Vicentinos de Resende Costa participam de romaria nacional a Aparecida do Norte


Cidades

José Venâncio de Resende0

Antigas casas de S. Vicente de Paulo, no local onde é hoje a loja Princesa, em frente à E. E. Conjurados.

Um grupo de vicentinos de Resende Costa, coordenado por Francisco Abel de Assis, vai participar, no dia 25 de março, de romaria nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) a Aparecida do Norte (SP).

Em Resende Costa, existem 15 Conferências de São Vicente de Paulo, reunindo cerca de 250 confrades e consórcias ativos, de acordo com Abel. Há ainda muitos outros inativos. Cada Conferência assiste uma média de quatro famílias, menos as conferências mirins que não assumem tamanha responsabilidade, mas apenas oferecem ajudas esporádicas.

Estas Conferências estão vinculadas a dois Conselhos Particulares: o de Nossa Senhora da Penha e o de São Francisco de Assis. E fazem parte dos milhares de unidades de base da SSVP, fundada em Paris (França) em 1833, que reúnem mais de 1,5 milhão de voluntários em cerca de 140 países.

A Conferência de Nossa Senhora da Penha é a antiga Conferência de São Vicente, que acaba de completar 112 anos. É poucos anos mais nova do que a Conferência Nossa Senhora do Pilar, da SSVP de São João del-Rei, que foi fundada em 1874.

Segundo Dimas José de Resende, a Conferência N. S. da Penha tem atualmente quatro confrades e três consórcias (total de sete) e atende cerca de quatro famílias.

As ações constituem-se de fornecimento de cesta básica, gás e remédio, além de ajudas esporádicas a necessitados. A entidade tem também uma “vila” (duas casas) destinada a pessoas pobres. As formas de arrecadação são a sacola na rua, donativos e aluguel de uma casa doada pelo padre Fernando Salomão.

Dimas lembra que, ao lado do apoio material, a Conferência tem a preocupação permanente de promover socialmente o assistido.

Histórico

A antiga Conferência de São Vicente – atual Conferência Nossa Senhora da Penha - foi fundada pelo coronel Luiz Orsini, em 14 de dezembro de 1905 no então Distrito da Lage. A ata da fundação foi assinada por 13 homens (católicos leigos) - o nome do coronel Orsini não aparece entre eles. Também chama a atenção a presença na reunião de outros católicos do lugar.

Dos 13 co-fundadores, “não há notícias da presença de alguém que tenha sido um grande fazendeiro escravista para os padrões locais, embora alguns deles pertenciam às famílias escravistas e de grande destaque social e econômico no Distrito da Lage”, diz diz João Carlos Resende, autor do trabalho “Da esmola material à esmola espiritual: a Conferência de São Vicente de Paulo da Lage de Tiradentes (1905-1907)”, apresentado, em 2017, ao curso de História da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) para a obtenção do grau de licenciatura.

Assinaram a ata de fundação da Conferência, no Arraial das Lages, os confrades: Agenor Gomes de Sousa; Antônio Alves de Andrade; Antônio Cândido dos Reis; Antônio Isidoro de Castro; Francisco de Assis Fontes Rangel; Francisco de Paula e Silva; Francisco Vieira de Andrade; Ignácio Augusto; José Caetano da Silva; José Luiz de Lourdes; Josué Francisco da Natividade; Lauro Augusto de Resende; e Ozorio Adolpho Rodrigues Chaves.

Primeira diretoria

O primeiro presidente da Conferência, eleito por aclamação, foi Francisco de Assis Fontes Rangel, que escolheu como tesoureiro Antonio Alves de Andrade e secretário Josué Francisco da Natividade. “A escolha de Francisco não surpreende, já que era bastante conhecido no distrito”, observa João Carlos. Chegou ao arraial entre 1860 e 1870, procedente de São João del-Rei, para suceder no magistério Francisco Florêncio Alves, primeiro professor do lugar. Foi “recebido com prazer e confiança”, de acordo com José Augusto de Rezende citado pelo autor. Chegou “credenciado por sua conduta retilínea e por sua fama de educador”, reforça Juca Chaves também citado pelo autor.

Rangel teria sido escolhido presidente da nova Conferência pela sua capacidade de ter “se valido da fé católica para promover a mudança de valores dos habitantes do Arraial da Lage”, por ter tido um bom relacionamento com o clero – “até cuidava das igrejas” - e também porque “fazia as vezes de acólito nas celebrações litúrgicas” (dito por Lara Resende), segundo o autor do trabalho.

O mandato do primeiro presidente da Conferência foi de 14 de dezembro de 1905 até 4 de março de 1907, “quando o Mestre Rangel pediu exoneração de seu cargo sem ter sido deixado algum registro esclarecendo sua renúncia”, observa o autor.

Os confrades

Ao analisar as atas de reuniões e demais encontros ocorridos no mandato do primeiro presidente, João Carlos apura que, ao todo, 24 homens, todos eles leigos, participaram da Conferência no período. “Interessante é notar que, desde a fundação da conferência, houve o ingresso de 11 membros, sempre por indicação de outros confrades…”

São eles: José Macedo de Resende e Virgílio Alves da Silva (sem registro de quem indicou); Orosimbo José de Resende, Francisco de Mello Sobrinho e Joaquim de Mello (indicados por Agenor Gomes de Sousa); Absalão de Mello (Francisco Vieira de Andrade); Joaquim Pinto de Resende Lara (Orosimbo); Raul Xavier de Oliveira Rangel (José Macedo); Aristides Augusto de Moraes, Francisco das Chagas Barros e José Francisco de Paula (indicados por Josué Francisco da Natividade).

Para o autor do trabalho, parece não haver motivos para crer que, com as indicações, os confrades mais antigos estariam “preocupados em formar uma rede de solidariedades, até mesmo para garantia de suas práticas econômicas”. Pelo contrário, “é possível notar que os três últimos admitidos no grupo, indicados por Josué Francisco da Natividade, eram ´meninos´, apresentados para serem ´aspirantes´. José, inclusive, era seu filho.”

Os pobres

Um dos objetivos da Conferência de São Vicente era fornecer ajuda material a pessoas tidas como pobres, assinala o autor. “Na maioria das vezes, um confrade apresentava o nome do necessitado aos confrades, que julgavam ser ele merecedor ou não da ajuda.”

No período estudado, a Conferência deu esmola a 13 pessoas específicas, além de dois grupos: um denominado “as vítimas da catástrofe de Juiz de Fora” (em 18 de fevereiro de 1906) e outro relativo a gasto com “fazendas para repartir com os pobres inocentes” (em 28 de dezembro do mesmo ano), diz o autor. As “doações eram repassadas por um confrade escolhido pela Conferência, responsável também por verificar o estado do socorrido”.

Os confrades distribuíam semanalmente as esmolas aos pobres escolhidos pelo grupo, “como se fosse uma espécie de aposentadoria, tendo em vista a ausência do Estado nesta área”, relata o autor. Normalmente, cada socorrido recebia 2$000 (dois mil reis) por semana, o que, em termos gerais, equivalia a 8$000 (oito mil reis) mensais. “Observando-se as funções desempenhadas pelos seus membros, foi possível notar que a Conferência não funcionou como uma rede de solidariedades entre eles.”

Caridade

A prática mais comum para angariar o dinheiro era, em cada reunião ordinária, passar a sacola entre os confrades presentes, quando cada um depositava a quantia que lhe fosse possível. “Dos 62 encontros registrados, em apenas uma ocasião não houve tal ato, justamente numa reunião extraordinária, com caráter festivo.”

A menor arrecadação (700 reis) ocorreu na reunião de 8 de novembro de 1906. Já a maior arrecadação (14$330 ou catorze mil, trezentos e trinta reis) foi verificada em 24 de janeiro de 1907. Porém, há registro de entrada de 27$060 (vinte e sete mil e sessenta reis) para os fundos do grupo em 22 de abril de 1906. “Contudo, diz-se que no valor estão inclusas ´as esmolas angariadas durante a Semana Santa´.”

Segundo o autor, “a associação tinha como real intenção promover a caridade católica, e não de controle social num lugar com alto índice de ex-escravos. A maioria dos confrades parecem ter visto o grupo como um canal para a prática de suas experiências religiosas. Devotados ao santo padroeiro, São Vicente de Paulo, aqueles homens estavam atrás da salvação de suas almas. Contudo, é bem verdade, há indícios que sugestionem que alguns viram a Conferência como um meio de inserção social, tendo em vista a segregação que sofriam no distrito”.

Link relacionado: 

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/mais-antiga-unidade-de-base-da-sociedade-de-sao-vicente-de-paulo-de-resende-costa-completou-112-anos/2367

 

 

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