Saramago inspira novo programa turístico em Portugal

Mosteiro de Cárquere e Igreja de S. Martinho de Mouros, em Resende, fazem parte do roteiro.


Cidades

José Venâncio de Resende0

Igreja de S. Martinho de Mouros, do século XIII (fonte: Foto Ideal Resende).

Entre outubro de 1979 e julho de 1980, o escritor José Saramago, cujo centenário será comemorado em 16 de novembro de 2022, percorreu o país, de lés a lés (de uma ponta a outra), e os seus registos deram origem ao livro Viagem a Portugal, publicado em 1981. Um novo programa turístico da Rota do Românico, inspirado na sua obra literária, propõe uma viagem de cinco dias através do olhar do escritor que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998.

Entre as experiências vivenciadas pelo escritor e que farão parte do roteiro, estão o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere e a Igreja de São Martinho de Mouros, ambos localizados no município de Resende. O programa turístico da Rota do Românico, nos vales do Sousa, Douro e Tâmega, pretende ainda relembrar e promover numerosos monumentos, paisagens e experiências vivenciadas pelo escritor. São os Mosteiros de Pombeiro, Ferreira, Cête e Paço de Sousa; as Igrejas de Telões e Tabuado; o centro histórico de Amarante e as serras da Aboboreira e de Montemuro, entre outros locais do itinerário geográfico, histórico e sentimental narrado por José Saramago.

O programa Viagem a Portugal faz parte do projeto de turismo literário homônimo, desenvolvido por técnicos das Associações de Municípios do Vale do Sousa/Rota do Românico e do Baixo Tâmega e dos Municípios de Baião e Marco de Canaveses, premiado, em dezembro de 2020, pelo IPDT - Turismo e Consultoria e pelo Turismo de Portugal, no âmbito da iniciativa ALA+T - Qualificar para o Turismo.

900 anos de S. Martinho de Mouros

O historiador e padre Joaquim Correia Duarte assinalou, em seu artigo “Coisas da Vida”, os 900 anos da instituição do concelho de S. Martinho de Mouros, atual Freguesia de Resende. “Reconquistado o castelo de S. Martinho aos Árabes (mouros) pelos exércitos de Fernando Magno, rei de Leão, em 1057, entregou o rei reconquistador ao Conde D. Sisnando este castelo e outros castelos da região para ele cuidar de povoar e aforar a cristãos as terras reconquistadas. A essa reconquista seguiu-se naturalmente o repovoamento da terra que se terá concretizado pelo sistema de ´presúria´, com apropriação de terras feita pelos guerreiros, à medida que os árabes as abandonavam.”

Segundo Duarte, o referido Conde D. Sisnando, por ordem de Fernando Magno, “deve ter dado à terra algum documento, ainda que rudimentar, no gênero das ´cartas de foro´ ou ´cartas de povoação´, documento que veio a ser confirmado e actualizado pelo filho do referido rei, Afonso VI de Leão, o mesmo que fez doação do Condado Portucalense ao Conde D. Henrique, seu genro. Constando os forais de Penela, de S. João da Pesqueira, de Paredes, de Linhares e de Ansiães, todos de 1056, como sendo os mais antigos forais que se conhecem em terras portuguesas, o documento de Fernando Magno dado a S. Martinho de Mouros deve ser da mesma época, senão mesmo anterior, e, consequentemente, deve pertencer a esse rol dos mais antigos forais”.

“Tais documentos”, prossegue Duarte, “destinavam-se a atrair povoadores para esses lugares reconquistados, a regular a vida e as relações desses novos possuidores (fidalgos e vilões), e também a estabelecer os direitos do rei e os tributos a pagar pelos moradores. Esses documentos mais antigos relacionados com S. Martinho não se conhecem. Conhece-se, sim, a Carta de Confirmação desses anteriores documentos pela Condessa D. Teresa, mãe do nosso primeiro rei, com a data de 1 de Março de 1158. O documento original, guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Forais Antigos, maço VIII, nº 6, está escrito em latim.”

A data de 1158 é uma data anterior à adoção da Era Cristã, que aconteceu apenas em 22 de agosto de 1422, no reinado de D. João I, explica Duarte. “Assim sendo, a essa data corresponde, na era cristã que hoje usamos, o ano de 1121. Novecentos anos passaram. É verdade que S. Martinho de Mouros, que então abrangia todo o vale de Bestança e também Gosende, no Montemuro, perdeu o seu estatuto de município, já lá vão perto de 170 anos. Porém, a sua importância histórica permanece de pé. A sua antiguidade indiscutível. A sua glória intacta.”

Fonte: Notícias de Resende, edição de fevereiro de 2022 

LINK RELACIONADO:

Monumentos da Rota do Românico: https://www.rotadoromanico.com/pt/monumentos/

 

 

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