Uma dose de esperança


Editorial

0

A foto de capa desta edição do JL revela o sentimento que povoa os sonhos de milhares de pessoas, em todos os cantos do planeta, que desde o ano passado vêm sofrendo com os efeitos da pandemia de covid-19, causada pelo novo e ainda pouco conhecido coronavírus. Na foto, a enfermeira Eliete Mônica Barbosa recebe em seu braço a primeira dose da vacina Coronavac. Se observarmos bem os detalhes da imagem, veremos os olhos úmidos de Eliete e, por detrás da máscara, um escondido sorriso emocionado que comemora a vitória.

A vacina que todos nós esperávamos e com a qual continuamos sonhando, enfim, começou a chegar. No pico da pandemia no Brasil, em julho e agosto de 2020, alguns cientistas afirmaram que era utópico pensar em contar com vacinas no início de 2021. Um pesquisador brasileiro, em entrevista ao Canal Livre da Band, no início do segundo semestre do ano passado, chegou a dizer que “esperar que tenhamos vacina em janeiro do ano que vem é querer brincar de ciência”. A previsão dele felizmente estava errada. Em janeiro, os primeiros imunizantes começaram a ser aplicados nos braços de profissionais da saúde em diversos países. Ainda que em ritmo de conta-gotas, as vacinas contra a covid-19, especialmente as dos laboratórios que largaram primeiro nas pesquisas e, por sua vez, receberam investimentos bilionários, ficaram prontas, testadas e aprovadas em tempo recorde para a ciência.

Embora o distanciamento social e as restrições tenham afastado e amedrontado as pessoas nas datas em que celebramos justamente o encontro, a vida e a alegria (Natal e Réveillon), ainda encontramos motivos para brindar a chegada de 2021. E o motivo maior que fez renascer das cinzas a esperança adormecida no coração das pessoas foi a notícia de que, no início do ano novo, as pessoas já começariam a ser imunizadas. Uma luz no fim do túnel se acendeu e a pira da esperança começou novamente a crepitar suas chamas.

No entanto, nem tudo ocorre como desejamos. Logo o brasileiro pôde perceber que o sofrimento e a angústia pela espera estavam longe de terminar por aqui. Ao lado das boas notícias sobre a chegada da vacina, vieram os baldes de água fria. Entre tantos absurdos, chegamos a ouvir que o outrora prestigiado Ministério da Saúde não conseguiu sequer adquirir quantidade suficiente de seringas e agulhas! Inacreditável ouvir isso em um país modelo em vacinação em massa e que tem um programa público de saúde, o SUS, como referência mundial! Em meio ao despreparo e à falta de planejamento do Ministério da Saúde, ainda tivemos de assistir, em horário nobre da TV, briguinhas patéticas de dois patetas: o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria.

Enquanto os dois mimados trocavam farpas, países desenvolvidos largaram na frente, dando início a uma ampla e desafiadora campanha de vacinação. E o Brasil foi ficando para trás, assistindo passivamente às pessoas morrerem asfixiadas nos hospitais de Manaus e ao sistema de saúde colapsar em diversas capitais, de Norte a Sul do país.

Mas a esperança e a coragem, latentes no DNA do nosso povo, não foram vencidas, apesar do bombardeio diário de negacionistas capazes, inclusive, de desqualificar as vacinas e ignorar a importância delas no controle da pandemia. De um canto a outro, ainda ouvimos pessoas dizerem que não se vacinarão com medo de reações adversas. Lamentavelmente ainda há quem se deixa convencer-se por teorias obscurantistas e falaciosas.

A ciência, a passos largos, vem mostrando que a vitória sobre o inimigo invisível que mudou a vida do planeta e ceifou milhares de vidas virá somente do conhecimento, do esclarecimento e do investimento prioritário em pesquisa, educação e cultura. Somente essas armas serão capazes de combater o vírus letal da ignorância. E ignorância mata!

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário