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Deixem

24 de Maio de 2023, por João Bosco Teixeira

Domingo, 30 de abril, dez horas da manhã: final da Superliga Masculina de Vôlei. Dois grandes times, ambos de Minas Gerais, que haviam derrotado, nas semifinais, equipes de São Paulo. Mais uma vez tivemos uma final “pão de queijo”.

O Itambé/Minas fez uma superliga irregular.  Aos poucos foi que conseguiu alcançar o patamar que muitas vezes lhe coube. Chegou à final.

O Sada/Cruzeiro, embora tivesse perdido seu talvez maior expoente, durante a competição, encabeçou sempre a classificação. E a final lhe era devida.

Para orgulho de Minas e dos mineiros, duas grandes equipes. Mas, na verdade, uma melhor que a outra. Uma diferença tão acentuada que a ninguém passou desapercebida. E, coisa mais notável ainda: a melhor equipe, do Sada/Cruzeiro, entrou em campo como se estivesse disputando a taça pela primeira vez. Que garra! Que luta! Que aplicação! Em consequência: sobrou em quadra e, mais ainda, não deixou o Minas jogar. Literalmente, o Itambé/Minas não conseguiu jogar.

Apaixonado pelo esporte, até porque sou educador – e acho que só isso tenho sido na vida –, fica para mim, dessa disputa final no vôlei masculino, uma lição nada desprezível: em quantas circunstâncias, em quantos momentos da vida, pessoas, reconhecidamente brilhantes, ou ocupantes de postos com poder próprio inalienável, não deixam que seus subordinados, ou outros que com elas convivam... vivam. Que experimentem quanto é difícil o viver.

A disputa final do título da Superliga Masculina de Vôlei era uma competição em que vencer era essencial, isto é, derrotar o adversário.

Na vida, é diferente. Quando na vida se estabelece a competição, quando na vida para vencer é preciso derrotar alguém, a competição estabelecida se constitui em erro imperdoável.

O esporte faz parte da vida. A vida, porém, não se reduz ao esporte. O esporte é notável recurso para o processo educativo. Este, no entanto, vai bem além da beleza e importância do esporte. O esporte é boa ocasião para que se aprenda a lidar com a frustração. Mas, na vida, a frustração não pode significar derrota. A meu ver, pois, é preciso eliminar do processo educativo qualquer competição, dado que se lida com gente diversificada em suas aptidões. A única competição possível em educação é aquela estabelecida entre uma pessoa e ela mesma. Ela consigo mesma.

Como se erra quando no trabalho, na experiência religiosa, na busca da felicidade, da liberdade, estabelece-se quase como que uma competição entre os vários atores da vida: o pai que não deixa o filho viver – blinda de tal modo o filho que não lhe sobra espaço para viver; o professor que não deixa o aluno aprender – quer lhe ensinar tudo; o padre que não deixa o fiel duvidar, cobra dele sempre  uma fé inabalável; o instrutor do esporte que  não admite uma queda da bicicleta, a perda de uma penalidade máxima, o salto mal executado – quer seus aprendizes longe do risco.  

Viver é perigoso.  Mas, “deixem-me viver”.

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