Resultado das eleições mostra inversão de papéis no cenário político em cidades da região das Vertentes


Entrevistas

André Eustáquio0

Fernando Chaves

Fernando de Resende Chaves, 30, é jornalista graduado pela UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei) e está concluindo mestrado na linha de Comunicação e Poder pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Especialista em hábitos de consumo de mídia e comportamento político-ideológico, Fernando atua nas áreas de marketing político e comunicação governamental. Nas duas últimas eleições em Resende Costa (2012 e 2016), Fernando fez parte da coordenação da campanha eleitoral do prefeito Aurélio Suenes. Neste ano, prestou consultoria política em sete cidades mineiras durante o período eleitoral, incluindo São João del-Rei. Nesta entrevista, o jornalista analisa o quadro político na região do Campo das Vertentes a partir do resultado das urnas no dia 2 de outubro.

Você fez parte da coordenação das duas campanhas eleitorais vitoriosas do prefeito reeleito de Resende Costa Aurélio Suenes. Nesta eleição ele obteve mais de 60% dos votos válidos. Qual a fórmula para esse sucesso eleitoral? Sou estudante e profissional do marketing, mas a minha formação passa também pelo campo da Ciência Política, pois trabalho com dois orientadores de mestrado que são cientistas políticos. Sendo assim, diferentemente dos profissionais da comunicação em geral, eu não considero o marketing a principal ferramenta em uma eleição. Ele é fundamental, pode até decidir uma disputa. Mas, em primeiro lugar, é preciso ter projeto e articulação política. É preciso que a campanha tenha capilaridade eleitoral, penetre nas diversas esferas da sociedade, tenha representação em diversas classes sociais. O marketing é o componente final. Ele mostra e defende um projeto diante do eleitor. Mas se o projeto e as alianças políticas não forem bons, não há marketing que resolva. O eleitor não é bobo. Então, não vejo as duas vitórias do prefeito Aurélio apenas como conquistas eleitorais ou conquistas de campanha. São conquistas construídas num contexto político bem mais amplo do que uma eleição propriamente dita. São conquistas construídas no dia a dia político do município, agregando alianças, apresentando projetos, mostrando resultados na administração pública. Claro que conseguimos montar uma equipe de coordenação de campanha muito forte, incluindo nomes como Toninho Ribeiro e Cícero Chaves. Isso ajuda muito. Mas o que vence eleição é a política bem feita. O marketing é uma ferramenta auxiliar.

O Aurélio derrotou duas vezes o Adilson Resende, que já foi prefeito e representa uma das maiores forças políticas de Resende Costa, o PT. Em sua opinião esta derrota por uma grande diferença de votos enfraquece o PT de Resende Costa? O PT de Resende Costa lançou candidatura em 2016 pensando, sobretudo, em preservar a força da sigla, possivelmente para as próximas eleições de 2020. A cúpula do partido sabia de antemão que existia uma ampla aliança em defesa da reeleição de Aurélio e que seria muito difícil reverter essa tendência. Em política é assim. Às vezes você encara uma luta perdida pensando em fortalecer-se para a próxima luta. O PT de Resende Costa fez isso nas eleições de 2016. Essa estratégia funciona? Talvez sim. Talvez não. Vai depender de muitos outros fatores. No meu entendimento, a derrota por uma grande diferença de votos não foi o maior fracasso do PT de Resende Costa em 2016, até porque essa derrota era bem previsível. O grande fracasso do PT nestas eleições foi perder representatividade na Câmara. Essa é a evidência mais nítida do enfraquecimento do partido, que por décadas foi a maior bancada do município e hoje é apenas a terceira.

A reeleição do prefeito Aurélio permite afirmar que ele, com 37 anos, já se consolidou como referência e liderança política de grande expressão em Resende Costa? A reeleição de um prefeito é o maior atestado de aprovação popular ao seu governo. Aurélio enfrentou períodos difíceis neste primeiro mandato em razão da crise econômica que abalou a receita dos municípios brasileiros, principalmente os menores. Costuma-se dizer que o bom gestor é conhecido nos momentos de dificuldade. Foi o que aconteceu: num momento difícil, Aurélio ainda conseguiu se destacar em relação a outros prefeitos da região, conquistou a confiança do eleitor e de outros partidos, formou alianças amplas. O seu segundo mandato será tão desafiador quanto o primeiro ou ainda mais, pois já se inicia com forte escassez de recursos, devido à crise que se prolonga. A consolidação de Aurélio como liderança municipal ou até regional vai depender do seu segundo mandato. Até aqui, ele fez o dever de casa e fez muito bem.

A coligação que reelegeu o prefeito Aurélio, formada por PSD, PMDB e PSDB – coincidentemente os três partidos que mais elegeram prefeitos no país, até o início do segundo turno – representa uma nova força política em Resende Costa? Qual o futuro desse casamento? Coligações são extremamente importantes em contextos como o de Resende Costa. Além de ajudar na obtenção de emendas parlamentares e outros recursos, as alianças permitem a eleição de governos mais representativos e que contam com a contribuição de diversos grupos políticos. Como não temos segundo turno em cidades pequenas, corre-se o risco de se eleger governos muito pouco representativos, principalmente se houver muitas candidaturas dividindo o eleitorado. O último prefeito do PT na nossa cidade, por exemplo, assumiu a prefeitura com apenas 34% dos votos, porque o eleitorado se dividiu em quatro candidaturas no pleito de 2008. Isso nunca aconteceria em uma cidade com mais de 200 mil eleitores, pois o segundo turno existe para forçar as alianças e assim formar governos mais representativos. Afinal, um governo com mais de 50% dos votos é muito mais legítimo que um governo eleito na casa dos 30%. Quem vai ganhar com a aliança entre PSD, PMDB e PSDB será Resende Costa. Acredito no sucesso e na duração dessa parceria, principalmente porque conheço a habilidade política dos líderes partidários que costuraram essa aliança, em especial o Toninho Ribeiro (PMDB), o prefeito Aurélio (PSD) e o vice-prefeito eleito Zinho (PSDB).

Com que Câmara Municipal o prefeito Aurélio vai ter que negociar a partir do dia 1º de agosto? O novo governo terá uma ampla base de apoio na Câmara Municipal. Dos nove vereadores eleitos, sete pertencem aos partidos que apoiaram a reeleição do prefeito Aurélio. Isso tende a facilitar a governabilidade. Acredito que a administração não terá grandes dificuldades de relacionamento e negociação com a Câmara Municipal. Inclusive porque a relação entre os poderes executivo e legislativo foi bastante produtiva durante o primeiro mandato, prevalecendo o respeito à autonomia da Câmara por parte da administração e o senso de responsabilidade por parte dos dois poderes. No segundo mandato, com uma base de apoio ao governo maior e mais consolidada na Câmara, essa relação pode ser ainda mais produtiva. Quanto aos dois vereadores de oposição eleitos, acredito que farão o seu trabalho pensando no benefício ao município e não com intuitos partidários. Se isso ocorrer de fato, contribuirá ainda mais para o bom funcionamento da administração e para o desenvolvimento de Resende Costa.

“Nas eleições de 2012, o PT foi o grande vencedor na região. Naquele contexto, o PSDB e o PMDB perderam espaço. Já em 2016, o cenário se inverteu. O partido que mais cresceu na região foi o PSDB”

A eleição em São João del-Rei, cidade polo da região do Campo das Vertentes, não surpreendeu ao consagrar novamente o veterano Nivaldo Andrade. O PT, do atual prefeito Helvécio Reis, foi apeado do poder e o PSDB, de Rômulo Viegas, não teve chances. Qual a avaliação que você faz do quadro político de São João del-Rei? São João del-Rei é uma cidade extremamente carente de renovação política. Nas últimas décadas, nenhum projeto político que se colocou como alternativa ao nome de Nivaldo Andrade conseguiu se consolidar na cidade. O PSDB esteve à frente do executivo de 2005 a 2008. O PT governou São João del-Rei de 2013 a 2016. Nenhum dos dois partidos conseguiu se sobrepor ao nome de Nivaldo, que mantém-se desde a década de 1990 como maior líder político na cidade, mesmo conhecido pelo jeito tradicional e muitas vezes desgastado de fazer política. De 2004 pra cá, o eleitor de São João del-Rei fez suas tentativas de renovação com o PT e o PSDB, mas frustrou-se enormemente com ambas. Tanto a gestão de Sidinho (PSDB) quanto a de Helvécio (PT) redundaram em grandes fracassos políticos. Sendo assim, há um vácuo político em São João del-Rei. O eleitor quer tirar o poder das mãos de Nivaldo e passar para outra liderança, mas não encontra essa liderança. Acredito que o PSDB errou em lançar Rômulo, que também representa uma política tradicional, já tendo sido prefeito em outros tempos. São João está sedenta por renovação política e carente de um novo projeto, de uma nova liderança. Como não existe vácuo de poder muito duradouro na política, essa nova liderança pode surgir nos próximos anos.

A partir dos resultados das urnas nestas eleições, qual a sua avaliação do cenário político na região das Vertentes? Já se pode fazer alguma análise quanto ao futuro? Nas eleições de 2012, o PT foi o grande vencedor na região. Foi o partido que mais ganhou prefeituras no Campo das Vertentes. Foi o caso, por exemplo, de São João del-Rei, Ritápolis, Santa Cruz de Minas e Prados. Naquele contexto, o PSDB e o PMDB perderam espaço. Já em 2016, o cenário se inverteu. O partido que mais cresceu na região foi o PSDB. Levou, por exemplo, as prefeituras de Prados, Ritápolis, Coronel Xavier Chaves, Tiradentes e Barroso. Além de estar na base aliada de governos em cidades como Resende Costa. Não tenho os números, mas me parece que este cenário se repetiu no Estado de Minas Gerais como um todo. Sobre o futuro, as previsões no campo da política são sempre muito arriscadas. Mas, em geral, o resultado das eleições municipais costuma predizer o resultado da disputa pelo governo do estado, que acontecerá daqui a dois anos. Em 2012, o avanço do PT sobre as prefeituras antecipou o resultado da eleição estadual de 2014, com a vitória de Fenando Pimentel (PT). Seguindo esta lógica, será muito difícil para o PT preservar-se no governo estadual após 2018.

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