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Eu somos

22 de Novembro de 2023, por José Antônio

A unidade é uma? Ou a unidade é união?

 A mesma coisa, sempre a mesma coisa, tende a nos levar à monotonia. A própria palavra “monotonia” já traz a ideia da unidade que cansa, pois não varia. É a chatice do único (mono) tom (tonia).

Somos apegados ao um. Visceralmente apegados a ponto de já estarmos adaptados a ele. Temos um só corpo... somos um indivíduo... queremos ter um alguém só para nós... queremos ser o único para alguém...

Parece que a coisa vem desde criança: “Era uma vez...” (e não mais de uma)

Há razões para esse apego ao um. Acredito que sim. Existe a sensação prazerosa da diferença que faz a diferença. Só eu sou assim! Só você me satisfaz! Somente eu estou em seu coração! Somente eu toco esse instrumento dessa maneira!  Apenas eu, somente eu, falo desse jeito!

Quanta ilusão! Mesmo no um, a variedade subsiste de forma sutil. Para eu ser tido como único, é necessário que se considere que há o outro para depois negá-lo. Se existe um é porque existe o dois.

Mais de uma tonalidade já é suficiente para conferir às cores variadas combinações. E cada combinação aparece como se fosse uma só cor. Porém, na verdade, são diferentes cores que se mesclaram para que aquela nova aparecesse como sendo uma.

Por isso é importante a consciência de que a sensação de único é um tanto ilusória, uma vez que tudo é combinação de tudo. Até o átomo é assim. Até cada cor é assim. Até cada corpo é assim.

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Mas, para ser rei, é preciso ter os súditos. Logo, o rei não é único. Nem mesmo Adão foi o dono da primeira palavra, pois, antes dele, Deus já havia falado. Quanta inocência cega nas frases que cultuam o um. Para os arrogantes, o “um” passa a ser artigo definido, pois se refere somente, só, apenas ao um que se autoproclama a fonte inesgotável da unidade. 

Eu sou um porque sou o melhor. Será?  Não sei se tudo é questão de comparação ou de oportunidade. Se oportunidades fossem dadas a outros, o um passaria a ser o outro e o outro passaria a ser o um.

E aí você me objeta: “Mas e as impressões digitais? Sou o único que tenho as que tenho.”

E aí eu pondero como burro velho: “Você já estudou satisfatoriamente sobre clonagem?”

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