O escritor Umberto Eco visitou várias vezes Portugal - nação que foi fundada por cavaleiros templários - e um de seus locais preferidos era a Cidade de Tomar, idealizada para ser a “Nova Jerusalém” ou a “Jerusalém do Ocidente”. Eco chegou a apelidar Tomar de “Umbigo do Mundo” (“l´ombelico del mondo”), “expressão italiana para lugares cuja beleza e central importância se equiparam à da outrora capital do Império Romano”, disse no Facebook Andreia Galvão, diretora do Convento de Cristo (Observador, 22/02/2016).
Depois de visitar, em 1984, o Convento de Cristo – um ano depois de ser classificado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, juntamente com o Castelo dos Templários -, Eco publicou o livro “O Pêndulo de Foucault”. A visita inspirou várias páginas e descrições de um dos seus romances mais conhecidos e colocou Tomar no mapa com o carimbo de “umbigo do mundo”, lembrou Galvão. Uma das personagens do romance “se comoveu ao entrar na Charola, o templo octogonal que reproduz o do Santo Sepulcro, núcleo de todo o monumento e onde tudo começou”, acrescentou.
O castelo (de 1160) foi sede da Ordem do Templo (ordem religioso-militar medieval) até 1314 e da Ordem de Cristo, sua sucessora, a partir de 1357. Os primeiros ocupantes dessa fortaleza chegaram com D. Afonso Henriques, um templário que seria o primeiro rei de Portugal, e Tomar tornou-se a sede da Ordem. “A grandiosidade dessa parte é que era uma fortaleza, inexpugnável”, definiu Galvão.
Com o fim da Ordem do Templo, o rei D. Dinis criou a Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a benção do papa João XXII, que herdou as propriedades e os privilégios dos templários. Trata-se de um conjunto arquitetônico com forte ligação aos grandes descobrimentos e que guarda uma longa história de mais de oito séculos.
Charola
Do castelo, faz parte a igreja da Charola (“cabeça da Ordem”), construção octogonal (concebida à imagem da Cúpula do Rochedo em Jerusalém) cuja estrutura de pedra é do século XII. As pinturas e esculturas, do século XVI, apresentam marcas da renascença, como a Pietá e os afrescos (que contam a vida de Jesus criança). Já os grandes paineis de madeira contam a vida de Jesus homem – os paineis em branco foram queimados pelas tropas de Napoleão para se aquecerem.
Com D. Manuel I (século XVI), a Charola tornou-se espaço de trabalho dos melhores pintores ao serviço do reino, resultando numa “ornamentação manuelina fantástica”, na definição de Andreia Galvão (TVI, 22/08/2020).
Uma das imagens mais icônicas e divulgadas desse conjunto arquitetônico é a janela manuelina, de acordo com Galvão. E ainda há o portal, na parte ampliada da Charola, onde se destacam Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, e o Infante D. Henrique.
O Convento de Cristo, construído no século XV, foi o local onde o Infante D. Henrique preparou o projeto dos descobrimentos com a ajuda de judeus. O infante percebeu que comerciantes judeus sempre passavam por Tomar e estimulou a sua fixação, uma vez que eram donos do saber e do dinheiro. Neste convento, está a capela inacabada onde o rei D. Filipe I de Portugal (e II de Espanha) foi coroado. O rei mandou cobrir as paredes com tapeçaria das Índias e fazer um teto com velas das caravelas.
Além disso, há o claustro principal, construído no século XVI por D. João III para servir de clausura para a ordem (monges e guerreiros) que substituiu a Ordem de Cristo, e que teve grande peso na classificação para Patrimônio da Humanidade.
Breve história
A primeira pedra da Igreja de Santa Maria do Olival – ao lado da ponte romana às margens do rio Nabão - foi colocada em 01/03/1160. A igreja foi a primeira casa de D. Gualdim Pais (monge-guerreiro e fundador de Tomar), enquanto construía o castelo e a igreja da Charola, isto no século XII.
A igreja encontra-se foi erguida sobre as ruínas de um templo beneditino. Logo que viu aquela região de olivais, Gualdim Pais lembrou do rio Cedron, em Jerusalém, e percebeu que poderia construir ali a Jerusalém do Ocidente, à imagem da outra.
O jovem Gualdim Pais participou, em 1139, da Batalha de Ourique contra os mouros, que tornou D. Afonso Henriques o primeiro rei de Portugal. Em seguida, partiu como cruzado para a Palestina e, na Terra Santa, ingressou na Ordem do Templo (ordem religioso-militar medieval). Como monge-guerreiro, regressou a Portugal onde, em 1157, se tornou mestre dos templários.
Neto do Rei de Espanha, D. Afonso Henriques pertencia por parte de pai à Dinastia ou Casa da Borgonha (ramo da Casa de Capeto que governou originalmente o Ducado da Borgonha), tal como o abade francês Bernardo de Claraval (reformador da Ordem Cisterciense, com base na regra beneditina de oração, trabalho e rigor litúrgico), mais tarde São Bernardo. A Ordem de Cister estabeleceu-se em Portugal por volta do século XII, fundando vários mosteiros, principalmente o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Talvez influenciado por Bernardo de Claraval, Afonso Henriques ingressou na Ordem do Templo, uma ordem militar de cavalaria cujo nome original era Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão. Os templários ou cruzados ajudaram Afonso Henriques a retirar o Condado Portucalense da sua mãe, D. Teresa de Leão, e criar um novo reino, cujo berço da nação foi a cidade de Guimarães.
O pequeno Condado Portucalense foi conquistando territórios aos mouros rumo ao sul e, em retribuição aos seus serviços, D. Afonso doava bens e terras aos guerreiros templários. Foi assim que as terras da região de Tomar foram doadas pelo rei ao monge-guerreiro templário Gualdim Pais.
* Colaboração da guia de turismo Aurélia Madeira
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Câmara Municipal de Tomar: http://www.cm-tomar.pt/index.php/pt/visitar-2/convento-cristo
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