Guerras são cenários tão devastadores para os soldados, os que estão na linha de frente, quanto para os civis, as vítimas em potencial expostas forçadamente a toda forma de violência. Para os jornalistas presentes no local dos conflitos a situação é de medo, o que é compreensível. E de enfrentamento também.
No passado, entre os profissionais brasileiros que foram à luta, fazendo seu trabalho em circunstâncias de grave excepcionalidade, José Hamílton Ribeiro (1935) e Joel Silveira (1918-2007) são nomes de referência. Zé Hamílton, que mora hoje numa fazenda em Uberaba, perdeu a perna esquerda na explosão de uma mina terrestre quando fazia a cobertura da Guerra do Vietnã (1968) para a revista Realidade (1966-1976). Silveira, aos 26 anos, como enviado especial pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, cobriu a Segunda Guerra Mundial junto à F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira) na Itália.
Hoje, mesmo quando se acompanha o noticiário sobre os confrontos armados pelo mundo praticamente em tempo real, não é possível calcular o grau de perigo a que estão expostos, no epicentro dos acontecimentos, os responsáveis pela produção das matérias que chegam até nós. Mas eles estão lá numa força-tarefa de profissionais que se arriscam no cumprimento do ofício,
A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas deu visibilidade popular à jornalista Paola De Orte, correspondente brasileira no Oriente Médio do Grupo Globo. Já trabalhando sozinha para a Globo News e o jornal O Globo, a partir de Tel Aviv (capital israelense), com os ataques terroristas de 7 de outubro último e seus desdobramentos, Paola, jovem rosto novo da TV aberta global, alcança agora grande projeção pela competência e coragem no exercício de suas funções.
Outro profissional que vem se destacando há um bom tempo, especificamente em trabalhos envolvendo guerras, é Gabriel Chaim. Fotógrafo e cinegrafista independente, o paraense Chaim é especializado em registrar áreas de conflito. Faz trabalhos frequentes para a CNN, Spiegel TV (alemã) e Globo e já recebeu prêmios internacionais importantes, além de indicação ao Emmy. Numa entrevista à rede de notícias americana CNN, referindo-se à cobertura que fez das lutas no país do ditador sírio Bashar Al-Assad, disse achar importante que as pessoas conheçam a história da Síria: “Eu não desejo que ninguém veja o que eu vi, mas, por outro lado, as pessoas devem parar de pensar em si mesmas e de olhar a vida apenas através de sua própria experiência. O mundo não é tão bonito quanto queremos acreditar”. Para quem esteve ainda na Ucrânia e chegou antes do avanço dos militares russos sobre o território ucraniano, seu trabalho é uma missão, um significado importante que quis dar à própria vida.
Mais do que destacar a observância do dever profissional dos que se posicionam no front, consequentemente agindo em condições totalmente adversas e considerando aqui a atuação corajosa dos repórteres, é preciso destacar sobretudo a observância do dever humanitário dos que se posicionam em outras zonas conflituosas e/ou atingidas por tragédias naturais e agindo nas mesmas condições, considerando aqui e agora o grande contingente dos voluntários. É inevitável dizer que as causas que abraçam são absolutamente necessárias. Assim entendem eles e por isso podem ser capazes de ir aonde qualquer forma de ajuda é essencial.
Milton Steinman é alguém com esse perfil. Cirurgião-geral no paulistano Hospital Israelita Albert Einstein, o brasileiro é especialista no atendimento a vítimas de situações extremas. Steinman viajou para o Haiti em 2010 após o terremoto que destruiu o país. Na Ucrânia em guerra, passou quinze dias numa cidadezinha onde foi montado um hospital de companha. Entre atendimento e treinamento de outros médicos, ele, por várias vezes ao dia, e os demais desceram aos bunkers (abrigos subterrâneos) por causa dos riscos. “Ser médico de desastres é um chamado”, assim define Miltona motivação para propósito tão desafiador.
Para ele e outros tantos, o que fazem é de valer a pena o risco que correm nesses campos de batalha.