EXCLUSIVO: São João del-Rei tem a segunda maior poupança por habitante de Minas Gerais

Barroso, Resende Costa e Piedade do Rio Grande destacam-se na microrregião Campos das Vertentes


Cidades

José Venâncio de Resende0

Prof. Aluizio Barros: “os resultados continuam surpreendentes".

São João del-Rei ocupa a segunda posição em Minas Gerais na poupança por habitante entre 67 municípios com mais de 50 mil habitantes. Em 2015, a poupança média do são-joanense foi de R$ 6.674, calculada a partir da divisão da poupança total municipal (R$ 599,6 mil) pela população (89.832 habitantes).
São João del-Rei só foi superado por Belo Horizonte, que lidera no Estado com poupança de R$ 6.836 por habitante (poupança total de R$ 17,18 milhões dividida pela população de 2.513.451 habitantes.

Os valores da poupança municipal são fornecidos pelo Banco Central – que supervisiona as instituições financeiras do País - ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que por sua vez estima a população municipal. O cálculo da poupança média das cidades com população superior a 50 mil habitantes foi elaborado pelo economista Aluizio Antônio de Barros, professor aposentado da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

“Faz tempo que ouvimos dizer que as agências bancárias são-joanenses registram números elevados de depósitos em caderneta de poupança – ´os maiores do Estado´. Inicialmente descartei a informação, atribuindo-a ao amor desmedido do são-joanense por sua terra natal, sempre se vangloriando de ´fatos´ notáveis de difícil comprovação. Até que um dia me debrucei sobre as estatísticas no banco de dados do IBGE e verifiquei São João del-Rei entre os quatro maiores municípios de MG em poupança por habitante…”

O primeiro cálculo de Aluizio Barros foi para os 40 municípios mineiros com população superior a 70 mil habitantes, utilizando as estatísticas de 2010. Naquela época, Viçosa apareceu na liderança com R$ 3.685, seguida de Juiz de Fora (R$ 3.651), Itajubá (R$ 3.544) e São João del-Rei (R$ 3.503). Os cálculos não incluíam Belo Horizonte, a capital do Estado.

Os 10 maiores

Ao revisitar as fontes de dados do IBGE para atualizar os dados da pesquisa, Aluizio Barros descobriu que “os resultados continuam surpreendentes. Excluindo a capital do Estado, São João del-Rei lidera nas estatísticas de poupança por habitante com R$ 6.674, seguida de Viçosa (R$ 6.541), Barbacena (R$ 5.670) e Conselheiro Lafaiete (R$ 5.431)”.

Viçosa tem uma poupança total de R$ 509,3 mil e população estimada em 77.863 habitantes. A poupança de Barbacena soma R$ 770,1 mil para um total de 135.829 habitantes. Já a população de Conselheiro Lafaiete (126.420 habitantes) amealhou uma poupança total de 686,6 mil.

Na sequência, aparecem os municípios de Ponte Nova, com R$ 5.382/habitante (poupança de 323,9 mil e população de 60.188 pessoas); Lavras, com média de 5.303 (poupança de R$ 536,7 mil e população de 101.208 habitantes); Juiz de Fora, com média de R$ 5.225 (poupança de R$ 2,9 milhões e população de 559.636 habitantes); Itajubá, com R$5.097/habitante (poupança de R$ 492 mil e população de 96.523 pessoas); e Ouro Preto, com média de R$ 4.816 (poupança total de R$ 358,13 mil e população de 74.356 habitantes).

Entre os 67 municípios pesquisados por Aluizio Barros, 33% (um terço) da variação da poupança é explicada pela renda per capita. “Excluindo Belo Horizonte e Nova Lima, o coeficiente sobe para 40%. Nova Lima lidera em renda per capita porque é cidade dormitório de população de alta renda de BH, que tem conta bancária em BH e declara renda ao censo do IBGE em Nova Lima.”

O economista enfatiza que “a renda é uma variável importante para explicar níveis de poupança da população, pois explica 33% a 40%. Os outros 66,6% da poupança são explicados por outros fatores históricos, culturais e socioeconômicos”.

Microrregião das Vertentes

Na microrregião dos Campos das Vertentes, com sede em São João del-Rei, num segundo patamar aparecem Barroso, com poupança média de R$ 3.890 (poupança de R$ 80,9 mil e população de 20.790 habitantes); Resende Costa, com R$ 3.826 por habitante (poupança municipal de R$ 44,1 mil e população de 11.525); e Piedade do Rio Grande, com média de R$ 3.173 (Poupança de R$ 14,92 mil e população de 4.703 habitantes).

Em outra faixa logo abaixo, aparecem Tiradentes, com R$ 2.816/habitante (poupança total de R$ 21,75 mil e 7.726 habitantes); São Tiago, com média de R$ 2.640 (poupança de R$ 19,16 mil e 11.046 habitantes); Lagoa Dourada, com média de R$ 2.263 (R$ 29,4 mil de poupança e 12.999 habitantes); Carrancas, com R$ 1.992/habitante (R$ 8,2 mil de poupança municipal e população de 4.103 pessoas); e São Vicente de Minas, com média de R$ 1.922 (poupança municipal de R$ 14,6 mil e população de 7.614 habitantes).

Na faixa com poupança média mais baixa, encontram-se Madre de Deus de Minas, com média de R$ 1.420 (poupança de R$ 7,3 mil e população de 5.139 pessoas) e Nazareno, com média de R$ 1,415 (poupança de 12,1 mil e 8.532 habitantes).

Para os outros municípios da microrregião dos Campos das Vertentes, não existem informações disponíveis sobre o valor total da poupança no site do IBGE.
Possível explicação

Retomando a explicação para os 67 municípios pesquisados, Aluizio Barros assinala que os altos valores da poupança (renda não consumida em bens e serviços) de São João del-Rei e Viçosa poderiam ser explicados pelo rendimento das pessoas (representado pelo Produto Interno Bruto-PIB ou renda per capita). “Seria a presença de universidades federais? A Universidade de Federal de Viçosa, por exemplo, tem enorme importância na limitada economia do município onde se situa. Pode ser que seus funcionários com altos salários expliquem o montante de poupança na cidade”, observa Aluizio Barros.

Além disso, o economista lembra que existem outras formas de poupar, além da caderneta de poupança, a preferida do brasileiro. “As estatísticas municipais do IBGE mostram apenas duas: poupança e depósitos a prazo. Uma sugestão de pesquisa poderia ser investigar o ranking dos municípios num conceito maior de poupança, incluindo os depósitos a prazo.”

Um terceiro fator a explicar a poupança por habitante nos municípios podem ser características culturais e históricas específicas, assinala Aluizio Barros. “A parcimônia me parece ser uma característica do são-joanense contemporâneo. Seus antepassados acumularam o ouro que o colonizador não levou, e que financiou um ciclo de prosperidade de uma economia mercantil e industrial. Em 1860, instalou-se aqui uma das primeiras instituições particulares de crédito no Brasil – a Casa Bancária Custódio de Almeida Magalhães.”

Segundo o economista, “a frugalidade continua presente no perfil do são-joanense, que, no passado, escondia o leite dos fiscais da receita e o ouro das autoridades portuguesas. A forte religiosidade ainda presente no dia-a-dia reforça esse comportamento comedido no trato das finanças”.

Importância de poupar

Aluizio Barros aproveita para falar sobre a importância do ato de poupar. “O senso comum recomenda a poupança como o caminho virtuoso e legal para a acumulação de riqueza patrimonial. Se gastamos tudo o que ganhamos, não acumulamos patrimônio. Além da posse de bens físicos (casas, carros, etc), o patrimônio aparece modernamente na propriedade de ativos financeiros como caderneta de poupança, ações, títulos, etc.”

Segundo o professor, o ato de poupar, seja para acumular patrimônio, seja para adiar o consumo, é perfeitamente racional para uma pessoa. Mas seria isso bom para a economia? A pessoa que poupa não estaria prejudicando a economia ao “não fazer circular o dinheiro”?

“Depende de onde você aplicou sua poupança, responde Aluízio Barros. “Se você comprou um ativo físico (terreno), a economia não melhorou nem piorou. Mas se você aplicou na caderneta de poupança, seu dinheiro pode ficar lá acumulando rendimentos na agência bancária, que, simultaneamente pode emprestar para alguém que queira construir uma casa. A intermediação financeira tem essa função de servir tanto a poupadores, quanto aos investidores, que necessitam de recursos.”

Por isso, as poupanças financeiras no município não são prejudiciais, e freqüentemente constituem capital para financiar as oportunidades de produção e consumo, conclui Aluzio Barros. “A palavra oportunidade é chave para entender uma economia com capitais, mas sem dinamismo. Isto porque pode estar faltando o outro lado do ato de poupar, que é o ato de investir nas oportunidades de produção ou consumo. Nas economias dinâmicas, essas oportunidades aparecem ou são criadas.”

 

 

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