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Papai Noel

20 de Dezembro de 2023, por Regina Coelho

é inevitável. Falar em Natal é recorrer automaticamente à imagem do Papai Noel, uma das representações mais emblemáticas da festa em que, de acordo com os preceitos do cristianismo, comemora-se o nascimento de Jesus. O aniversariante é o Deus-Menino, mas quem tem ruidosa e onipresente participação nos festejos de todo final de ano é ele, o Bom Velhinho.

Sabe-se, sob o ponto de vista cristão, que a origem desse personagem está intimamente ligada à figura de São Nicolau de Mira, um bispo nascido na Turquia em 280 d.C. que ajudava as pessoas carentes. O que se conta, entre outras coisas, é que esse santo deixava moedas perto das chaminés das casas dos menos favorecidos durante a noite. A descrição física que se tem dele é a de um homem idoso, com roupas vermelhas e uma grande barba branca, praticamente um protótipo do Papai Noel de hoje, também pela generosidade.

Quanto à ficcional criatura desenhada originalmente pelo cartunista Thomas Nast em 1862, ela nem sempre foi assim. Até 1931, o queridinho das crianças era descrito como um homem alto e magro, ou até mesmo como um duende de aparência assustadora, com uma batina de bispo e uma pele de animal de caça. Transformações visuais efetuadas ao longo dos anos à parte, inclusive com a substituição desse traje pelo agora tradicionalíssimo casaco vermelho, credita-se às campanhas publicitárias de Natal da Coca-Cola nas décadas de 1920 e 1930 e atreladas à figura de Papai Noel a consolidação desse “garoto propaganda”, literalmente também de peso, tal qual o vemos já há bastante tempo.

Para muito além da sua simples configuração humana, há um aspecto relevante envolvendo a relação das crianças com esse senhorzinho boa gente, risonho e bonachão. Na infância, até por incentivo dos pais e, sem dúvida, por influência direta da sociedade de consumo como um todo, os pequenos são levados a acreditar na existência real do Papai. Segundo especialistas do comportamento humano, a crença em mitos é saudável até perto da pré-adolescência, uma vez que o faz de conta é um artifício positivo para o desenvolvimento das crianças. E não se deve abreviar esse caminho desfazendo as fantasias naturais do mundo infantil. Por outro lado, advertem que fantasia tem limite, pois a criança não pode ficar fechada o tempo todo em seu mundinho imaginário. E aí? Eis a questão.

Li, faz uns poucos anos, uma matéria a respeito de uma pesquisa na qual se analisou o relato de cerca de quatro mil pessoas, em diversos países, sobre o momento em que descobriram que o morador do Polo Norte, seus trenós e suas renas não passam de uma lenda. De acordo com o autor do projeto, Chris Boyle (psicólogo britânico), 15% dos entrevistados admitiram ter sentido raiva diante da descoberta. E três em cada dez participantes do estudo disseram que à época da revelação passaram a confiar menos nos adultos.

“Recebi histórias muito interessantes sobre meninos que perceberam que Papai Noel não existia ao ver que sua caligrafia é a mesma de seu pai ou da mãe. Também há meninos que perguntam como um homem gordo pode descer pela chaminé ou por que um estranho pode entrar em casa. Além disso, os pais não são capazes de dizer por que as crianças ricas recebem presentes melhores do que as pobres”, comentou Boyle, cujo estudo revela ainda que, em média, crianças perdem a fé nesse senhor em forma de bondade aos oito anos.

De qualquer maneira, tão acostumados à aguardada chegada do Papai Noel com seu enorme saco de presentes para a criançada, em especial e a cada Natal, permitamos que ele se faça presente entre todos, vá lá, como uma brincadeira saudável e, de fato e acima de tudo, como um símbolo dos indispensáveis propósitos de alegria e solidariedade que devem nortear a nossa vida.

Fabular é preciso, mas há beleza real no entorno das nossas fantasias. E, se viver é mesmo melhor do que sonhar, como diz o poeta, saibamos enxergá-la por aí.

Desejo aos leitores do Jornal das Lajes um Natal de paz.

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