira reação quando teve notícia de que uma grave pandemia havia surgido e poderia atingir as cidades do interior do país.

De acordo com doutor Paulo, o isolamento social - recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela comunidade científica como sendo a medida mais eficaz de combate ao novo coronavírus, uma vez que ainda não há vacina e nenhuma medicação específica – deve ser equilibrado e flexível para não trazer outras graves complicações às pessoas, sobretudo psicológicas, sociais e econômicas. No entanto, o médico reconhece que a medida de contingência é necessária principalmente para não deixar que as pessoas adoeçam ao mesmo tempo e sobrecarregue o sistema de saúde. “O isolamento social, na nossa opinião, tem o seguinte objetivo: retardar a difusão da doença, porque não vamos ter estrutura hospitalar para atender tanta gente de uma só vez”, diz doutor Paulo.

Para ele, o novo coronavírus chegará também a Resende Costa, independentemente das medidas de isolamento social. “É uma utopia achar que a doença não vai chegar para nós aqui. Ela vai chegar”, afirma o médico.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com doutor Paulo Cezar Fortuna Dias, clínico geral do Hospital Nossa Senhora do Rosário.

Em 2012, uma epidemia de H1N1, conhecida como gripe suína, atingiu muitos países, inclusive o Brasil. Ela chegou forte à nossa região? Não, não teve assim uma disseminação tão intensa.

Qual a diferença da epidemia de gripe suína para a pandemia do novo coronavírus? A gente faz uma diferenciação entre a gripe suína e essa pandemia do corona pela seguinte razão: a atual pandemia começou pela classe alta brasileira, pelo pessoal que viaja ao exterior, que participa de cruzeiros. Por isso, na mídia deu uma repercussão maior porque pegou pessoas influentes. Já a gripe suína começou mais na África, entrou no Brasil pelo Sul e não chegou a causar tanto alvoroço, embora tenha causado muitas vítimas naquela época. Mas não chegou a ser uma pandemia. Foi uma endemia. A pandemia é quando atinge o mundo inteiro, muitos países preocupados com isso. A diferença básica é: ambos são vírus de gripe, mesmo o corona, só que são cepas totalmente diferentes. O problema do vírus é que ele tem grande capacidade de mutação. A mesma cepa de hoje pode ser totalmente diferente amanhã, daí a dificuldade de se fazer uma vacina realmente eficaz, de ter uma vacina que sirva para todas as gripes.

O novo coronavírus, causador da Covid-19, é então um vírus de gripe? Sim, mas ainda se conhece muito pouco sobre ele. Ele pegou todos de surpresa. O vírus surgiu na China e, por algumas razões, eles demoraram a divulgar. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) demorou a reconhecer a gravidade desse vírus. Trata-se de um vírus de alta contagiosidade que passa facilmente de uma pessoa para outra. Através de um contato muito fugaz a pessoa portadora é capaz de atingir outra pessoa com muita facilidade. Por isso a preocupação que se tem com esse vírus é com a quantidade de pessoas que adoecem ao mesmo tempo. Daí a necessidade de fazer o isolamento social, usar equipamento de proteção individual (máscaras), porque se adoecer todo mundo ao mesmo tempo, a nossa rede hospitalar não vai ter condições de atender todas as pessoas que apresentarem as complicações da gripe.

Especialistas afirmam que mais de 80% das pessoas infectadas pelo coronavírus poderão ser assintomáticas, ou apresentarem somente sintomas leves. A maioria das pessoas vai ter contato com esse vírus sem sentir nada. Eu diria que 80 a 90% da população. Uma parcela da população vai ter manifestação de um simples resfriado; já um grupo vai ter a gripe propriamente dita, e ela vai ser terrível principalmente para aquelas pessoas que não se cuidarem, ou que tiverem algum problema de saúde que possa comprometer-se e ser agravado pela presença do vírus (no organismo). É um vírus que tem uma capacidade muito grande de causar problemas graves, principalmente quando ele atinge as vias aéreas. Ele poderá trazer às pessoas uma dificuldade respiratória que geralmente necessita recorrer ao hospital e receber uma assistência respiratória assistida.

Aí surge uma grave situação, que praticamente todos os países vêm enfrentando, que é a quantidade insuficiente de respiradores nos hospitais para atender a grande demanda. É uma briga que hoje está aí para conseguir os respiradores. Na verdade, nunca ninguém se preocupou com a saúde no Brasil, né? Saúde não dá voto. A nossa rede pública está sucateada, não tem recursos para nada. São João del-Rei é uma cidade polo aqui na região e, se tiver, tem uns seis respiradores no Hospital das Mercês, dezoito na Santa Casa, que atende todo mundo. Isso para a região toda. São muito poucas vagas. É importante lembrar também que essas vagas não são somente para vítimas da Covid. Nós temos todos os dias vítimas de infartos, de AVC, de acidentes e de traumas, ou seja, pessoas que precisam de outras vagas também.

O isolamento social contribui também para desafogar os hospitais? A escassez de atendimento a toda população acaba gerando a necessidade de fazer esse contingenciamento para que essa doença não chegue a todas as pessoas ao mesmo tempo. Então nós estamos fazendo esse isolamento. Aqui em nossa cidade, por exemplo, graças a Deus nós ainda não temos nenhum caso. Os cuidados estão sendo todos tomados, mas nós temos certeza absoluta de que o vírus vai chegar aqui. Ele só não vai chegar aqui e causar transtornos se até lá for descoberta uma vacina que possa proteger a população, ou surgir uma medicação realmente eficaz contra esse vírus desconhecido, sobre o qual se sabe muito pouco. Inclusive, se sabe muito pouco sobre seu comportamento, sobre sua capacidade de mutação. Já há estudos mostrando que em países diferentes cepas diferentes do vírus estão causando a mesma doença.

O isolamento social, portanto, continua sendo necessário? O isolamento social é necessário, mas ele não vai impedir, de jeito nenhum, que a doença chegue entre nós. Temos que estar preparados. O que não pode acontecer é que a doença chegue a todos ao mesmo tempo, porque senão vai faltar vaga no hospital para atender a todos. Já pensou se todo mundo de Resende Costa adoecer, como que o hospital daqui vai dar conta de atender a todos? Então é necessário achatar a curva da doença para que não falte atendimento para as pessoas que precisarem.

No Informe Epidemiológico divulgado diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde chama atenção o grande número de notificações de casos suspeitos em Resende Costa. Na última atualização do boletim, neste sábado, 23, constam 99 notificações. Esse número é muito alto, sobretudo quando comparado a municípios vizinhos do mesmo porte de Resende Costa. O que explica essa grande quantidade? Hoje a determinação (do Ministério da Saúde) é que toda síndrome gripal seja notificada como suspeita de Covid. Você notificou, faz um acompanhamento clínico, que pode ser domiciliar, ou seja, a pessoa fica em casa e vai sendo acompanhada pela vigilância sanitária. Se houver um agravamento dos sintomas, é feita coleta de material para que seja realizado o exame a fim de detectar se a pessoa está portadora ou não da Covid. Existem dois testes básicos que estão sendo feitos. Um chamado teste rápido que proporciona rapidez em obter o resultado (em média 15 minutos), mas não permite detectar precocemente a doença, pois ele só dá resultado após o oitavo dia de os sintomas aparecerem. Ele vai indicar a presença de anticorpos no organismo. O teste mais eficaz é o RT-PCR, específico para Covid. Você colhe secreção das vias respiratórias e manda para o laboratório. Mas como a nossa estrutura de laboratório é muito pequena - praticamente só a FUNED (Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte) que faz - a prioridade para se fazer esse exame é coletar material somente de pessoas que realmente apresentam sintomas claros de indicativos de Covid.

Por enquanto, Resende Costa segue sem nenhum caso positivo para Covid-19. Em Resende Costa já tivemos algumas coletas, mas todos os exames deram resultado negativo. Os últimos casos que estavam em investigação configuram-se entre os que apresentam sintomas gripais e que, por isso, devem ser investigados.

Mas não são muitas notificações quando comparadas com outros municípios vizinhos do mesmo porte do nosso? Quando a pessoa é notificada não necessariamente ela está com a doença. Não necessariamente ela tenha contato com o vírus. A orientação que se tem é que toda síndrome gripal que chega ao hospital, aos postos de saúde e aos PSFs seja notificada como caso suspeito. Isso (essa grande quantidade) significa que as nossas notificações estão bem melhor do que em outros municípios, porque tem muito mais casos notificados. Independentemente se a pessoa tenha ou não falta de ar, ou outros sintomas mais graves, toda síndrome gripal deve ser notificada como caso suspeito de Covid. Por isso o nosso número de notificações é maior do que em outras cidades do mesmo porte da nossa. Acontece também uma diferença entre atendimentos que estão sendo feitos em Resende Costa e nas cidades vizinhas. A gente recebe muitos pacientes de outras cidades. Geralmente, em outros lugares, eles chegam ao posto de saúde, quem os atende é o enfermeiro, do lado de fora do posto, que faz uma anamnese, leva as informações para o médico lá dentro, que nem põe a mão no paciente, e prescreve só orientações. Por isso que aqui, talvez, tanto no hospital quanto nos postos de saúde e nos PSFs, o pessoal tem atendido os pacientes e tido o cuidado de notificar.

 “O isolamento social é necessário, mas ele não vai impedir, de jeito nenhum, que a doença chegue entre nós. Temos que estar preparados”

 Quando soube que a pandemia havia transposto as fronteiras da China e da Europa e atingido o Brasil, como médico em uma cidade pequena que não possui tantos recursos, como UTI, o senhor sentiu medo? É uma coisa preocupante. Quando se trata de pandemia, estamos falando de uma grande quantidade de pessoas atingidas, muitas complicações, sobretudo em cidades do interior onde não há tantos recursos. Felizmente em Resende Costa temos um hospital bem estruturado, diferentemente de cidades aqui da região do porte da nossa. Você dificilmente vai encontrar na região outras cidades que têm condições de receber pacientes como o hospital de Resende Costa. Inclusive, o nosso hospital foi ultimamente citado, como alternativa a São João del-Rei, para receber pacientes com quadros leves de Covid.

E os pacientes que apresentarem quadros graves de Covid-19? Nós temos condições de receber aqui pelo menos quatro pacientes com respiração assistida. Foi montada essa estrutura. Estamos com uma parte do hospital com isolamento para casos suspeitos. Felizmente não tem ninguém lá, está vazio. A unidade hospitalar nossa está vazia também porque as pessoas se recolheram em casa e por isso adoecem menos. O que é uma situação arriscada. Há pessoas que têm doenças crônicas, que tratam de câncer, ou que precisam de assistência para controle, por exemplo, de diabetes, e que estão com medo de ir ao hospital. É uma situação que ao mesmo tempo reduz o número de pacientes no hospital, mas aumenta o risco para essas pessoas que necessitam de acompanhamento, mas estão confinadas em casa com medo de ir ao hospital e pegar a Covid.

 “Quem não adoecer, quem não tiver contato com o vírus ou não se vacinar, em qualquer época daqui para frente poderá se infectar, porque o vírus vai ficar”

 Apesar de estar preparado, o hospital de Resende Costa não possui uma grande estrutura capaz de atender a tantas pessoas ao mesmo tempo, não é? A estrutura nossa é pequena e gera um pânico sim. Sobretudo devido ao número de médicos fixos que trabalham aqui. Nós somos poucos. Tem o pessoal que vem nos ajudar no plantão, mas eles não internam um paciente. Quando tem que internar, quem interna é um grupo reduzido de médicos, somente três: eu, o Luiz e o Euler. Os outros não internam. A gente preocupou, sim, e se preocupa. No entanto, tenho certeza de que a doença vai chegar. Esperamos que ela demore, principalmente para que se encontre uma medicação que realmente vai fazer um efeito contra esse vírus, ou que a gente consiga uma vacina capaz de proteger a população. A única maneira de a gente se livrar desse vírus vai ser: adquirir a doença e se recuperar, formando anticorpos, ou então fazer vacinação em massa. Quem não adoecer, quem não tiver contato com o vírus ou não se vacinar, em qualquer época daqui para frente poderá se infectar, porque o vírus vai ficar.

Como acontece com o vírus da gripe e outros vírus? Exatamente. Hoje quase toda a população, pelo menos deveria, tem acesso à vacinação contra a gripe comum, o H1N1, que é a gripe suína, e mesmo assim aparecem casos de vez em quando. O vírus está aí, basta a imunidade da pessoa cair e ela ter contato que o risco existe. O mesmo vai acontecer com o corona. Ele só vai desaparecer do meio de nós assim que uma grande parcela da população adoecer, tiver formação de anticorpos para parar de transmitir o vírus, ou, então, surgir uma vacina. Mas a vacina geralmente demora um ano, um ano e meio, pois precisa ser testada. Ela não pode ser feita de forma indiscriminada. Então, ou você adoece para formar anticorpos, ou você recebe uma vacina, quando surgir, que possa aumentar a resistência e formar anticorpos artificialmente nas pessoas.

Então, a seu ver, o coronavírus chegará também a Resende Costa? É uma questão de tempo? É uma utopia achar que a doença não vai chegar para nós aqui. Ela vai chegar. Nós recebemos aqui caminhoneiros de todo o Brasil que vêm trazer alimentos, viajantes, pessoas que têm negócios fora... Com certeza se fizéssemos uma grande testagem aqui em Resende Costa, encontraríamos diversas pessoas portadoras do vírus sem nenhum sintoma. Se a gente tivesse condições de testar toda a população de Resende Costa, pode ter certeza que pelo menos 30% dessas pessoas tiveram contato sem sentir nada.

Mas é uma doença grave, basta ver a quantidade de óbitos em todas as partes do mundo. A doença é grave, não vamos esconder a gravidade da doença. Mas o que está causando esse pânico todo, o que está acontecendo é que a imprensa está aproveitando o ibope que isso dá. Você tem ibope tanto para notícias boas como também para notícias ruins, e a TV só está apresentando os casos ruins. Mostrando casos de famílias que tiveram perdas, explorando o sofrimento daquelas pessoas, alarmando. Cada dia anunciando, parece que com prazer, o aumento no número de óbitos. (A imprensa) quer comparar, por exemplo, as estatísticas do Brasil com a Itália. O Brasil tem população muito maior do que a Itália. Muito maior do que a Espanha. São Paulo, por exemplo, é muito maior do que muitos países da Europa. O Brasil é um país continental.

O Brasil demorou muito a tomar medidas preventivas? Hoje as pessoas estão fechando cidades, decretando lockdown, mas o vírus chegou aqui antes do Carnaval. E quais são as cidades mais atingidas? Justamente as que têm os carnavais mais tradicionais, principalmente essas: São Paulo e Rio de Janeiro que querem fazer o melhor carnaval do Brasil. Não temos notícias da Bahia, onde o carnaval é quente, mas no Nordeste o carnaval de Pernambuco é famoso, o do Amazonas é famoso. Então, se o vírus chegou antes, deveria ter se prevenido antes.

O vírus está aí e pelo jeito vai fica por longo tempo. O isolamento social não vai durar até surgir uma vacina e as pessoas não querem se contagiar para adquirir anticorpos. O que fazer? O isolamento social tem uma finalidade e há também uma coisa que precisa ser pensada: não é só o vírus que mata, a fome também mata. E quanto mais tempo durar esse isolamento social, com pessoas fechadas em casa, pessoas sem emprego, elas vão comer o quê? O isolamento social, na nossa opinião, tem o seguinte objetivo, só o entendemos com esse sentido: retardar a difusão da doença, porque não vamos ter estrutura hospitalar para atender tanta gente de uma vez, como está acontecendo em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, onde os hospitais estão cheios e não tem como assistir todo mundo. Não vejo o isolamento social com outra finalidade. Ah, vamos isolar Resende Costa para não aparecer nenhum caso. Vai aparecer. Não existe isso. Só se fecharmos e não deixar ninguém entrar, nem para trazer comida para a gente. O isolamento social foi necessário e útil no sentido de retardar a disseminação da doença.

Então o isolamento social poderá fazer com que o vírus permaneça circulando por mais tempo? As pessoas vão adoecer mais lentamente e o vírus vai ficar mais tempo entre nós. Mas isso é necessário porque nós não temos estrutura para atender tanta gente num mesmo tempo. Nem país rico, como os Estados Unidos, está tendo vagas para atender a todas as pessoas que têm complicações. O nosso país é um país pobre, cheio de diferenças...

 “Essa doença repercutiu tanto porque surgiu na classe alta. Se tivesse começado lá na favelinha dificilmente teria ganhado essa repercussão toda”

Há estatísticas que mostram que no início mais de 60% das pessoas aderiram ao isolamento social, mas, no decorrer do tempo, esse percentual foi baixando. As pessoas relaxam e se cansam de ficar em casa? Você consegue manter as pessoas afastadas até certo ponto. Imagina uma cidade como Resende Costa: ninguém vai passar tanto aperto porque é uma cidade pequena, tranquila, onde todo mundo conhece todo mundo, todo mundo conhece as carências de todo mundo. Não vai faltar ajuda. Mas imagina você morando em uma grande cidade, pagando aluguel, desempregado e com os filhos morrendo de fome. Como vai fazer numa cidade onde as pessoas mal se cumprimentam? Então, realmente é preciso ter muito cuidado.

É curioso observar que a cada dia os especialistas preveem o pico da doença para uma data, mas ela nunca chega. Por que essa dificuldade de prever quando será o pico da doença? A doença ainda não chegou de verdade a Minas Gerais. Minas se protegeu, foram tomadas todas as medidas. O mineiro é muito mais disciplinado do que o carioca, por exemplo. Muito mais conservador. O medo e o pânico ajudam as pessoas a se isolarem. Mas até quando? Até quando vão ficar sem trabalhar? A pessoa que tem salário fixo, que é aposentada, que tem salário do governo e o dinheiro cai na conta, é muito mais fácil de se isolar. Mas e a pessoa que depende de vender o almoço pra comprar o jantar? Tem muita gente assim. Então esse confinamento precisa ser pensado com muito cuidado para ver até onde vai. É necessário? É. Mas precisa ter uma medida certa, senão as pessoas não vão morrer de Covid, mas vão morrer de fome.

 “O isolamento social tem uma finalidade e há também uma coisa que precisa ser pensada: não é só o vírus que mata, a fome também mata”

Há grande preocupação também com as doenças psiquiátricas, como depressão, transtornos de ansiedade, causadas pelo isolamento social e pelo medo da pandemia. Já há histórico de aumento de violência domiciliar contra crianças e mulheres sobretudo. Como você vai manter uma criança com toda aquela superatividade presa dentro de casa? É difícil. Têm algumas coisas para distrair, celulares, televisão.... Mas chega um ponto em que não tem jeito. Surge também a impaciência. Nas famílias mais carentes começa a faltar o pão básico de cada dia. O auxílio emergencial do governo (600 reais) é muito pouco. Ajuda, mas é muito pouco e não vai resolver o problema. E nem sempre chega às pessoas que realmente precisam. Geralmente as mais necessitadas não estão tendo acesso e as que nem tanto precisam estão conseguindo acesso fácil, porque têm mais facilidade com internet, se cadastram e se preparam melhor para receber esse auxílio emergencial. Sobre o isolamento, nós entendemos que é uma coisa necessária para não expandir a doença muito rapidamente. Mas ele tem que ser criterioso, ver até que ponto ele pode funcionar. Nós temos que nos preocupar também com a situação econômica. O desemprego vai chegar e poderá ser um transtorno tão grande quanto a própria doença.

Desde o início da pandemia, foi criado em Resende Costa um comitê de gerenciamento e de combate à crise. Medidas restritivas foram tomadas, como fechamento do comércio considerado não essencial e, mais recentemente, a obrigatoriedade do uso de máscaras pela população. A seu ver, essas ações estão no caminho certo? Acredito que sim. O uso de máscaras às vezes incomoda um pouco, pois as pessoas não estão acostumadas. Mas realmente dificulta a transmissão interpessoal. É uma medida protetiva que vale a pena. As orientações para higienização, como lavar as mãos com frequência, desinfetar os objetos com os quais a gente tem contato, ter cuidado com as coisas que a gente toca, evitar aglomerações, isso é muito fácil numa cidade como a nossa. Imagina numa cidade como Belo Horizonte, onde as pessoas têm horário para chegar ao trabalho. Eu vejo a televisão criticando que o isolamento não está funcionando, que os ônibus estão com superlotação.... Ora, se o motorista não deixar o indivíduo entrar, ele vai apanhar... O cara tem horário para chegar ao trabalho e precisa do deslocamento. O interessante seria colocar muito mais ônibus, um chegando e outro saindo, mas a gente sabe que não funciona. Nós temos um transporte público muito deficitário nas cidades grandes. Nas cidades pequenas nós não temos isso, nós vamos a pé.

 “Se a gente tivesse condições de testar toda a população de Resende Costa, pode ter certeza que pelo menos 30% dessas pessoas tiveram contato sem sentir nada”

Então o senhor aprova as medidas de segurança que foram implementadas em Resende Costa? As medidas que foram tomadas em Resende Costas foram muito eficazes. Primeiro, nós só temos uma entrada oficial na cidade, pela via asfáltica. Ali está sendo feita uma barreira com orientações. O pessoal está respeitando, de uma maneira geral, o isolamento. A maioria está usando máscara, que é uma coisa boa. Não tivemos nenhum caso, ainda. Quando tivermos os casos, as pessoas levarão ainda mais a sério. Mas as pessoas aqui já estão levando a sério. O nosso comitê tem funcionado bastante, tem sido até exigente demais. Mas tem que ser, até mesmo para evitar que a doença chegue avassaladora em nossa população.

Se não houvesse essa preocupação das autoridades e a colaboração das pessoas, a doença poderia já ter chegado a Resende Costa, inclusive com transmissão comunitária do vírus? Hoje a transmissão comunitária já existe em todo lugar, não dá para você rastrear mais. É diferente dos primeiros casos que você conseguia ver direitinho de onde a pessoa veio. Ou seja, você sabia onde estava o foco. Hoje já não tem jeito mais. Se você pegar, por exemplo, a população de São Paulo, dificilmente você vai encontrar alguém lá que não tenha contato com o vírus. Por isso que a estatística de morte por Covid é muito alta. Aqui em Resende Costa as coisas têm funcionado direitinho. O comitê tem se reunido, a gente tem visto algumas atitudes talvez até um pouco exagerada.

Há pessoas que criticam a imprensa por estar, segunda elas, alarmando a população. O senhor concorda com essas críticas? A televisão já está alarmando todo mundo, né? Mas, em contrapartida, gera mais cuidado. Eu tive hoje uma pessoa aqui no consultório que não quis se deitar nesta mesa de jeito nenhum, porque eu já tinha atendido outros pacientes. Eu falei com ela: eu não atendi ninguém com Covid, todo mundo que entrou aqui, entrou de máscara, mas você tem toda liberdade. Senta aqui na cadeira, que eu te examino aqui na cadeira.

Pelo que estamos vendo até agora, o novo coronavírus é imprevisível. Ele pode acometer fatalmente pessoas saudáveis levando-as a óbito, mas, pessoas consideradas vulneráveis, do grupo de risco, se recuperam. Por que ele se manifesta de diferentes formas em diferentes pessoas? O dano que o vírus causa ao organismo depende da imunidade da pessoa, ou seja, da capacidade do organismo de reagir ao vírus. Por isso que muitas pessoas vão ter contato com o vírus e não vão ter nada. O organismo dessas pessoas tem muita resistência, tem grande capacidade de luta contra o vírus. Só que essas são as mais perigosas, pois são transmissoras da doença, uma vez que elas não sentem nada, mas estão transmitindo. Agora, quando a pessoa adoece e já possui outras doenças pré-existentes, a doença é grave quando ela complica.

Então não significa que a pessoa é saudável e por isso não vai ter complicações? Muitas vezes a gente acha que não tem nada, mas vai investigar e tem uma pressão alta, diabetes latente que ainda não percebeu, obesidade, que é um fator de risco, pois precisa de muito mais ar para respirar, uso de drogas e de medicações, fumo. O fumo é terrível. A Covid é terrível para os fumantes. Então, muitas pessoas não adoecem porque têm a imunidade boa. Algumas vão ter os sintomas leves, mas aqueles que têm complicações, seja devido a doenças prévias, ou não, com certeza terá complicações grandes, causando grandes danos ao organismo. É lógico que quando a pessoa não tem nenhuma doença prévia, mas mesmo assim pega o vírus e tem alguma complicação, a chance de ela se recuperar é muito maior do que aquela pessoa que já tinha outras doenças, pegou o vírus e se complicou.

Tudo tem a ver então com a imunidade, com a capacidade do organismo de reagir ao vírus.... Tudo passa por uma coisa chamada imunidade. Então, muita atenção com a alimentação, com a higiene e com a hidratação.

A prática de atividades físicas ajuda a prevenir prováveis complicações da Covid? A atividade física é benéfica em qualquer tempo. O que a gente orienta é o seguinte: evitar aglomerações. Esporte coletivo e esporte que tenha público não têm a menor chance de serem desenvolvidos neste momento. Mas atividade individual, ou seja, você fazer uma caminhada no asfalto, fazer uma caminhada em lugares que não tenham aglomerações, andar de bicicleta, só melhora a sua resistência corporal, melhora sua capacidade respiratória, melhora sua capacidade de oxigenar o sangue. E uma das complicações da Covid é justamente respiratória. Portanto, se você tiver com a respiração boa, a possibilidade de complicação é muito menor.

Neste período de pandemia, o senhor tem atendido em seu consultório um maior número de pessoas queixando-se de ansiedade e de depressão? Demais. A gente trata de muitas pessoas que têm problemas psicológicos. A gente está aqui há muitos anos, conhece as famílias e lida com a medicina geral. Nós tivemos casos de pessoas que fugiram de casa e se esconderam no mato. Tiveram um surto de sumir e demorar a serem encontradas. Foram encontradas dias depois, em situações precárias, com medo da Covid. Esse é só um exemplo de como isso está afetando as pessoas. Há também pessoas que chegam aqui morrendo de medo, dizendo que não vão ao hospital. Realmente esse bombardeio de informações acerca do agravamento e do índice de letalidade da doença está causando grandes problemas psicológicos nas pessoas. Isso sem falar nas pessoas que estavam acostumadas ao trabalho e à vida social e que de repente se viram confinadas em casa sem poder sair à rua, sem poder conversar com outras pessoas, sem poder dialogar. Fica aquele ambiente fechado. Isso tem gerado muita ansiedade nas pessoas, desencadeado problemas de sono, de obesidade. Tive várias pessoas que chegaram aqui se queixando que ganharam peso demais por estarem somente dentro de casa. Por isso a gente questiona bastante a radicalização do confinamento das pessoas.

 “A mensagem que a gente deixa é a seguinte: é preciso ter paciência com essas medidas de contenção. Elas são necessárias para evitar que a doença chegue muito rápido entre nós”

 Como planejar o isolamento social de forma equilibrada? É necessário ter critérios. As pessoas que realmente têm necessidade de ficarem confinadas são aquelas do grupo de risco. As pessoas que são saudáveis deviam trabalhar. Minha opinião é essa: deveriam ser liberadas para o trabalho, porque o trabalho faz parte do sustento da família, da sobrevivência das pessoas e diminui o estresse dessas pessoas. Imagine uma pessoa totalmente saudável ter que ficar 24 horas, 48 horas dentro de casa durante a semana inteira sem fazer nada. A pessoa se desespera. Acho que esse isolamento social está muito radical neste sentido. Há muito questionamento sobre isso, muita polêmica, inclusive política, entre pessoas que defendem o isolamento total e outras que defendem o isolamento vertical, que é isolar e proteger somente pessoas que fazem parte do grupo de risco.

Mas muitas pessoas que fazem parte do grupo de risco, que são os idosos, pessoas que possuem comorbidades, geralmente não vivem sozinhas em casa. Os filhos, teoricamente saudáveis e que eventualmente sairão para trabalhar e voltarão para casa, não podem infectá-las, ou seja, levar o vírus para casa? Podem levar. Mas têm aqueles cuidados que hoje você já tem que tomar, pois nem todos podem ficar dentro de casa. Tem gente que tem que sair para trabalhar, tem que ir ao supermercado, tem que ir para determinados serviços que não podem parar e depois vai voltar para casa. O que é, então, recomendado para essas pessoas? Chegar em casa, antes de ter contato com as outras pessoas higienizar-se, trocar de roupa, isolar a roupa, tomar seu banho. Isso tem que ser feito. O meu caso, por exemplo. Eu trabalho no hospital e entro em casa. E aí? Vou ficar aonde? Vou parar de trabalhar, de ir ao hospital, de assistir aos doentes que estão lá? Assim como têm aquelas pessoas que precisam fazer isso, ou seja, sair de casa para trabalhos essenciais, há também aquelas pessoas plenamente saudáveis que poderiam sair de casa, desempenhar seu trabalho, observando disciplinadamente todos os critérios de segurança recomendados, sobretudo ao voltar para casa. Não precisamos parar todo mundo, porque isso vai causar muitos transtornos: psicológicos, econômicos e sociais.

Como as pessoas podem conseguir um equilíbrio emocional em meio a tanto bombardeio de notícias trágicas e ainda tendo que suportar medidas restritivas como o isolamento social? É difícil. Você tem que procurar alternativas. A vida vai se tornando monótona, você liga a televisão e só vê notícias ruins.... Isso gera pânico e traz desesperança à população. Na verdade, o corona é um vírus de gripe altamente contagioso que atinge muitas pessoas, mas que também não é desse jeito que a imprensa divulga. É uma coisa séria, mas não tão desastrosa como tem sido divulgado. A gente tem que entender as ações das autoridades no sentido de procurar o isolamento social porque em nosso país nós não temos uma estrutura (hospitalar) para atender a todas as pessoas se todas adoecerem ao mesmo tempo. E há outro problema também: a assistência psicológica hoje, ou seja, a assistência especializada, está ficando toda paralisada. Os profissionais da saúde foram todos deslocados para uma única frente de combate: enfrentar a Covid. Portanto, pessoas que estão tendo algum tipo de problema (psicológico) precisam enfrentá-lo através de consultas ambulatoriais com pessoas que não são da área, pois está havendo dificuldade de encontrar profissionais específicos para cuidar do seu caso. Isso não está acontecendo somente com doenças psicológicas, mas também com problemas graves como o câncer, doenças coronarianas agudas etc. Mas a gente tem que entender que as pessoas morrem também de outras doenças que podem ter agravamento se não houver assistência. Isso tudo precisa ser pensado num contexto geral, para não deixar que as pessoas que não têm a Covid corram risco com outras enfermidades.

O senhor trabalha há 42 anos em Resende Costa (vai completar 43 no dia 17 de outubro) e conhece muito bem tanto a cidade quanto a sua população. Qual a mensagem que o senhor deixa aos resende-costenses neste momento de grave pandemia, sobretudo nesta fase em que a doença está chegando ao interior do país? Como as pessoas devem se comportar neste momento? A mensagem que a gente deixa é a seguinte: é preciso ter paciência com essas medidas de contenção. Elas são necessárias para evitar que a doença chegue muito rápido entre nós. Precisamos ganhar tempo para ver se chega uma medicação específica para combater esse vírus, ou que apareça uma vacina. Mas nós temos que ter consciência de que esse vírus vai chegar até nós, que muitos de nós não vamos ter nada, que muitos de nós vamos ter sintomas leves, mas que muitos de nós vamos ter complicações. Isso é inevitável. O vírus vai chegar até nós, a menos que aconteça um milagre de uma descoberta rápida de algo que vá deter esse vírus. Então, as medidas de contenção são necessárias e estão sendo executadas aqui com muita competência. É bom que as pessoas respeitem e sigam as orientações do comitê de controle, mas conscientes de que o vírus vai chegar. Não adianta pensar que a gente vai ficar isolado lá na zona rural até dezembro e o vírus não vai chegar lá. Ele vai chegar até lá. Alguém vai levar alguma coisa pra gente e leva o vírus junto. Ele é microscópico, ninguém o vê. Ele vai na roupa, nas nossas vias respiratórias.... Então é necessário conscientizar-se de que o trabalho aqui está sendo bem feito. A nossa esperança é que surja alguma medicação eficaz, porque até agora não tem nada comprovadamente eficaz para tratar a doença.

O senhor está otimista em relação ao rápido surgimento de uma medicação comprovadamente eficaz, ou a tão sonhada vacina? Vacina não é uma coisa que a gente possa esperar de imediato. O que a gente pode esperar de imediato é alguma coisa, alguma medicação, um antiviral que possa enfrentar a Covid. A gente tem que ganhar tempo, protegendo as pessoas vulneráveis, tomando os devidos cuidados para que a doença demore a chegar aqui. Mas ela vai chegar. Com certeza ela já está entre nós em algumas pessoas totalmente assintomáticas, que é a maioria da população. Nós temos que nos preparar para enfrentar os casos complicados.

Ainda não existe um protocolo com recomendações de medicamentos específicos. Como os médicos estão tratando pessoas diagnosticadas com Covid-19? Nós estamos dando suporte de vida. Só isso. A nossa maior esperança é a vacina e o surgimento de uma droga realmente eficaz. Mas quando a pessoa adoece, o que a gente faz é dar suporte de vida. Você interna o doente, você o hidrata, combate a febre, você oxigena, intuba, dá assistência para evitar outras complicações e espera que o organismo reaja. O organismo reagiu, a pessoa se recupera. Se o organismo não reagir, aí não tem jeito, uma vez que ainda não existe nenhuma medicação realmente eficaz e não há nenhum protocolo 100% aceito pela classe médica.

E a famosa Cloroquina? É questionada. Tem gente que acredita (em sua eficácia) e tem gente que não acredita. Ela não é uma medicação específica para Covid, porém têm algumas pessoas que defendem o uso da Cloroquina associada a Azitromicina, associada a anticoagulante. Existem vários protocolos que todos os dias as pessoas lançam no mercado, mas não existe nenhum com eficácia comprovada.

Como as pessoas consideradas do grupo de risco devem se comportar para prevenir o contágio e possíveis complicações? O básico é se manterem isoladas. Manterem-se protegidas, bem alimentadas, com boa hidratação, assegurar uma boa higienização e manter bom distanciamento social. No entanto, não é porque a pessoa é idosa que ela vai desenvolver complicações da doença e não aguentar. Nós já vimos pessoas com mais de 100 anos de idade que se curaram. Às vezes uma pessoa jovem morre de Covid, e a pessoa idosa se cura. Depende dos cuidados que a pessoa tem e da capacidade do organismo da pessoa de reagir. Em Resende Costa nós temos uma população idosa muito grande. Tenho certeza que muitos vão ter esse corona e vão tirar de letra, vão sair tranquilos.

E quem possui comorbidades, como hipertensão e diabetes, quais os cuidados básicos que essas pessoas devem tomar? Primeira coisa: a gente não deve ter medo. Tem que cuidar bem da doença que você já tem, porque se você tem medo da Covid e deixar o diabetes descontrolado, você se torna muito mais vulnerável. Então as pessoas que têm comorbidade precisam se cuidar muito melhor neste período para que a doença preexistente fique controlada, para não ter complicações com o corona. Há pessoas se afastando do tratamento, guardando medicamentos, se isolando. Isso é um perigo. Você tem que cuidar da sua doença de base para evitar possíveis complicações com a Covid.

Quais são as doenças (comorbidades) mais graves que requerem mais atenção das pessoas e dos médicos? São as doenças descompensadas. No início aqui, nós tivemos pessoas que tomavam um comprimidinho de pressão por dia e que por isso achavam que precisavam se afastar porque pertencem ao grupo de risco. Tem nada a ver. São as doenças descompensadas: diabetes descompensada com complicações renais e complicações circulatórias; hipertensão associada a insuficiência cardíaca; doenças respiratórias como, por exemplo, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica); fumantes; pessoas que tiveram pneumonia com repetição, ou seja, pessoas que tiveram ou têm doenças complicadas. Pessoas que têm crise asmática e que precisam usar corticoides para combater as crises da doença.

 “As medidas de contenção são necessárias e estão sendo executadas aqui com muita competência. É bom que as pessoas respeitem e sigam as orientações do comitê de controle, mas conscientes de que o vírus vai chegar”

 A macrorregião de Barbacena, da qual faz parte Resende Costa e outros 50 municípios, aderiu ao programa Minas Consciente do governo do estado, que prevê a reabertura gradual do comércio. Já é hora de pensar em reabertura do comércio quando ainda estamos vendo um aumento diário de novos casos e de óbitos? A flexibilização com responsabilidade é absolutamente necessária. Como as pessoas vão viver? Você aguenta ficar sem produzir durante um determinado tempo. Por um tempo prolongado vai começar a faltar tudo. E se faltar, principalmente o alimento, as pessoas vão enfraquecer e ficar mais vulneráveis. A vida continua. Tudo passa. Esse período que estamos vivendo vai passar, mas temos que tomar cuidado também para que as consequências não sejam definitivas. Portanto, é necessário ter uma flexibilização, protegendo as pessoas vulneráveis, mas permitindo, observando os cuidados que todos já estão cansados de ouvir falar e evitando aglomerações. Mas é necessário um retorno gradual. Se você notar que a coisa aumentou, você dá um passinho atrás. É importante saber dar um passinho à frente, quando pode, mas saber também quando é hora de recuar. Igual a uma partida de futebol: você tem que saber a hora de atacar e a hora de defender.

Quando voltaremos a ver as igrejas abertas, os bares e restaurantes novamente em funcionamento e as pessoas de volta à vida normal? A gente acredita que as aglomerações em lugares fechados, como igrejas, bares, restaurantes e festas coletivas, isso aí deve demorar. O que nós defendemos é a volta ao trabalho de profissionais essenciais que estão impedidos de trabalhar. Por exemplo, o barbeiro. Qual o problema de ele voltar a trabalhar, sem aglomerações, atendendo a uma pessoa de cada vez? São algumas atividades que precisam voltar, não podem ficar tanto tempo paradas.

E essas atividades que geram aglomeração, quando o senhor acredita que poderão voltar? Essas eu acredito que vai ser muito demorado.

Ainda neste ano? Volta sim. É difícil prever, pois cada dia surgem novas previsões de quando será o pico da doença. Mas a previsão que a gente mais confia é que esse surto vai durar aproximadamente até setembro.

Cabe a todos, então, tentar levar uma vida “normal”? Sim, seguindo as normas de proteção e levando a vida o mais

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