Tempos de chuvas e de despreparo


Editorial

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Um dos destaques de capa desta edição do Jornal das Lajes são os estragos causados pelas chuvas do fim de janeiro em Resende Costa. Apesar de a cidade não sofrer com alagamentos, devido a sua posição geográfica e de estar distante de rios e córregos, os 80,6mm de chuvas que caíram na cidade entre os dias 23 e 24 de janeiro causaram alguns transtornos à população, especialmente em alguns lugares na zona rural, onde pontes foram danificadas e estradas obstruídas devido a quedas de barrancos, conforme mostra a reportagem.

Já era previsto para a região Sudeste do país um grande volume de chuvas neste verão. A ausência dos fenômenos El Niño e La Niña contribuiu para a retorno da normalidade das chuvas. Porém, o que poucos esperavam foi o que alguns especialistas estão chamando de “chuvas fora da curva”, ou seja, tempestades como a que caiu sobre Belo Horizonte, destruindo ruas, deixando mortos e centenas de pessoas desabrigadas. De acordo com os meteorologistas, a tempestade que atingiu a capital mineira no dia 28 de janeiro costuma acontecer a cada mil ou 10 mil anos. Todavia, para preocupação de todos, a previsão é que a partir de agora tal fenômeno, devido às mudanças climáticas e ao aquecimento global, poderá acontecer com a frequência de 10 ou cinco anos.

As imagens que vimos do transbordamento do Rio Arrudas, que corta a região central de BH, engolindo avenidas e abrindo enormes crateras com a força descomunal da água, nos fazem lembrar cenas de filmes. O fato é que não se trata de ficção, mas, sim, da reação da natureza às agressões que lhe foram e vêm sendo causadas pelas ações do homem. A sociedade está pagando caro o preço pela falta de planejamento urbano e pelas decisões erradas que, historicamente, subestimaram o poder das águas e da natureza de forma geral.

Em nome do chamado “progresso”, a população atual vem sofrendo as consequências de uma desastrosa política de urbanização que não considerou a importância de um planejamento ambiental, habitacional e de infraestrutura. O caos que vemos nas grandes cidades, com ruas e avenidas superlotadas de carros, esgoto poluindo rios e escorrendo nas portas de muitas casas nas periferias é sinônimo de incompetência e irresponsabilidade de sucessivos governos.

No momento, reverter essa situação caótica requer decisões corajosas dos gestores públicos e muito dinheiro no caixa de estados e municípios.

O período das chuvas revela a cada ano o despreparo das autoridades e de gestores públicos para lidarem com problemas que são recorrentes. Já se sabe onde ocorrem os maiores transtornos, onde estão as casas que serão engolidas por deslizamentos de encostas, quais avenidas serão inundadas, quais rios irão transbordar. Mesmo assim, nada se faz para se precaver e proteger a vida de pessoas que, em sua grande maioria, não têm para onde ir. Ora, ninguém escolhe morar nas margens de um rio que pode transbordar a qualquer momento, tampouco numa encosta que pode ceder e soterrar sua casa e matar a família inteira em poucos segundos.

Enquanto não houver no país políticas públicas sérias e bem executadas que possam, entre outras ações, planejar e organizar o crescimento dos centros urbanos, continuaremos assistindo, perplexos, a avenidas se transformarem em leitos de rios, barrancos engolirem casas, lama ceifar vidas, enquanto as autoridades tentam encontrar desculpas e eleger culpados – quando não colocam a culpa na própria natureza.

Na madrugada do dia 10 de fevereiro, foi a vez de São Paulo, a maior cidade do país e uma das maiores metrópoles do mundo, ficar debaixo d’ água enquanto a população sofria novamente com os transtornos que se repetem todos os anos. Na previsão do tempo, chuvas fortes para o Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Quando esse editorial estava sendo escrito, no último dia 11, chovia torrencialmente em Resende Costa havia mais de 24 horas. Não foi possível, até o fechamento desta edição, atualizarmos o registro pluviométrico de fevereiro na cidade e suas consequências.

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