Prestes a completar 150 anos de existência, o Coral e Orquestra Mater Dei mantém vivas as tradições religiosas e culturais de Resende Costa

Na Festa de Nossa Senhora da Penha deste ano, o grupo resgatou antigo repertório escrito especialmente para a orquestra e promoveu a estreia da “Ave Maria das Graças” composta pelo tenor Orestes Gustavo


André Eustáquio


Coral e Orquestra Mater Dei, em formação reduzida e respeitando o distanciamento social, em frente à igreja matriz de Resende Costa, no dia 1º de setembro

O Coral e Orquestra Mater Dei é uma das joias do patrimônio cultural de Resende Costa. Prestes a completar 150 anos de existência, o grupo está cada vez mais fortalecido graças ao trabalho incansável do jovem e determinado maestroWagner Barbosa, que conta com a valiosa colaboração e empenho de diversos cantores e instrumentistas. O Mater Dei tem em seu portfólio principal a música sacra e atua, há mais de 1 século, nas principais celebrações solenes da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França.

Em março deste ano, o grupo já estava nos preparativos finais para a Semana Santa, no entanto o maestro teve que suspender os ensaios a partir de uma notícia que abalou a comunidade. Pela primeira vez, em quase 200 anos de história, a Semana Santa, uma das mais belas e importantes manifestações religiosas e culturais do município, não aconteceria devido à pandemia do novo coronavírus.

Com as medidas preventivas de isolamento e de distanciamento social, os ensaios do coro e da orquestra também precisaram ser suspensos. Entretanto, respeitando as orientações das autoridades sanitárias locais, o Mater Dei conseguiu se adaptar aos protocolos e não deixou de estar presente nos ritos da Semana Santa, que aconteceram somente no interior da igreja. O mesmo ocorreu meses depois, durante as solenidades de Corpus Christi e de Nossa Senhora da Penha de França, padroeira do município. “Com o início da pandemia, a Orquestra Mater Dei paralisou suas atividades semanais de aulas e ensaios, mantendo somente os compromissos existentes com formação reduzida, como aconteceu na Semana Santa, Corpus Christi e aniversário da cidade. A partir do momento em que nosso município foi avançando nas ondas do programa Minas Consciente, nossa orquestra também começou a retomar suas atividades, porém de maneira restrita”, esclareceu o maestro Wagner Barbosa.

 

Festa de Nossa Senhora da Penha

Uma novena solene antecede o Dia Maior da festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Penha de França, celebrada oficialmente no dia 1º de setembro, feriado municipal. O Coral e Orquestra Mater Dei é responsável por abrilhantar a novena preparatória e a missa solene do Dia Maior. As celebrações com presença dos fiéis nas igrejas já são permitidas na Diocese de São João del-Rei, consequentemente em Resende Costa. Mas para isso acontecer, está sendo necessário cumprir um rígido protocolo de segurança, o qual prevê número reduzido de pessoas dentro das igrejas, distanciamento, higienização constante, uso de máscaras etc.

Com o intuito de preservar antigas tradições litúrgicas da Igreja católica em Resende Costa, especialmente a solenidade da padroeira, mas sem se descuidar das medidas de segurança em tempos de pandemia, o grupo, mais uma vez, teve que se adaptar. “Para a festa da padroeira, deixamos em aberto aos nossos músicos se eles desejavam participar ou não da novena. Assim, com os nomes em mãos, começamos as preparações através de ensaios de naipe reduzidos e obtenção de autorização para participação do grupo”, explicou Wagner Barbosa. De acordo com o maestro, foi necessário contar com uma formação reduzida tanto do coro quanto da orquestra, conforme acontecera também na Semana Santa, em abril último. “Atuamos durante a novena com grupo reduzido, fazendo rodízio entre os músicos. No Dia Maior, na missa solene, participamos com todos os músicos que atuaram durante a novena. Em todos os eventos foram respeitadas as normas de segurança, como uso de máscara sempre que possível e mantendo-se distância segura entre os músicos”, disse o maestro.

Manter o distanciamento entre os músicos não é uma tarefa muito simples em um grupo musical. Aliás, a proximidade entre cantores e instrumentistas é importante para a própria execução das músicas. Todavia, a necessária medida de segurança não foi empecilho para o Mater Dei, que participou com o brilhantismo de sempre das festividades em honra à padroeira de Resende Costa. “A questão do distanciamento, com certeza, tem sido a maior dificuldade para todos, pois demanda muito mais preparo e segurança dos músicos, já que estando distantes é muito mais difícil para ouvir os outros durante a execução das músicas, o que é essencial para manter a sincronia”, explica o regente do grupo.

Na missa solene do Dia Maior da festa de Nossa Senhora da Penha deste ano, o maestro preparou um repertório que “resgatou” composições antigas e, ao mesmo tempo, promoveu a estreia de uma peça escrita recentemente pelo tenor do coro do Mater Dei, Orestes Gustavo. Wagner Barbosa falou ao JL sobre o repertório e os respectivos compositores: “No dia 1° de setembro, apresentamos o dobrado ‘O Municipal – Resende Costa’, dedicado ao Coronel Francisco Mendes, composto para a orquestra por Christóvam Gonçalves Pinto, e o moteto eucarístico ‘Domine Jesu’, também de sua autoria. Christóvam foi regente da orquestra nas décadas de 1900 e 1910. Além de grande compositor, foi responsável pela manutenção da atividade musical no município no início do século 20. Apresentamos também a ‘Ave Maria das Graças’, composta neste ano pelo tenor Orestes Gustavo, com orquestração de minha autoria. É uma honra para a nossa orquestra poder executar essas composições no dia em que se celebra a padroeira do município. Essas músicas foram criadas para o nosso grupo por filhos de Resende Costa. Além dessas obras, executamos também o hino ‘Salve Senhora da Penha’, do ex-regente Joaquim Pinto Lara, e o hino oficial da padroeira, com letra de José Procópio, ambos compositores resende-costenses.”

Ainda durante a missa solene do dia 1º de setembro, o grupo apresentou a “Missa Nossa Senhora da Lapa”, do compositor Carlos dos Passos, e a antífona “Maria Mater Gratiae”, de Antônio dos Santos Cunha, ambos são-joanenses, e o “Credo São José do Tocantins”. Segundo o maestro Wagner Barbosa, esse Credo se trata de uma composição anônima encontrada nos arquivos de conjuntos musicais do interior de Goiás. Ainda conforme o maestro, esses grupos musicais atuavam nas igrejas locais desde o século 17. “Reafirmamos, assim, o propósito maior da orquestra, que é recuperar e preservar a execução do repertório sacro composto no Brasil, especialmente em nossa região”, frisou Wagner.

 

Legado cultural

A presença do Coral e Orquestra Mater Dei nas principais solenidades da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França confere ainda mais beleza à liturgia católica celebrada em Resende Costa. Wagner Barbosa fala da importância do grupo, que se aproxima de completar 150 anos de existência, para a preservação das tradições religiosas e culturais em Resende Costa, bem como na região do Campo das Vertentes. “O Coral e Orquestra Mater Dei, com aproximadamente 150 anos de existência, é hoje uma das poucas orquestras que sobreviveram no Brasil, especialmente em Minas Gerais, após as mudanças do Concílio Vaticano II (1962-1965). Resende Costa e algumas cidades próximas conseguiram se adequar às mudanças (implementadas pelo concílio) sem, porém, perder as características dos conjuntos musicais que já atuavam há tempos nas paróquias.”

Wagner Barbosa, atual maestro do Mater Dei, destaca o trabalho dos regentes que o antecederam no pódio da orquestra e exalta o legado deixado por eles. “Graças aos esforços de muitas pessoas, em especial aos regentes que passaram pela orquestra nos últimos tempos e que foram persistentes para a manutenção do grupo, nossa orquestra hoje é atuante na cidade e na região. O Coral e Orquestra Mater Dei foi inventariado como Patrimônio Cultural do Município e oferece atualmente prática de orquestra e de canto coral, assim como aulas de instrumentos, canto e teoria musical, contemplando várias pessoas da cidade, em especial os jovens, que começam a entender o papel da orquestra e a importância em mantê-la viva”, conclui o maestro.

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