Voltar a todos os posts

Mamão maduro no pé e sabiá morrendo de fome

12 de Junho de 2018, por Cláudio Ruas

Tempos sombrios esses em que estamos vivendo. Quando parece que não tem mais jeito de piorar, o trem piora. Crise pra tudo quanto é lado. Até crise de caráter tem tido por aí, aos montes. Por último, uma das piores crises possíveis, a de abastecimento. E justamente no Brasil, um dos países com mais fartura no mundo! Tá na hora de repensarmos um pouco a vida que estamos levando, não é mesmo?!

Estamos no ano de dois mil e dezoito. Tecnologia pra todo lado. Carros possantes pra andar nas estradas esburacadas. Esmartefones caríssimos que fazem de tudo. Até trazem comida em casa em apenas um clique. Mas, de repente, não adianta pedir comida pelo celular deitado no sofá, porque ela está presa, estragando, lá na roça, sem conseguir chegar à cidade. E também não adianta querer ir atrás dela, porque o carrão não tem gasolina para rodar. Nem pagando uma fortuna por ela. Esse é o mundão “moderno” em que estamos vivendo. Com uma dependência muito frágil, muitas vezes de fatores distantes da nossa vida. Somos reféns de decisões políticas ou comerciais que ocorrem lá do outro lado do planeta. Complicado, né?

Viver amontoados em grandes centros, dependentes de gasolina e distantes da produção de itens básicos de sobrevivência, como alimento e água, parece que não está dando certo. Isso sem contar o sem número de outros problemas, como segurança, trânsito, estresse e por aí vai.  Não é à toa que muita gente tem mudado de vida e o êxodo urbano já se tornou uma realidade para muitas famílias brasileiras – inclusive a minha.

E digo por experiência própria: como é bom não depender ao extremo de um político, de um supermercado ou de um restaurante para poder se alimentar! Quem tem a oportunidade de cultivar uma horta e um pomar e preparar a própria refeição e não o faz, fica escravo do sistema.  Paga caro por isso. Obviamente que nem todos têm essa oportunidade, sobretudo aqueles que vivem engaiolados na cidade grande. Mas um vasinho de salsinha cultivado na janela do apartamento já pode ser um grito de liberdade. Comer, realmente, é um ato político.

O mais triste é que até mesmo em cidades pequenas como Resende Costa, onde as pessoas têm mais espaço para cultivar ou estão mais próximas das roças e lavouras, boa parte da população é dependente de produtos vindos de longe, da Ceasa. E são cada vez mais consumidores vorazes de produtos industrializados.

Aí, de uma hora para outra, vem uma greve lá de longe e vira a vida de cabeça para baixo. Prateleiras vazias, itens básicos faltando e todo mundo desesperado atrás de um gole de gasolina. E que custa cinco reais o litro. Quase cinco vezes o que se paga ao produtor rural pelo litro do leite. Esse sistema é muito cruel. Daí a necessidade de tentarmos fugir dele, nem que seja um pouquinho.

Mas, para isso, precisamos sair da zona de conforto. Abrir a cabeça e se permitir mudar hábitos. Não precisa radicalizar não. Começa devagar. Compra o quiabo do pequeno produtor na feirinha de sábado, ao invés daquele que veio de longe, envenenado. Planta o vasinho de ervas na janela. Pega uma receita na internet de como fazer o próprio iogurte em casa. Desembale menos, descasque mais. Mas ao invés de jogar fora a casca da batata, frita ela e come com sal e páprica picante. Escolha os produtos de época e dê mais atenção praquelas plantas que nascem à toa por aí, que parecem mato mas são comida. Ande mais a pé e de bicicleta, nossa cidade ainda é pequena. Se tiver com racionamento de gasolina, entre na fila somente uma vez para que todos tenham oportunidade de abastecer um pouquinho. Reclame menos. Faça mais.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário