Tempos difíceis


Editorial

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Depois do polêmico e conturbado processo de impeachment que afastou definitivamente Dilma Rousseff (PT) da Presidência do Brasil, efetivando Michel Temer (PMDB) no cargo mais importante da República, todos nós estamos nos perguntando: e agora, o que será do Brasil? Será que enfim conseguiremos viver em paz politicamente? Desde o início das grandes manifestações populares em 2013, o país vive mergulhado numa profunda crise política alimentada pela maior crise econômica de sua história e pelas investigações da Operação Lava-Jato. Pela segunda vez após a redemocratização em 1985, os brasileiros assistem a um presidente sofrer um processo de impeachment.

O fato mais grave da crise política atual é a divisão que ela vem causando no país: “nós contra eles”. Em artigo publicado no dia 1º de setembro no jornal O Tempo, o jornalista Acílio Lara Resende chama a atenção para a necessidade de unir o país em prol da governabilidade. “Respiraríamos todos bem melhor se nossos políticos entendessem, daqui pra frente, que ninguém governará este país nem jamais conseguirá promover as transformações de que necessita com urgência, começando por dividi-lo”.

Os grandes e hábeis políticos, do passado e do presente, ensinam que a política deve ser a arte da conciliação. E no momento atual, nada mais é necessário à política brasileira do que a conciliação. É imprescindível que os adversários se deem as mãos, dialoguem e coloquem o interesse da nação acima das rixas e dos projetos de poder. Pode ser utopia esperar que isso aconteça hoje no Brasil, mas é preciso ter esperança no futuro, mesmo sabendo que a tarefa do futuro, como disse um pensador, “é ser perigosa”, insondável... Está, enfim, na hora de o país novamente se superar e voltar à estabilidade política para o bem do povo.

No próximo dia 2 de outubro a classe política brasileira estará novamente diante do julgamento da opinião pública. Os eleitores irão às urnas para elegerem prefeito e vereadores em mais de 5.000 municípios do Brasil. Segundo analistas políticos, a crise política nacional causará impacto nas eleições municipais deste ano, sobretudo nas grandes capitais. Entretanto, espera-se que os interesses locais (mobilidade urbana, saúde, educação, cultura, segurança etc.) sobreponham-se aos escândalos de corrupção, às denúncias e condenações da Lava-Jato e ao impeachment, que neste ano marcaram e mancharam a política nacional.

A crise política não deixa, porém, de contaminar o entusiasmo dos eleitores. É comum ouvirmos de pessoas nas ruas que a vontade é de não votar. Ora, a antipatia e o desprezo pela política em nada contribuem para melhorarmos o quadro político do país. Apesar do justificável desânimo, devemos, sim, ir às urnas no dia 2 de outubro e escolher com responsabilidade, convicção e esperança quem acharmos que melhor irá gerir as nossas cidades. E existem bons nomes, certamente. O desafio é avaliar com sabedoria e perspicácia as melhores propostas e separar o que de fato é exequível do que é somente discurso e bravata para ludibriar o eleitor.

Toda eleição é momento único para o cidadão ir ao encontro da política, avaliar e julgar aqueles que nos representam. Que comecemos a mudar a política brasileira a partir da nossa casa, em nossos municípios, escolhendo quem realmente é merecedor do nosso precioso e decisivo voto.

Comentários

  • Author

    Sim, vivemos tempos difíceis. Entretanto não vejo, como parece fazer crer o editorial, que tenhamos possibilidade de união ou de creditamento ao governo Temer. O próprio Temer representava a tal união para a governabilidade à qual o PT sucumbiu, literalmente. O governo Temer (e o PMDB) representa o que mais de nefasto tem neste país, em termos de política. Nós os conhecemos de longa data. Fora Temer.


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