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Casei-me com a garota do telemarketing

23 de Novembro de 2022, por José Antônio

No começo, até que era divertido. Ele já não precisava mais ficar fantasiando sobre quem estaria do outro lado da linha. Agora, a garota do telemarketing almoçava em sua mesa e dormia em sua cama. Ele tinha uma garota do telemarketing somente pra ele.

O início do conúbio foi casual. Ela ligou e ele atendeu. O papo foi rápido, com ofertas da parte dela e recusas da parte dele. Numa outra vez, a conversa andou um pouco mais. Ele acabou comprando o que ela oferecia.

Do casual, passou pro comercial. Do comercial a coisa descambou pro pessoal, do pessoal pro emocional, do emocional pro sexual, do sexual pro conjugal. E aí, já estavam amarrados um no outro, mesmo sem fio.

Antes de se juntarem, era aquele “Bom dia, senhor!” pelo telefone. Tão maquinal quanto abraço de político. Pois você acredita que, embora estivessem casados e morando juntos, ela não perdia a entonação? Com aquela melodia irritante de quem quer obrigar a comprar qualquer coisa que não é necessária, a garota dizia pra ele todo dia: “Bom dia, senhor!...” “Te amo, senhor!...” “Vem pra cama, senhor!...” “Estou quase lá, senhor!...”

Ele achava isso a coisa mais sexy do mundo.

No Dia dos Namorados ele dava flores pra ela. E era aquela coisa de sempre:

– Obrigado por ter se lembrado, senhor! Assim que possível, estarei dando o retorno, senhor. Palavras e atos amorosos estarão sendo enviados à sua pessoa, senhor. Caso o senhor queira mais carinhos, pode estar solicitando por aqui mesmo. Os meus sentimentos agradecem a sua atenção. Tenha um bom dia, senhor!

Sua musa era a diva do gerundivo. Uma gerundiva!

Porém, não é só formatura de jardim de infância que enjoa: o casamento já começava a dar alguns sinais de desgaste. Ela ainda mantinha aquela entonação de boneca a pilha. No entanto, as frases... “Agora não, senhor!... Estou com dor de cabeça, senhor!... Aguarde um minuto, senhor!...”

Que saco! Se soubesse, teria se casado com uma boneca inflável versão robô.

– Mais alguma dúvida, senhor? 

O negócio ficou insuportável quando, numa noite, ali deitados um ao lado do outro... De repente, rolou um clima. Ele, então, tratou de investir sobre ela:

– Agora não, senhor. No momento, meus canais estão todos ocupados, senhor.

Assim também não! Se os canais dela estavam ocupados, o negócio era tomar cuidados com os ramais dele. Você sabe, ramais, ramagem, galhada, galhos...

Estão separados. Já pensou se o conúbio virasse cornúbio?

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