Vida on-line na pandemia: benefício ou malefício?


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Camila Chaves0

Com a pandemia, não é novidade que as interações das pessoas através das redes sociais e aplicativos de conversas passaram a ser mais frequentes. Isso se deve ao fato de que milhares de pessoas tiveram de reinventar a forma de estudar, de trabalhar e de se relacionar em tempos de pandemia. A vida passou a acontecer on-line.

Outro grande influenciador no aumento dessa interação é o uso maior das redes sociais como forma de se relacionar com os amigos. WhatsApp, Instagram, Facebook passaram a ser mais utilizados juntamente com plataformas que permitem chamadas de vídeo. A tecnologia, permitindo a realização de aulas EAD (ensino a distância) e trabalho Home Office, facilitou exponencialmente a vida da população, que, em um momento tão difícil, precisou procurar algo que compensasse a falta de aglomeração.

Algo que sempre foi considerado vilão, isto é, como um vício para as pessoas, principalmente para os jovens, está cumprindo, neste momento, um papel primordial em nossas vidas e possibilitando-nos que, mesmo estando cada um em sua casa, ainda possamos ter contato e realizar tarefas importantes, tanto para nossa sobrevivência (há pessoas que estão trabalhando apenas on-line) quanto para o aprendizado dos estudantes.

Levando esse fato em consideração, o Jornal das Lajes entrou em contato com a psicóloga Tatiane Maria a fim de que ela nos ajudasse a refletir sobre o atual momento: Qual o impacto das novas tecnologias na vida das pessoas em tempos de pandemia? Até que ponto o uso das novas ferramentas tecnológicas deixa de ser benéfico e passa a ser um vilão em nossas vidas?

Segundo Tatiane, nós entramos em um novo padrão de comportamento de vivência em que temos que nos adaptar a uma realidade de tecnologia, passando a executar muitas de nossas atividades, profissionais e pessoais, através de métodos on-line, ou seja, pela internet. Já era previsto que em algum momento, não tão distante, a sociedade atual passaria a viver e a conviver mais “conectada”. A pandemia de Covid-19 veio para acelerar esse processo que, de forma ou de outra, era inevitável.

“Falando dos malefícios, teremos um enxugamento das relações reais e isso pode, sim, gerar impactos psicológicos consideráveis nas pessoas. É inevitável que muitas pessoas estejam sentindo incômodo por não poderem se encontrar pessoalmente (com amigos, parentes...), já que nós somos seres de sociedade, de trocas, de vivências. A grande preocupação agora é que esse enxugamento gera um afetamento muito grande na concepção do nosso eu. Parte das nossas concepções de eu está ligada ao fato de a gente ter essas relações reais, essas habilidades sociais que têm a ver com o que vivemos de concreto, de real”, diz Tatiane.

Existe um risco ainda maior de ocultarmos quem verdadeiramente somos quando nos relacionamos somente através de aplicativos de conversa, das redes sociais, ou até mesmo numa aula de EAD. “Consequentemente, definhamos nossas habilidades psicológicas”, afirma Tatiane. Portanto, nos relacionarmos somente através das novas tecnologias pode ser considerado um malefício. “Pensando pelo lado de que o nosso corpo não sabe viver 80% on-line, a nossa mente sente falta do mundo real”, acrescenta a psicóloga.

 

Educação conectada

Um outro desafio imposto pelas regras de distanciamento social é em relação ao ensino. Como as escolas estão lidando com a situação, tendo que ministrar aulas remotas, uma vez que os alunos não podem estar presentes nas salas de aula? A professora de matemática, Goretti Resende, falou ao JL sobre o assunto. De acordo com ela, a Escola Estadual Assis Resende adotou as aulas EAD e tem como suporte o Plano de Estudo Tutorado (PET). “Trata-se de uma apostila que os alunos recebem, virtualmente ou impressa, para a realização das atividades mensais. O estado oferece a aula através da TV Rede Minas, no YouTube e também no aplicativo Conexão Escola. O serviço que nós professores estamos realizando é tirar dúvidas dos alunos através do WhatsApp, já que cada turma tem um grupo (no aplicativo) para facilitar essa comunicação e também para enviar fotos das atividades feitas”, explica Goretti. De acordo com ela, alguns professores utilizam outras plataformas digitais, como o Zoom e o Google Meet para auxiliar os alunos, mas não é obrigatório, visto que nem todos os alunos possuem internet de qualidade em suas casas.

Na Escola Municipal Paula Assis, no povoado do Ribeirão, zona rural de Resende Costa, onde a professora Goretti também leciona, foram elaboradas apostilas mensais para os alunos realizarem suas atividades escolares. Segundo informou a professora, todos os alunos recebem as apostilas impressas e os professores também estão disponíveis no WhatsApp para esclarecer as eventuais dúvidas dos estudantes.

No entanto, infelizmente, segundo Goretti Resende, o número de alunos da Escola Paula Assis com acesso à internet – justamente por se tratar de uma escola localizada na zona rural – é menor do que entre os estudantes que residem e estudam na cidade. “Na minha opinião, a internet foi um facilitador para o momento, principalmente a ferramenta WhatsApp. Porém, não podemos garantir que o estudante esteja aprendendo e/ou estudando da mesma forma que no ensino presencial, já que vídeoaulas, resumos e áudios não substituem o professor, o quadro e o giz. Além disso, o contato com os colegas e com o professor e? um fator positivo no processo de ensino e aprendizagem. E, no momento, a aprendizagem esta? sendo ofertada de forma individual. Basicamente, cada aluno ‘constrói’ o seu próprio conhecimento”, reflete a professora. Para ela, o uso excessivo da internet por crianças e adolescentes é um fator negativo que foi dimensionado na situação em que vivemos. “É um momento de incertezas, mas quando voltarmos para a escola teremos algumas dificuldades como, por exemplo, fazer com que o estudante fique sentado na sala de aula durante dois ou três horários seguidos. Com certeza, uma nova rotina terá de ser criada para que aos poucos voltemos ao normal. Será uma nova adaptação”, conclui a professora Goretti. 

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