Viver sob a tutela de decretos: liberdade ferida pelo coronavírus


Editorial

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Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, em meados de março, inúmeros decretos foram emitidos em estados e municípios a fim de regulamentar ações preventivas e protetivas das autoridades contra o vírus que está ceifando milhares de vidas no mundo inteiro. Decretos suspendendo aulas, fechando comércios considerados não essenciais, restringindo a circulação de pessoas em locais públicos de grandes aglomerações. De repente, da noite para o dia, a nossa vida ficou submissa à tutela de decretos.

Em Resende Costa, o último dos decretos emitidos até agora regulamenta o uso de máscaras no município por toda a população. O item de proteção individual contra o coronavírus, recomendado por autoridades de saúde e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), passou a ser peça integrante do vestuário de quem transita pelas ruas da cidade; cada um do seu jeito, valendo a criatividade de estilos e cores do assessório que deve cobrir, com eficácia e segurança, o nariz e a boca.

A adesão à mascara foi rápida. As pessoas, de forma geral, têm seguido as orientações da Secretaria Municipal de Saúde e do Comitê de Enfrentamento à Covid-19. Ao observar o movimento na cidade, sobretudo durante o dia, quando se tem mais gente nas ruas, dificilmente se vê alguém sem máscara. Nas filas dos bancos e da casa lotérica, nos caixas dos supermercados e até mesmo dentro dos carros que circulam pela cidade, os resende-costenses estão obedientes às recomendações das autoridades de saúde.

No entanto, ainda há quem ignora os perigos da Covid-19, as recomendações médicas e não segue os protocolos de segurança. Muitos argumentam, por exemplo, que a máscara incomoda e, por isso, não a utilizam. Tema de reportagem especial desta edição do Jornal das Lajes, o uso obrigatório de máscara tem forçado trabalhadores do comércio, de instituições públicas e de saúde a se adaptarem ao novo hábito que, enquanto durar a pandemia, fará parte do nosso dia a dia.

As medidas restritivas que estão sendo exigidas da população, por força de decretos, como, por exemplo, o uso obrigatório de máscara, geram desconforto e, em algumas pessoas, chegam a causar revolta. Afinal, o ser humano não nasceu para ser tutelado e viver sob ordens. É incômodo quando chegamos a uma praça pública, local de convivência, e nos deparamos com tapumes e fitas impedindo a nossa entrada. Significa que não somos bem-vindos ali. É constrangedor o olhar recriminador e inquiridor de seguranças e de agentes sanitários quando nos flagram em alguma situação de “desobediência” às determinações de algum decreto. É irritante escutar pelas ruas das cidades gravações, às vezes com certo tom de dramaticidade, dizendo o que podemos fazer e o que não podemos e/ou não devemos fazer.

O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) afirma que “a liberdade é a capacidade de decidir-se a si mesmo para um determinado agir ou sua omissão”. Isto é, para Aristóteles, é livre e voluntária a ação que não sofre coações. Portanto, até que ponto as medidas restritivas impostas para conter a disseminação do novo coronavírus não ferem a liberdade do cidadão? Sim, ferem. Mas são absolutamente necessárias! Necessárias sobretudo quando ainda encontramos pessoas que não têm compromisso com a cidadania e com a ética e desrespeitam o outro, o próximo e as normas do Estado.

Apesar de ferirem a nossa liberdade – bem mais precioso que possuímos enquanto cidadãos que vivemos e convivemos em uma sociedade democrática de direito –, os decretos (alguns exagerados e autoritários) são necessários para um bem maior, que é cercar e frear a disseminação de um vírus causador de uma doença grave, que para muitos pode ser letal.

O momento atual nos impele a ter paciência, sabedoria, bom senso e fazer valer nossos deveres de cidadãos responsáveis que zelam pelo bem-estar e pela segurança das nossas famílias e da coletividade. Se a ciência nos pede para praticarmos o distanciamento social, ouçamos a voz dos cientistas e sigamos suas recomendações. Se usar máscara colabora com a nossa segurança e com a das pessoas com as quais convivemos, utilizemos a máscara. Ao invés de nos revoltarmos contra decretos e medidas restritivas que, sim, cerceiam a nossa liberdade, olhemos para eles como algo que nesse momento é necessário a fim de protegermos a nossa vida e garantirmos a segurança de quem amamos e queremos bem.

Sejamos cidadãos responsáveis e colaboremos para que a pandemia passe logo e possamos, enfim, gozar novamente da nossa tão estimada e inegociável liberdade!

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