Volta às raízes

Caminhada Ecológica “Passos de José” marcou o início das comemorações dos 105 anos de emancipação política de Resende Costa


Cultura

André Eustáquio0

Participantes da Caminhada Ecológica "Passos de José" na chegada aos Campos Gerais.

Resende Costa iniciou as comemorações dos seus 105 anos de emancipação política, neste 2 de junho, onde tudo começou: na Fazenda dos Campos Gerais, ou melhor nas ruínas que restaram da histórica fazenda que pertenceu ao inconfidente capitão José de Resende Costa. O sítio arqueológico foi tombado em 2015 pelo Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura, a pedido do Ministério Público Estadual.

No início da manhã desta sexta-feira, 2 de junho, um grupo de pessoas se reuniu na praça Cônego Cardoso, em frente à estátua de José de Resende Costa, para dar início à Caminhada Ecológica “Passos de José”, em direção aos Campos Gerais. Mochila nas costas, água e muita disposição para enfrentar pouco mais de sete quilômetros que separam a cidade das ruínas da fazenda e da capela de Nossa Senhora do Carmo. Quase duas horas após o início da caminhada, os participantes chegaram ao entorno da capela e foram recebidos com uma retreta da Banda de Música Municipal Santa Cecília, regida pelo maestro Luiz Carlos Assunção Martins Júnior.

 A capela e a padroeira

 Conforme previsto na programação, na chegada da caminhada foi celebrada na capela de Nossa Senhora do Carmo missa em ação de graças pelo aniversário da cidade. Para esta celebração, presidida pelo vigário paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, padre Rodrigo Coimbra, foi levada aos Campos Gerais a histórica imagem de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da capela, que se encontra desde 1992 no museu de arte sacra da paróquia, juntamente com outras imagens que pertencem à capela. Ambas são do século XVIII e pertenceram à ermida da fazenda do inconfidente José de Resende Costa. As belas imagens possuem valor histórico e artístico imensurável.

A emoção de receber a imagem original da padroeira estava estampada nos olhos do sr. Joaquim Procópio da Costa: “Eu me lembro muito desta imagem lá em cima do altar, antes ainda da reforma feita pelo monsenhor Nélson em 1980. É uma alegria muito grande para nós tê-la aqui nesta celebração”, disse o sr. Joaquim que, junto com sua esposa dona Rosilda Costa e seus filhos, zela pela capela.  A missa na pequena capela foi solenemente abrilhantada pela Orquestra e Coro Mater Dei, sob a regência do maestro Wagner Barbosa.

Em seu precioso livro “Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual cidade de Resende Costa”, publicado pela amiRCo em 2014, Juca Chaves (in memoriam) descreve a atual capela dos Campos Gerais, antes da reforma de 1980, que substituiu a antiga ermida de Nossa Senhora do Carmo.

“Construída ao tempo do paroquiato do reverendíssimo padre José Maria Fernandez, pelo senhor Pedro Teodoro de Resende, próximo da família do velho conjurado, conserva a capela, ciosamente, em louvável, repositório das preciosidades históricas, as velhas imagens da ermida, a qual sustém o forro que lhe fora moldado com os cuidados requeridos pela preservação dos objetos de cunho tradicional. O forro, de tinta indelével, ostenta, no centro, uma figura de motivo ignorado, rebuscada, talvez, das páginas da Antiga Lei e, dentre as imagens recolhidas ao templo, nota-se uma imagem de Santa Ana, em pequeno tamanho, a qual sugere o pensamento, tê-la possuído, ao seu culto, a veneranda consorte do capitão Resende Costa pela razão das devoções próprias ao santos onomásticos.

A 21 de abril de 1923, data comemorativa da execução de Tiradentes – vítima consumada das iníquas expiações por que passaram os conjurados mineiros – realizou-se a bênção da capela – templo evocativo de caras tradições de que se tornaram guardiões o culto e zeloso vigário José Maria Fernandez e o distinto cidadão e patriota Pedro Teodoro de Resende. Ao ato, exibiu-se, em bom formato, um retrato do antigo vigário Joaquim Carlos, o qual fez reviver na lembrança de seus conterrâneos e parentes a ele presentes, com lágrimas de emoção e saudades, a figura do santo sacerdote que na fazenda consumiu toda a sua existência, que fora longa em anos e merecimentos”.

Infelizmente, o forro pintado que pertenceu à antiga ermida de Nossa Senhora do Carmo, o qual Jucas Chaves relata em seu texto, se perdeu na reforma de 1980. As imagens de Nossa Senhora do Carmo, Santa Ana, São Sebastião e um crucifixo encontram-se atualmente no museu paroquial de arte sacra.

 Ruínas

 A visita às ruínas da fazenda aconteceu após a celebração da missa. O que restou da histórica fazenda do capitão José de Resende Costa e sua família encontra-se sob rasteira vegetação e arbustos que de certa forma conservaram parcialmente intactos os alicerces da casa e da ermida. Ainda é possível distinguir os contornos da entrada da casa e da capela primitiva. A grande soleira da porta conserva-se intacta.

O sr. Joaquim conta como foi a demolição da casa, em meados da década de 1970: “Eu me lembro muito da casa. Ela tinha 14 cômodos e quatro quartos eram um dentro do outro. Havia portais grandes e que faziam aquela curva no alto. Muito bonito! Quando ela foi desmanchada, as madeiras ficaram no chão e foram cortadas para lenha. Quando batia o machado nos portais, surgia aquela madeira vermelha, boa”, lembra-se ele com sincero pesar.

Os participantes da Caminhada Ecológica “Passos de José” deram um novo passo rumo ao resgate e preservação da história de Resende Costa. A iniciativa da prefeitura municipal, com apoio do Conselho Municipal de Turismo, Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura e Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, marcou as comemorações do aniversário de Resende Costa.

Que esta iniciativa se perpetue e nos próximos anos mais pessoas possam participar da caminhada, podendo trilhar os caminhos onde nasceu um sonho de liberdade e germinou a história de uma família cujos alicerces sustentam há mais de 200 anos a cidade de Resende Costa, ou melhor, a cidade dos Resende Costa (pai e filho).

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