Vocação histórica para o comércio


Editorial

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Ao folhearmos os capítulos da nossa história, que tem seu início na segunda metade do século 18, veremos como Resende Costa se desenvolveu a partir do comércio. O pequeno Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage surgiu no entorno de um cruzamento entre duas estradas utilizadas por tropeiros que cruzavam o local, com sentido ao norte e ao sul da província de Minas e também ao Rio de Janeiro e Goiás (rota conhecida na época como “caminho para o sertão”). Diferentemente de São João del-Rei, Tiradentes, Ouro Preto e outras cidades históricas de Minas Gerais, em Resende Costa não foi encontrada nenhuma lavra de ouro ou de outro metal precioso, mas sua gente se destacou na arte do comércio.

Moradores mais antigos da cidade ainda se lembram de casos contados pelos antepassados que revelam a saga de vendedores e tropeiros que partiam, montados a cavalo, para cidades longínquas vendendo colchas, suprimentos alimentícios, utensílios domésticos e gado. Eram chamados mascates. Surge, portanto, dessas viagens e do vai e vem contínuo de viajantes que pernoitavam no centro do arraial, a vocação da Lage – atual Resende Costa – para o comércio. Hoje a cidade se destaca na produção e comercialização de artesanato feito em tear de madeira – uma arte herdada dos portugueses e que chegou por aqui há mais de 200 anos nas antigas fazendas.

Dos teares rústicos das antigas fazendas, o artesanato produzido em Resende Costa está exposto hoje, em grande diversidade (retalhos, linhas, madeira, ferro, pinturas etc.), em belas lojas. Ao todo, são mais de 80 lojas situadas na avenida Alfredo Penido, entrada da cidade. Porém, é importante destacar que a antiga tradição dos mascates não se perdeu no tempo. Ainda há muitos comerciantes na cidade que viajam frequentemente vendendo roupas, artesanato e outros utensílios.

O Jornal das Lajes traz como destaque desta edição a eleição da nova diretoria da ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa). O leitor poderá perguntar por que dar enfoque a uma eleição de diretoria de associação. Trata-se de uma das associações de maior importância para Resende Costa. A ASSETURC reúne dois segmentos estratégicos para o desenvolvimento do município: o comércio e o turismo. Não é novidade que o artesanato impulsionou os outros setores do comércio e ainda alavancou, diretamente, o turismo na cidade.

As reportagens publicadas nesta edição mostram quanto Resende Costa necessita fortalecer ainda mais o comércio, além de desenvolver e estruturar a indústria do turismo, aproveitando o bom momento do setor na região, especialmente em Tiradentes. E a saída para isso passa pelo associativismo.

Voltando novamente às páginas da história, constataremos que os comerciantes locais se prosperaram sem nenhuma interferência do poder público. Vocação, criatividade, determinação e muito trabalho construíram as bases prósperas do comércio local. Os tempos, porém, são outros. Hoje, há inúmeros e maiores desafios. O mercado se tornou mais competitivo, as crises financeiras assombram com a mesma velocidade do desenvolvimento e o avanço quase que cotidiano da tecnologia nos tira da zona de conforto. Pode-se chamar essa dinâmica de capitalismo.

Se chegamos até aqui, o futuro nos cobra novas e determinantes ações. O comércio de Resende Costa precisa se integrar. Empresários e comerciantes, de todos os setores, devem se conscientizar da importância do associativismo enquanto estratégia para enfrentamento de um mercado competitivo, por que não dizer excludente, que premia os mais fortes e exclui aqueles que não têm fôlego para cumprir as regras (financeiras) determinadas.

Por fim, Resende Costa necessita, sobretudo, do compromisso de suas lideranças políticas com projetos de políticas públicas que visam ao desenvolvimento do comércio e do turismo. Não dá para esperar mais. Se não nos atentarmos para isso, veremos pelas janelas da história um futuro que não aconteceu.

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