Semana Santa de Resende Costa preserva tradições religiosas da cultura mineira

“Somos despertados para o sentimento de Jesus Cristo”


André Eustáquio


Cena do Descendimento da Cruz realizado no adro da igreja matriz de Resende Costa (Foto Leticia Resende)

As solenidades da Semana Santa de Resende Costa, que se inicia no Domingo de Ramos e conclui-se com a procissão do Triunfo de Nossa Senhora, na segunda-feira da Páscoa, preservam tradições religiosas e culturais mineiras que auxiliam os fiéis a refletirem sobre os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus. “Somos despertados para o sentimento de Jesus Cristo”, destaca o texto de abertura do programa da Semana Santa 2019.

A música sacra, os sinos, o incenso, as portas abertas dos passinhos que remontam à paixão de Jesus, o aroma do manjericão que emana dos andores do Senhor dos Passos e da Senhora das Dores, as procissões piedosas, as vias-sacras, a beleza do latim, o Círio Pascal aceso anunciando a ressureição de Jesus, entre outros elementos religiosos e estéticos presentes nas celebrações litúrgicas e paralitúrgicas, constituem uma verdadeira obra-prima, gestada há séculos, que elevam o espírito e o coração a Deus.

 

Sermões, celebrações penitenciais e procissões

A cada ano aumenta o número de pessoas nas celebrações da Semana Santa de Resende Costa. As procissões se tornam maiores, assim como o número de pessoas que participam das celebrações comunitárias da penitência e procuram as confissões individuais. Nos tradicionais sermões do Encontro e do Descendimento da Cruz realizados, respectivamente, nas praças Mendes de Resende e Cônego Cardoso, pôde-se constatar, neste ano, um piedoso e eloquente silêncio emanado de uma grande multidão atenta às palavras dos padres oradores Elissandro José Campos de Carvalho (vigário paroquial da Paróquia de Santo Antônio, de Tiradentes) e Márcio César Ferreira (pároco da Paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus, de Madre de Deus de Minas).

A cerimônia do Lava-Pés, realizada durante a solene santa missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, é um dos momentos mais belos e tocantes da Semana Santa. Após a proclamação do Evangelho de João, que relata os últimos momentos de Jesus com seus discípulos, uma aura de triste piedade e consternação toma conta da igreja. Os fiéis já interiorizam a paixão de Jesus ao som do toque opaco e fúnebre das matracas. O belo sermão do Mandato, cujo tema central é o amor divino e a doação incondicional de Jesus, foi proferido neste ano pelo padre Thiago Faccini Paro, vigário paroquial da Paróquia de São José do Belém, em São Paulo, e membro do Setor Espaço Litúrgico da Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Padre Fábio Rômulo Reis, pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, de Resende Costa, falou ao JL sobre a Semana Santa deste ano e destacou a participação dos fiéis nas solenidades. “Constatamos o crescer da busca pelo Senhor, pelas confissões individuais e pelas celebrações comunitárias da penitência, tendo em vista bons propósitos de perseverarem na graça de Deus para uma vida mais harmoniosa e feliz na família e no trabalho. Percebemos um envolvimento maior das Pastorais, Irmandades, Movimentos e voluntários pelo bom êxito da Semana Santa. Registramos, também, a participação admirável do Coral e Orquestra Mater Dei, dos diversos corais e da Banda de Música Municipal Santa Cecília.”

 

 

A música sacra

Dois grupos atuam na execução da música sacra durante as principais cerimônias da Semana Santa de Resende Costa: o Coral e Orquestra Mater Dei e a Banda de Música Santa Cecília. A maratona de ensaios dos músicos começa antes do Carnaval para dar conta do vasto repertório composto de peças sacras – motetos, marchas fúnebres, missas solenes etc. – escritas por grandes compositores mineiros, como Antônio de Pádua Falcão, Padre José Maria Xavier, Manoel Dias de Oliveira, Ribeiro Bastos, entre outros.

O Coral e Orquestra Mater Dei é dirigido pelo maestro Wagner Barbosa. Jovem resende-costense, Waguinho, como é conhecido por seus amigos, tem realizado brilhante trabalho na regência do tradicional grupo musical que atua, especialmente, nas cerimônias solenes na Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França. O maestro conversou com o JL sobre a participação do Mater Dei na Semana Santa 2019: “A Semana Santa 2019 teve um resultado muito positivo para a nossa orquestra. Todos os dias o grupo esteve com muitos componentes e todos com o mesmo propósito de louvar a Deus através da música. Ouvimos muitos comentários positivos de pessoas da cidade e também de fora da cidade, que costumam acompanhar o trabalho de outras orquestras. Essas pessoas disseram que estamos no caminho certo, desenvolvendo-nos mais a cada dia. Palavras assim nos motivam a continuar com nosso trabalho”, disse Waguinho.

Quem viu as apresentações do Coral e Orquestra Mater Dei no interior da igreja matriz e em frente aos passinhos durante as procissões pôde constatar a presença de diversos jovens cantando ou tocando algum instrumento. “Neste ano, tivemos cinco novos membros que participaram pela primeira vez da Semana Santa atuando na Orquestra Mater Dei. Estamos sempre tentando agregar novas pessoas que possam contribuir com anossa instituição. Na orquestra, hoje, temos músicos de todas as idades, desde os 11 anos até os mais experientes, beirando a casa dos 90. O mais importante e gratificante é ver que todos convivem bem, em harmonia e amizade”, elogiou o maestro Wagner. Ele destacou também o extenso repertório sacro executado durante as cerimônias: “Outro fator importante é o extenso repertório utilizado na Semana Santa. Tentamos a cada ano adequar o repertório e corrigir a utilização das músicas seguindo a liturgia, o que exige muito preparo e dedicação dos membros.”

A Orquestra Mater Dei é uma associação autônoma sem fins lucrativos que, para sobreviver e manter suas atividades, depende do apoio e de convênios com instituições, como a Prefeitura Municipal. “Neste ano, usamos um dos espaços da nossa sede para vender lanches e velas na Semana Santa. A renda será utilizada para compra de equipamentos para nossa sede, como cadeiras e ventiladores, para poder atender melhor aos nossos caríssimos músicos que estão sempre se preparando para nossas apresentações. Aproveitamos o ensejo para informar que aceitamos doações de móveis, instrumentos ou qualquer outro tipo de ajuda, desde que seja proveitosa para a instituição”, conclui o maestro Wagner Barbosa.

Não tem como pensar nas procissões da Semana Santa sem a participação da Banda de Música Santa Cecília. Na Segunda-Feira Santa, na saída da procissão do Depósito do Senhor dos Passos, muitos fiéis esperam de fora da igreja matriz a banda tocar a primeira marcha fúnebre da Semana Santa. E ao longo da semana, serão muitas para o deleite dos “devotos da banda”, como dizia o saudoso monsenhor Nélson Rodrigues Ferreira. “Nossos artistas músicos estão de parabéns, pois tocaram cada acorde e melodia com muita vibração e amor. A tradição resende-costense é muito grande quando falamos de Semana Santa, e essa tradição musical em Resende Costa é algo que tem vida própria. Aproveito para parabenizar todos os músicos que, através da sua arte, puderam abrilhantar a nossa Semana Santa”, elogiou Luiz Carlos Martins Júnior, natural de Prados e maestro da Banda Santa Cecília.

O maestro Luiz Carlos vem trabalhando na formação de novas e talentosas gerações de músicos. O resultado desse importante trabalho será decisivo para a preservação das tradições musicais de Resende Costa.

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