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Os dons do Tião

28 de Junho de 2023, por Regina Coelho

Tião e o touro Atrevido (foto arquivo pessoal)

Pintura, Girafa, Mansinha, Fumaça, Linda, Suíça, Roxinha, Crioula, Serena e Cigana – esse é o time atual escalado pelo Tião do Neném para estar no campo com ele todo dia. No campo exatamente não, mas no curral onde era o retiro do Chicão Mendes, na Várzea, e hoje é do Marcos Paulo, que, assim como o pai fazia, aluga o terreno para o Tião. “E o movimento é meu”, afirma. E já que vaca desconhece fim de semana, feriado ou folga, de segunda a segunda, o nosso amigo retireiro também está lá no serviço, bem no começo da manhã,5, 5 e meia, pois é hora da primeira ordenha. A outra é à tarde, ambas feitas “na mão”. Dois também são os horários de alimentação, com o volumoso: capim picado na máquina com a mistura do fubá já nas cocheiras. Para as vacas em lactação é oferecido o farelo de soja. O Atrevido, correndo por fora e cumprindo sua função de touro, não faz jus ao nome que ganhou do dono, que até monta nele. “Apenas” mais ou menos 25 arrobas de compostura e mansidão.

“Comecei no retiro com 12 anos, no retiro do Chicão. Estudei até a 5ª série. Saí da escola e fui trabalhar. Larguei o serviço no Chicão e fui trabalhar numas firmas aí pra fora. No Rio das Mortes (distrito de São João del-Rei), na Alcindo Convap (Construtora), depois, na mesma firma, fui pro Rio de Janeiro, em Resende. Lá trabalhava como ajudante de cozinha, fichado. Não deu certo porque o dom é vaca. E voltei pra Resende Costa”, resume o Tião seu começo de vida profissional.

E voltou também para o retiro, dessa vez, trabalhando perto daqui, na zona rural de Coronel Xavier Chaves, especificamente na Fazenda Esperança, dos mesmos proprietários da Fiação e Tecelagem João Lombardi, da vizinha São João, onde ficou por 18 anos.

Definitivamente em Resende Costa, uma outra etapa em sua trajetória teve início no ano 2000 quando começou a trabalhar por conta própria ao alugar o mesmo terreno dos seus tempos de menino já na lida. E veio em 2016 a sua tão aguardada aposentadoria. Com ela, uma resolução importante: fazer uma doação diária de 10 litros de leite ao Hospital Nossa Senhora do Rosário em agradecimento a Deus por ter se aposentado. Na época, a Diretora do nosso Hospital era a Irmã Aparecida, que não recusaria aquela oferta, no entanto, teve de achar um jeito de fazer o leite chegar ao destino que o Tião queria ao ouvir dele que não tinha condições de levá-lo pessoalmente. Probleminha solucionado. A salvação veio através do Dudu da Vanilde, que é funcionário da instituição camiliana, e desde então carrega nos braços as duas latas compradas pela Irmã Aparecida para buscar o leitinho precioso de cada dia. Às vezes, o Sidney do Camilo do açougue, na moto, se reveza com ele. E aos domingos, de carro, o trabalho é das Irmãs.

Sobre o que representa para o Tião a doação desse leite, não poderia haver satisfação maior: “pra mim é minha realização de vida, sai do fundo do coração, me sinto gratificado com Deus”, declara com entusiasmo. Da mesma forma, diz ser uma pessoa feliz por se sentir “realizado, realizadíssimo” e arremata com estas palavras seu sentimento: “tô cumprindo meu papel na Terra, graças a Deus!”.

José Sebastião de Oliveira, o Tião do Neném, 66 anos, é casado com Sildes Aparecida Fernandes, do Ribeirão. Tem 2 filhos, o Zé Nélson e a Mônica (Moninha), considerados orgulhosamente pelo pai como “maravilhosos”. E é com naturalidade que ele afirma frequentar o A.A. há 26 anos, pois teve problema com bebida, e acrescenta ter largado o cigarro há 12. Muito sábio, ensina que “o ser humano não pode viver com raiva, egoísmo, preguiça e inveja”. E que “a vida tem que ter um sentido”.

Para o Tião, que adora pescar, sua saúde é mexer com criação. E o trabalho, uma terapia para a mente. A doação diária do leite ao Hospital, uma alegria. Alegria nossa também é ver alguém levar a vida com dignidade e praticando a generosidade.

“Amo Resende Costa, meu berço de vida”, finaliza ele, embalando boas realizações por aí no ritmo desse seu alegre coração resende-costense.

 

Agradeço ao meu irmão José Celso a sugestão para a produção da presente matéria.

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