Prevenir é melhor que remediar!


Artigo

Carlos Alexandre de Resende*0

O famoso e tão repetido ditado popular guarda uma grande verdade quando o assunto é o abuso e/ou dependência de álcool e outras drogas. A Dependência Química gera sofrimentos e prejuízos individuais, familiares e sociais. É complicado levar um dependente para o tratamento e não menos difícil ajudá-lo a se manter livre das substâncias que passaram a aprisioná-lo. Além do mais, o tratamento é bem mais caro que o estabelecimento de ações preventivas. Evidentemente que se conseguirmos evitar, ou pelo menos adiar o uso e diminuir a quantidade, caso o mesmo já tenha se iniciado, nós estaremos prevenindo, pelo menos em parte, tais prejuízos.

Nenhuma ação preventiva é 100% eficaz, porém, as pesquisas mostram que as probabilidades de uso, abuso, dependência, e dos prejuízos associados, diminuem com tais medidas preventivas. A responsabilidade não é apenas da família, mas de toda a sociedade e principalmente dos governos municipal, estadual e federal.

Ao pensarmos em prevenção necessariamente buscamos diminuir os fatores de risco e estimular os fatores de proteção. Fatores de risco são aqueles que tornam mais provável que o indivíduo experimente alguma droga e mantenha o uso da mesma. Fatores de proteção são aqueles que diminuem a probabilidade do indivíduo experimentar alguma droga ou, que pelo menos, fazem com que ele interrompa ou diminua o uso caso chegue a experimentar.

Tais fatores são sempre pensados em níveis: o individual, o familiar, da comunidade e da substância. Seria impossível abordar todos esses fatores e as nuances de um programa de prevenção estruturado nesse artigo, por essa razão pensei ser pertinente apresentar alguns deles de maneira esquemática na tabela a seguir. Cabe a todos buscarem informações, pois uma simples conversa na hora certa pode ser um fator de proteção.

 

 

 

Individual

Fatores de Risco: Curiosidade excessiva; busca por emoção/prazer; insegurança; insatisfação; necessidade de agradar ou fazer parte de um grupo; Doenças psiquiátricas (depressão, ansiedade, pânico, esquizofrenia, outras).

Fatores de proteção: Habilidades sociais; possuir um objetivo (projeto de vida) e se dedicar aos estudos e/ou trabalho; Autonomia; Autoestima; Habilidades de enfrentamento e capacidade de resolver problemas; Possuir bons relacionamentos afetivos e com as instituições das quais faz parte; cuidado com a saúde.

 

 

Familiar

Fatores de risco: Presença de extremos como autoritarismo, permissividade (o pode tudo) ou negligencia; Pais ou irmãos que fumam, bebem ou usam drogas; Conflito entre os pais ou irmãos; Falta de diálogo aberto entre os familiares.

Fatores de proteção: Monitoramento das ações dos filhos (saber onde, quando, com quem e o que estão fazendo); Presença de amor e de regras claras (saber equilibrar o estabelecimento de limites e o envolvimento afetivo); Regras de conduta claras dentro de casa; Companheirismo; Harmonia conjugal.

 

 

 

 

Escola

Fatores de risco: Falta de regras claras e de cumprimento das mesmas; Baixa expectativa em relação aos alunos; Exclusão social, violência e negligencia familiar; Autoritarismo ou permissividade; Falta de infraestrutura; Desvalorização e desmotivação dos profissionais da educação; Dificuldades de aprendizagem, desmotivação e indisciplina.

Fatores de proteção: Valorização dos conhecimentos que o aluno já possui das vivências fora da escola; Contextualizar as matérias lecionadas com situações práticas do dia a dia dos alunos e estimular o prazer em aprender; Exploração de talentos pessoais; Estabelecimento de desafios e de vínculos afetivos; Oportunidade de participação; utilização de esportes e de eventos da cultura local; Presença de ações como o PROERD da Policia Militar; Estabelecimento de programas de prevenção ao álcool e outras drogas na escola, tendo como base principal o treinamento de professores e demais profissionais da educação para prevenir, identificar primeiros sinais de uso e abuso, e lidar com seus alunos nessa situação.

 

 

Comunidade

 

Fatores de risco: Falta de políticas públicas em prevenção e de recursos destinados para prevenção e tratamento; Descrença nas instituições; Falta de lazer e acesso à cultura; Modismos; Falta de informação; Uso indiscriminado de remédios sem acompanhamento médico; Violência.

Fatores de proteção: Organização comunitária e mobilização social (ex: associações de bairro); Afetividade comunitária; Atuação e proximidade da comunidade por parte da Policia Militar; Informação sobre drogas; Existência de conselhos antidrogas e participação da comunidade; Atuação do Conselho Tutelar bem como da comunidade como um todo para fiscalizar a venda de bebidas alcóolicas a menores; Políticas preventivas financiadas pelo SUS utilizando o PSF como braço de atuação; Atuação das Igrejas; Trabalho; Lazer (frequentemente as opções de lazer incluem “sair pra beber”); Justiça social.

 

 

Drogas

Fatores de risco: Presença do tráfico; Fácil acesso e disponibilidade para a compra; Propaganda excessiva de bebidas; Efeito agradável/prazer que leva o indivíduo a querer repetir o uso.

Fatores de proteção: Informações adequadas sobre o álcool e as outras drogas, seus efeitos e suas consequências para o organismo, para o psicológico e para o convívio social; Regras de controle para consumo; Combater o tráfico; Dificuldade de acesso; atuação das polícias; Implementação de políticas públicas para prevenção e tratamento.

 

*Psicólogo e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei. Especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo.

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