Resende Costa e a Conjuração


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Alair Coêlho de Resende*0

Recentemente, ao relermos a história da Conjuração Mineira nos demos conta da significativa participação neste movimento revolucionário de moradores da Comarca do Rio das Mortes, hoje São João del-Rei, a nossa comarca, pois a ela pertencia o Arraial da Lage, a nossa Resende Costa. A participação de nossos conterrâneos no épico episódio foi muito maior do que supúnhamos.

Os patriotas que se juntaram para deflagrarem a revolução que levaria o Brasil à Independência se espalhavam, comprovadamente, por várias Capitanias da Colônia. Havia Conjurados na Bahia, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, quiçá em Pernambuco que já dera provas de patriotismo contra a dominação holandesa, sobretudo nas batalhas de Guararapes, em 1648 e 1649, quando pela primeira vez brasileiros pegaram em armas para defender o território brasileiro e não o patrimônio de Portugal. O reconhecimento de que os pernambucanos agiram por patriotismo é comprovado pelo fato de que a data de fundação do Exército Brasileiro é o dia 19 de abril de 1648, data da primeira batalha de Guararapes e da expulsão dos dominadores. Tal fato é exaustivamente ensinado em nossos quartéis e estabelecimentos militares, sobretudo nas escolas e academias.

Segundo Hermes Lima os costumes (inclusive a Moral) e o direito, coexistem em círculos concêntricos. Porém, os costumes estão contidos em uma circunferência maior, sempre em expansão, e o direito (Lei) promulgado sempre mais tarde, na tentativa, quase sempre fracassada, de regulamentar aqueles e fica restrito a uma circunferência menor e estática. Então não cabe aqui meras suposições. Os brasileiros (e todos os povos no que tange aos seus países) se tornaram patriotas antes de proclamarem a Independência do Brasil. Assim sendo, os Conjurados eram patriotas sim, em que pese opiniões em contrário emitidas por alguns intelectuais “politicamente corretos”, que sempre dançam conforme a música oficial.

Portugal, ao tomar conhecimento da iminência da deflagração da Conjuração Mineira, habilmente decidiu não combater o independentismo brasileiro, que seria levantado a partir de Minas Gerais, pois se assim o fizesse o mundo todo perceberia que era um movimento com fincas no Iluminismo e isto, fatalmente, levaria alguns países a reconhecerem o Brasil como Estado Independente. E Portugal perderia sua mais rica Colônia.

Então o Reino Português decidiu: a Conjuração seria tratada como simples rebelião de maus pagadores de impostos; a denominaram com o nome impróprio de Inconfidência; só alguns líderes seriam presos e desde logo marcados para serem “condenados à morte na forca”. Tiradentes dentre eles, não por ser pobre e inculto, como prelecionam alguns historiadores, “politicamente corretos”, mas porque era um homem que Portugal temia.

Poucos foram presos e só onze foram condenados à morte. Destes, dez tiveram suas penas comutadas para degredo. E aqui ressalta a importância da Comarca do Rio das Mortes (São João del-Rei) e também de Resende Costa. Dos onze condenados à morte, sete eram da Comarca do Rio das Mortes: Alferes Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes, Coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto, Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Sargento-Mor Luiz Vaz de Toledo e Piza, Capitão José de Resende Costa (pai), José de Resende Costa (filho) e o médico Domingos Vidal de Barbosa Lage. Ora, é evidente que se dos onze condenados à morte, sete eram de nossa comarca, então a participação de nossa gente na Conjuração foi relevante.

Para nosso maior orgulho, dos sete condenados à morte, três eram domiciliados no Arraial da Lage, na nossa Resende Costa: Capitão José de Resende Costa e seu filho de mesmo nome e o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes.  Os dois primeiros eram residentes, sendo que José de Resende Costa, o filho, era natural do Arraial da Lage.

Quanto ao Padre Carlos Corrêa de Toledo e Melo, o quarto que tinha domicílio na Lage, por ser sacerdote foi julgado segundo regras próprias e a sentença nunca divulgada.

 O nosso orgulho é, portanto, elevadíssimo, em razão da indiscutível participação de nossos heróis na Conjuração Mineira.

Que nossas autoridades erijam um monumento, que embora singelo, perenize o fato e o nome dos quatro Conjurados, nossos conterrâneos, pois resende-costense não é só quem nasceu aqui, é também quem veio para trabalhar ou morar em nossa terra, engrandecendo-a.

 

*Advogado, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.

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