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Um nome pra chamar de seu

29 de Marco de 2023, por Regina Coelho

Diante da recusa inicial pelo Cartório de Registro Civil do 28º Subdistrito de São Paulo (capital) ao prenome “Samba”, escolhido para o quarto filho, que nasceu recentemente, o cantor Seu Jorge conseguiu finalmente autorização na justiça para registrar o menino conforme queria.

Do quimbundo (língua dos indígenas bantos de Angola) semba, samba é dança, é ritmo, também a música que acompanha essa dança. Como nome próprio a ser dado a alguém, não é usual, mas também não é ofensivo. Pelo contrário, em se tratando da opção de Seu Jorge e namorada pelas razões que apresentaram com base na preservação de vínculos africanos e restauração com suas (dele) origens eno estudo do caso, que mostrou a existência desse nome em outros países. Final feliz para essa história.

Felicidade também é ter uma filhinha e escolher para ela como nome um sinônimo para esse sentimento: Alegria. Vi há pouco tempo na TV em matéria, salvo engano, sobre vacinação infantil, a pequena Alegria de mãos dadas com a mãe. Nos meus tempos de faculdade em Lafaiete, fui colega da Elizabeth Taylor, logicamente, não da famosa atriz britânica (1932-2011) de faiscantes olhos cor de violeta. Nas duas situações, os nomes carregam um certo peso para suas donas. Da menina espera-se que seja sempre alegre; da moça, que pelo menos lembre a beleza de Liz Taylor.

De acordo com o escritor gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011), “os nomes são recados dos pais para os filhos e são como ordens a serem cumpridas para o resto da vida”. A propósito, “Moacyr” quer dizer “filho da dor”. Aliás, observar o significado da palavra que será uma marca forte na vida toda da pessoa é um dos motivos na escolha desse nome. De outra forma, há o gosto por prenomes tidos como os da moda, portanto, datados, formando gerações de homônimos. Existem aqueles que são inspirados na Bíblia, os herdados de parentes, alguém em especial da família, ou mesmo os escolhidos em homenagem a ídolos famosos ou em pagamento de promessa religiosa a algum(a) santo(a).

Meu avô materno, Alcides Lara, na intenção de homenagear a mãe, fez questão de registrar uma das filhas com o nome dela, vencendo a objeção da mulher (vovó Zezé) ao nome, digamos, estranho da homenageada. E nessa, tia Custódia foi a contemplada. E provou que as pessoas é que fazem os nomes que têm, as duas xarás lindas e muito queridas. E foi usando denominações de flores, segundo gostava de lembrar minha mãe, que um casal, certa época, fez “florescer” aqui na cidade sua família formada por Rosa, Margarida, Violeta, Hortênsia e Jacinto. Sem dona Olga para me socorrer nos detalhes dessa narrativa, não sei dizer se esse “ramalhete” está completo.

Ruim mesmo foi o que teria ocorrido com Nostratateladenina ao nascer. Mais tarde, já aluna de uma universidade do Sul do país e diante da decisão de uma professora de não chamá-la pelo nome em sala de aula (para evitar zoações), e um dia, quando estavam a sós, querer saber dela o porquê de se chamar Nostratateladenina, a moça desabafou: “Erro de cartório, bah! Quando meu pai foi me registrar, o escrivão perguntou como eu me chamava. Papai respondeu: ‘Nós trata ela de Nina”.

Parece piada isso, mas me foi contado como sendo real.

Engraçado foi o que aconteceu, certa feita, numa agência bancária de BH. Ao chegar até um segurança, um rapaz disse a ele: “Celuta, por favor?” E ele: “Já lutei, mas hoje tô meio parado”. Esclarecimento: o outro estava apenas querendo saber onde encontrar a funcionária chamada Celuta.

Sobre tudo isso, tenho da infância uma especial lembrança. Já começando a frequentar missa na Matriz de N.S. da Penha, muitas vezes sem a concentração necessária ao que o Padre Nélson rezava ou pregava, eu me distraía, quase sempre olhando o teto da igreja até ver/ler o que julgava ser, praticamente, meu nome escrito no centro de uma bonita pintura: “Regina Coeli (pronúncia: Redgína Tchéli), Laetare, Alleluia”. “Rainha do Céu, Alegrai-vos, Aleluia” é a tradução da legenda (do latim), referência a uma oração em honra a Nossa Senhora.

Rainha de nada sou eu, mas feliz com meu nome.

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